Brasil começa sua Copa sem protagonista fora de campo

Ricardo Perrone

Do UOL, em Teresópolis

Dentro de campo a vitória veio. Fora dele, a Copa do Mundo começou sem que o Brasil tenha um protagonista, alguém capaz de deixar sua imagem ligada ao evento e lhe emprestar credibilidade. Desgastes enfrentados por dirigentes, políticos e ex-jogadores provocam essa situação.

Nesse cenário, o país não tem uma figura como o ex-jogador Franz Beckenbauer, presidente do Comitê Organizador da Copa de 2006. O alemão se desdobrou para assistir à maioria dos jogos no Mundial de seu país. Nesta sexta, ele foi suspenso por 90 dias pela Fifa por ter se recusado a prestar depoimento sobre suspeita de compra de votos na escolha do Qatar como sede da Copa de 2022.

Em 2010, na África do Sul, o presidente do Comitê Organizador Local, Danny Jordaan, não era uma estrela, mas dava entrevistas quase que diariamente e aparecia em jogos de diversas seleções. E os sul-africanos também tiveram na cerimônia de encerramento da Copa uma aparição histórica de Nelson Mandela, que morreu no ano passado.

No Mundial brasileiro, no entanto, José Maria Marin foi figurante na abertura. E também não ganhou os holofotes no segundo dia de jogos. E nem deve ganhar. O brasileiro não goza de prestígio com a cúpula da Fifa. Nos bastidores é visto como um cartola que comete gafes e se envolve em outras situações constrangedoras, como quando ficou com uma medalha de campeão na final da Copa São Paulo de 2012. Na ocasião, ele inda não presidia o COL e a CBF.

O próprio Marin não demonstra intenção de ser protagonista do Mundial. Apesar de presidir o Comitê Organizador Local, por mais de uma vez o dirigente disse que sua preocupação é com a seleção brasileira.

Carismático e próximo de Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, o ex-jogador Ronaldo poderia cobrir a lacuna deixada por Marin, pois é membro do COL. Mas ele decidiu trabalhar como comentarista da Globo, missão que o impede de ser o rosto do comitê durante a competição.

Por sua vez, Dilma Rousseff foi vaiada e ofendida durante a abertura da Copa, mesmo procurando ser discreta. Nem discurso ela fez. A agenda da presidente, por enquanto, não prevê a ida a outro jogo, apesar de sua assessoria ter anunciado que ela assistiria ao confronto entre Portugal e Alemanha. "Não serão xingamentos que vão me intimidar, me atemorizar. Eu não me abaterei por isso", disse Dilma durante discurso nesta sexta em referência aos xingamentos na partida entre Brasil e Croácia.

Nem o antecessor dela e grande padrinho da Copa no Brasil estará presente. O ex-presidente Lula não foi ao jogo inaugural em Itaquera, no estádio que também apadrinhou, e declarou que não pretende ir a jogos do Mundial. Prefere assistir pela TV em casa.

Outro que não foi à abertura e que não tem presença programada em outros jogos é Pelé. Segundo a assessoria do ex-jogador, pela primeira vez ele não tem compromissos com nenhum de seus patrocinadores durante uma Copa do Mundo. Por isso optou por assistir à partida de abertura na casa de sua mãe. Pretende descansar e conviver com familiares durante o Mundial inteiro.

Ainda de acordo com sua assessoria, Pelé recebeu diversos convites para ir à abertura da Copa, mas manteve a decisão de ficar distante.

No auge dos conflitos entre a Fifa e o Governo Federal, o Rei do Futebol havia sido escolhido por Dilma para ser o representante dela na Copa do Mundo. Ele chegou a fazer aparições com a presidente, gravou três propagandas governamentais para a TV sobre a Copa e encerrou sua participação. Antes, a relação entre Pelé e o Governo havia se desgastado porque ele não foi ao jogo de abertura da Copa das Confederações. Teria a missão de ficar ao lado de Dilma, que não queria ficar entre Marin e Joseph Blatter. Sozinha no meio dos cartolas, a presidente foi vaiada no Estádio Nacional de Brasília, antes de Brasil x Japão.

Com tantas cartas fora do baralho, o mais provável é que a Copa no Brasil termine sem um personagem que tenha sua imagem eternamente associada à competição.

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