Reencontro do Maracanã com a Copa do Mundo terá clima de Bombonera
Mauricio Stycer
Do UOL, no Rio
Depois de 64 anos, o Maracanã volta a sediar uma partida de Copa do Mundo neste domingo (15). Por ironia, o ambiente vai lembrar um estádio-símbolo dos maiores rivais dos brasileiros. A Argentina, que enfrenta a Bósnia, às 19h, pela primeira rodada do grupo E, contará com o apoio de cerca de 20 mil conterrâneos dentro do estádio.
A invasão dos "hermanos" já deixou Copacabana com cara de Palermo, tradicional bairro de Buenos Aires. Segundo a embaixada da Argentina, há 50 mil cidadãos do país no Rio neste fim de semana. Destes, de 30% a a 40% têm ingressos para o jogo.
São tantos argentinos no bairro, que o consulado do país estacionou uma van perto do hotel Copacabana Palace para dar atendimento emergencial aos turistas. Os casos mais comuns são de perda ou roubo de documentos. Neste domingo, a van vai se deslocar para as proximidades do Maracanã.
O UOL Esporte conversou com dezenas de argentinos nos últimos dias. Os "sem-ingresso" relatam que cambistas estão vendendo entradas que custam R$ 300,00 por impagáveis R$ 2.200,00. Ou mais.
É o caso, por exemplo, de Patrick Preumaier e três amigos de Rosário, que viajaram num "motor home". Assando um churrasco no alto do carro, estacionado na avenida Atlântica, ele conta: "Vamos assistir na Fan Fest mesmo".
Os argentinos, em sua grande maioria, circulam com a camisa da seleção. Muitos também vestem camisas de times – Boca Juniors, River Plate, Velez Sarsfield. "Não tem problema nenhum. Os brasileiros não falam nada", diz Carlos Torres, vestindo a do Independiente.
Em compensação, os "hermanos" não cansam de provocar os brasileiros com seus gritos de guerra e canções. Durante toda a tarde de sábado, concentrados em um ponto da avenida Atlântica, cerca de mil "hinchas" gritavam sem parar: "Brasileiro, brasileiro, que amargo você é. Maradona é maior, é maior do que Pelé".
Uma música que lembra a vitória da seleção argentina sobre a brasileira na Copa de 90 também faz muito sucesso: "Brasil, diga-me o que você sente? Eu juro que não esqueci do passe de Maradona e do gol de Cannigia. Vocês estão chorando desde 1990".
Larissa Salina, nascida em Buenos Aires, mas vivendo no Rio há três anos, vestiu o bebê, Benicio, de três meses, com a camisa da seleção e foi para a praia ver o movimento. "Nunca vi tanto argentino no Rio".
Faixas em homenagem a Maradona e Messi se espalham pela orla. "Movimento maradoniano de libertação nacional", dizia uma. Marcello Ckelo e outros dois amigos pretendem entrar no Maracanã com uma em homenagem ao atual camisa 10 da seleção, "o maior do mundo". O trio está hospedado em uma pousada em Buzios. "Os preços no Rio estão altos demais", reclama. "Uma caipirinha por R$ 20… Não dá".
Os brasileiros ainda não fizeram nas ruas, nesta Copa, uma festa com a animação que os argentinos demonstraram em Copacabana na véspera da estreia da seleção. "Argentina, se morasse no céu, eu morreria para te ver jogar", dizia uma faixa.