Copa estimula publicação recorde de 137 livros sobre futebol

Mauricio Stycer

Do UOL, em São Paulo

Nos primeiros cinco meses de 2014, foram publicados no Brasil 137 livros com temática relacionada ao futebol (veja a lista completa). Além destes, outros oito foram lançados apenas em versão eletrônica. 

Esse número, perto dos 150 títulos, é recorde histórico no mercado editorial brasileiro. Segundo Ademir Takara, bibliotecário do Museu do Futebol, a publicação de livros de futebol tem crescido bastante nos últimos 30 anos, mas nada se compara ao que ocorreu no primeiro semestre de 2014, tempo de Copa do Mundo no Brasil.
 
A pedido do UOL Esporte, Takara e o pesquisador Domingos D´Angelo, ambos integrantes do Memofut, um grupo dedicado à literatura e memória do futebol, detalharam um levantamento que fizeram dos títulos já publicados este ano. Do total de 137 títulos,  21 se referem a obras sobre histórias de clubes, do Palmeiras, do Ceará e do Flamengo, entre outros. É a principal tendência do mercado.
 
Obras de caráter acadêmico (sociologia, antropologia, psicologia) também respondem por um volume grande, seguidos por biografias, reunião de crônicas e, naturalmente, obras sobre a Copa do Mundo.
 
A lista de D´Angelo e Takara não inclui dois livros publicados por jornalistas brasileiros no exterior. Um deles, de Fernando Duarte, colaborador do UOL, se intitula "Shocking Brazil - Six Games that Shook the World Cup". O outro, de autoria do jornalista Mauricio Savarese, em parceria com Euan Marshall, é uma espécie de guia para estrangeiros, intitulado " A to Zico: An alphabet of Brazilian football"
 
A lista pode ser vista aqui. O autores advertem que, apesar dos esforços, têm consciência que podem ter deixado de incluir alguns títulos. Abaixo uma entrevista com os pesquisadores D´Angelo e Takara sobre o assunto:
 
UOL Esporte -- É possível dizer que nunca tantos livros sobre futebol foram lançados em tão pouco tempo? Já ocorreu fenômeno parecido no mercado editorial brasileiro?
Domingos D´Angelo -- Nos últimos anos tem ocorrido um aumento considerável de edição com o tema. Em ano de Copa do Mundo, normalmente há um acréscimo. Nos últimos anos o tema tem merecido uma maior atenção. Talvez se possa criticar, que muitas vezes são edições de "oportunidade". É preciso separar o "joio do trigo".
Ademir Takara -- No século 21, somente nos anos de 2001 e 2007 não foi ultrapassada a marca de 100 títulos publicados (68 e 91 respectivamente). No período entre 1991 e 2000 foram 523 títulos, média de 52 títulos por ano. Com base nesses números acredito que o futebol encontrou seu espaço dentro do mercado editorial. Copa do Mundo ainda é muito forte para alavancar os lançamentos, mas atualmente não é mais a única motivação.
Ludopédio
Ademir Takara e Domingos D'Angelo integram grupo ligado à memória do futebol
 
O que mais chama a atenção de vocês na lista?
D´Angelo: Com base na classificação "macarrônica" que eu fiz, houve um aumento no numero de crônicas, ficção, contos e poesia (representam 13,13% do total). Permanecem um numero grande de biografias (10,94%) e historias de clubes (15,32%). O aspecto sociológico tem merecido há algum tempo também uma maior atenção (15,32%)
Takara: O que me chama a atenção são as ausências. Temos poucos livros que abordam o futebol em outros países. Aliás, não sei se está na lista que enviamos, mas pela primeira vez foram lançados livros que abordam o futebol argentino ("Os Hermanos e Nós") e, pasmem, o futebol colombiano ("El Dorado: os efeitos do profissionalismo no futebol colombiano"). Merece menção a versão da Copa de 1950 pelos uruguaios ("Maracanazo: a história secreta"), de Atílio Garrido, mas neste caso é a tradução, não é um brasileiro olhando para o mundo lá fora. Mesmo assim vale citar pelo ineditismo de finalmente temos no Brasil a voz uruguaia sobre 1950.
 
Dos livros desta lista que vocês já puderam ler, quais são os melhores?
D´Angelo: Dos 137 publicados só comprei uns dez, portanto posso estar "esquecendo" alguns. Dos que comprei, gostei de: "1950 O Preço de Uma Copa", de Beatriz Farrugia, Diego Salgado, Gustavo Zucchi e MuriloXimenes (Letras do Brasil), "A Copa do Mundo de 1950 - A maior tragédia do futebol brasileiro", de Francisco Michielin (Ex Machina); "As Coisas Incríveis do Futebol: as Melhores Crônicas de Mario Filho", organizado por Francisco Michielin (Ex Machina), "O Brasil e as Copas do Mundo: Futebol, História e Política", de Sérgio Settani Giglio e Diana Mendes Machado da Silva (Zagodoni) e "Oswaldo Brandão – Libertador Corintiano, Herói Palmeirense", de Mauricio Noriega (Contexto)
Takara: Ainda estou tentando ler os do ano passado (rs). Dos deste ano li apenas "São Paulo, campeão da Libertadores de 1992", do Alexandre Giesbrecht, um belíssimo trabalho de resgate da campanha da Libertadores, através dos jornais da época. Já que é o ano da Copa, indicaria "O Mundo das Copas", do Lycio Velloso Ribas, pela qualidade das informações, o "Infográficos da Copas", do Gustavo de Carvalho e do Rodolfo Rodrigues, pela apresentação. E embora não esteja em papel, os e-books do Max Gehringer, "A grande história dos mundiais" precisam ser citados pelas fontes. Aliás, uma característica deste ano são os muitos livros com focos diferentes em relações às Copas.
 
Há mercado no Brasil para tanto livro? 
D´Angelo: Falo como leigo. Como estão aumentado, acho que deve ter gente comprando. Mas é bem um "achismo". Como apaixonado torço para que continue assim e espero ganhar na loteria para poder comprar todos...
Takara: É muito interessante, mas me parece que é um mercado que leva mais em conta a produção do que o consumo. Os autores querem escrever, nem que seja só um livro na vida para falar da emoção de torcer pelo time da esquina. Obviamente ninguém quer ficar no prejuízo, mas não é difícil encontrar autores que distribuíram os livros entre amigos e parentes. Acho que o que ocorre é o desenvolvimento de novas tecnologias que facilitam a impressão, o que tem ajudado bastante no número de publicações, a maioria possuí tiragens baixas, o que minimiza eventuais encalhes de milhares de exemplares. É fácil achar gráficas que imprimem por demanda, baixas quantidades.
 
Que livro (ou assunto) merecia ter sido publicado este ano e falta nesta lista?
D´Angelo: Esquecendo o ano Copa do Mundo: as biografias de Thomaz Mazzoni e Armando Nogueira.
Takara: Como disse anteriormente falta ao brasileiro olhar para fora. Acho curioso matérias da imprensa esportiva falando de torcedores brasileiros que torcem para times ingleses, espanhóis e italianos, mas não temos livros que contam a história do futebol italiano ou espanhol. E embora existam muitas biografias, ainda tem muita gente que merece ser lembrada. Para ficar em um só nome, Vicente Feola, primeiro técnico campeão do mundo, um desses personagens grandiosos que insistem em apequenar.

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