O emprego mais difícil do mundo? Espanha terá 3º intérprete em uma semana
Guilherme Palenzuela
Do UOL, em Curitiba
"Nós vamos procurar outro porque os que tivemos até agora não nos agradaram". Essa foi a resposta do departamento de comunicação da seleção espanhola quando questionada na tarde de quarta-feira sobre o que pensava dos repetidos e quase absurdos erros de tradução feitos pelos intérpretes que participaram de três entrevistas coletivas no CT do Caju, em Curitiba, durante os primeiros dias de preparação da atual campeã mundial. Em quatro dias no Brasil, a Espanha terá seu terceiro intérprete. Mas os dois que atuaram nos últimos dias se defendem.
A declaração sobre a busca por um terceiro intérprete foi feita durante o treino fechado de quarta-feira, antes da viagem dos espanhóis para Salvador, onde enfrentam a Holanda, na sexta-feira. A lógica é que o novo intérprete atue já nesta quinta-feira neste trabalho que parece não ser tão fácil quanto se pensa. E será importante: falarão o técnico Vicente Del Bosque e o goleiro e capitão Iker Casillas na véspera da partida.
Os dois tradutores que não agradaram ao departamento de comunicação da seleção espanhola citam alguns argumentos para se defender. Erros graves foram cometidos de segunda a quarta-feira em Curitiba, mas, segundo eles, resultantes de um sistema de áudio que não lhes permite ouvir o que os jogadores da mesa, a poucos metros de onde sentam, estão dizendo.
Na segunda-feira foi à mesa o curitibano Thomas Hecke, de 51 anos. Ele trabalha com turismo e tradução, e até acompanha uma equipe de jornalistas espanhóis em Curitiba. Hecke tem espanhol impecável, fez a tradução como um favor – diz que não recebeu qualquer centavo por dois dias de serviço –, mas acabou virando protagonista de uma sala de imprensa que esperava falar sobre o meia David Silva e o zagueiro Raul Albiol, palestrantes do dia. Um jornalista espanhol peguntou a Albiol sobre a bola da Copa, "balón" em espanhol, que para o intérprete pareceu ser "valor". Pergunta e resposta tiveram traduções fantasiosas. Ao falar sobre as cores das camisas da Espanha, ao repassar uma das respostas, o intérprete traduziu "rojo" (vermelho) para "roxo". E praticamente todas as respostas tiveram conteúdo e sentido alterado.
Na terça-feira, o mesmo intérprete trabalhou e não cometeu erros. Tirou um pouco do conteúdo das respostas na tradução, no entanto. E ainda contou com a ajuda do volante Sergio Busquets, do Barcelona, que em alguns momentos serviu como auxiliar. O jogador riu da situação.
Na quarta-feira, a Espanha contratou uma nova intérprete. Os problemas continuaram. Respostas dos volantes Javi Martínez e Koke, de um minuto de duração, foram traduzidas em 10 segundos. Não houve alteração de sentido nas respostas, como no primeiro dia, mas o conteúdo se perdeu. Houve erros graves, como o equívoco ao chamar o atacante brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa de "David Costa", além de outras dificuldades relacionados a jargões do futebol. A intérprete conversou com a reportagem após a coletiva, mas não se identificou. O primeiro intérprete, Thomas Hecke, recusou atuar na quarta-feira por conta da repercussão.
O assunto acabou se tornando a polêmica das conversas entre jornalistas brasileiros e espanhóis no CT do Caju. A opinião da enorme maioria é que as traduções deveriam ser dispensadas, pois a atuação do intérprete tira o tempo que poderia estar sendo usado para mais repórteres peguntarem aos jogadores, e acaba gerando problemas como os encontrados nos primeiros três dias.