Japão chega à Copa após superar trauma nuclear e piadas de mau gosto

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

A seleção japonesa que chegou na noite de sábado a Itu, no interior de São Paulo, teve que superar um trauma no ciclo de preparação para a Copa de 2014.

O terremoto seguido do tsunami de 2011, uma das maiores catástrofes da história japonesa, também afetou o futebol nacional. O centro de treinamento da seleção fica bem perto da usina nuclear de Fukushima. Quando a radiação começou a vazar dali e cerca de 300 mil moradores precisaram evacuar a região, os Samurais Azuis também tiveram de procurar uma nova casa.

O complexo esportivo J-Village era o lar de todas as seleções japonesas, mas imediatamente após a tragédia, os vestiários, academias e campos de futebol foram usados como base para os esforços do governo para controlar o vazamento radioativo.

Em vez de jogadores, o que se vê lá são técnicos com aquelas roupas antirradiação, trabalhando para tornar o espaço novamente habitável.

Até hoje, três anos depois das primeiras explosões, os níveis de radição na J-Village continuam altos, e a expectativa é que o centro de treinamento volte a ser aberto apenas em 2020, quando Toquio sediará os Jogos Olímpicos.

Mais de 13 mil pessoas morreram na catástrofe. O futebol, como todo o país, se uniu no esforço de recuperação. Dias depois do acidente nuclear, a seleção disputou um amistoso beneficente em Osaka e levantou fundos para os desabrigados.

Os principais jogadores da seleção, astros no país, se engajaram em campanhas para aumentar o ânimo de seus compatriotas.

Alguns deles sentiram os efeitos da tragédia em campo e foram vítimas de piadas de mau gosto. O caso mais marcante é o do goleiro Eiji Kawashima, que durante uma partida na Bégica meses depois da tragédia, saiu de campo chorando, ofendido por um cântico insensível da torcida adversária.

Durante o jogo, os torcedores que estavam atrás do goleiro começaram a cantar jocosamente "Kawashima, Fukushima", em referência à cidade onde ocorreu o vazamento radioativo. O juiz interrompeu a partida até que as ofensas parassem.

O titular do gol japonês disse que poderia suportar muitos insultos, "mas não esse." "Usar o drama de Fukushima dessa maneira é tudo, menos engraçado", afirmou o atleta.

Um apresentador de televisão francês também quis fazer graça com a tragédia. Em seu programa humorístico, Laurent Ruquier mostrou uma foto-montagem de Kawashima com quatro braços e a classificou como "o efeito Fukushima", uma referência ao nível de radiação na cidade e possíveis mutações genéticas.

Ele se desculpou depois.

Já na Coreia, rival histórica do Japão, torcedores levaram a campo uma faixa em que se comemorava o terremoto no país vizinho, em decorrência do qual, repita-se, 13 mil pessoas morreram.

No Brasil, os japoneses não devem encontrar hostilidade por parte do público, pelo contrário. Na chegada da equipe a Itu, dezenas de pessoas esperaram por até três horas para ver de relance o ônibus dos jogadores e gritaram frases de apoio quando eles passaram.

Os Samurais Azuis jogarão a primeira fase em Recife (contra Costa do Marfim), Natal (Grécia) e Cuiabá (Colômbia).

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