Medo de organizadas pesa para veto de arquibancada móvel do Itaquerão
Pedro Lopes *
Do UOL, em São Paulo
Com o veto de autoridades paulistas à utilização das arquibancadas provisórias do setor norte do Itaquerão, na partida entre Corinthians e Botafogo, no domingo, a Fifa não poderá ver o estádio em pleno funcionamento antes da Copa do Mundo. Pesaram na decisão, porém, fatores distantes da realidade do Mundial: as torcidas organizadas e o comportamento dos torcedores brasileiros.
"Na Copa do Mundo vamos ver ter 68 mil espectadores, mas é um tipo de perfil de público diferente mesmo. Não tem torcidas organizadas, o espiríto do torneio é mais fraterno. Esse um jogo do Corinthians, com grande torcida. Não dá para dizer que é um jogo de Copa. Isso tem que ser levado em consideração, não é um evento de Copa do Mundo", diz André Cintra, assessor de comunicação da SPCopa, orgão criado pela Prefeitura de São Paulo para tratar dos preparativos para o Mundial.
Na noite desta quinta-feira, um conjunto de autoridades que inclui Governo do Estado, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Prefeitura de São Paulo optou pelo veto, que limitará a capacidade da partida a cerca de 40 mil espectadores – estarão liberados os espaços já utilizados na partida diante do Figueirense, no último dia 18, e as arquibancadas provisórias do setor sul.
"Há um conjunto de órgãos envolvidos. A Polícia dá opinião, o Corpo de Bombeiros dá opinião. Chegou a um impasse. Fomos equacionando, tinha que liberar alguma coisa. Pra nós, o ideal nesse evento não é ter 100% da capacidade da Copa" afirma Cintra, antes de explicar que as conversas e negociações já vem há algum tempo. "Essa discussão já vem há dez dias".
O receio das autoridades tem fundamento: a estreia com derrota para o Figueirense no estádio no último dia 18 não teve confronto entre torcedores – as organizadas dos dois clubes têm bom relacionamento, e inclusive se encontraram antes do jogo – mas houve vandalismo. Cerca de 74 assentos foram quebrados – 55 deles no setor destinado às organizadas.
O evento anterior – uma partida festiva com jogadores e ex-jogadores do Corinthians – já havia registrado danos em cadeiras.
Uma primeira experiência no Itaquerão com lotação máxima, em uma partida entre duas equipes tradicionais teria um potencial de estragos maior, algo que, a menos de duas semanas da abertura da Copa do Mundo, seria preocupante.
"Até daria para fazer um evento com 60 mil pessoas, na raça e no sufoco, mas temos que ver as condições do momento. Essa adequação é normal, estes testes precisam ser graduais. Não existe um salto gigantesco de um evento para outro. Na Copa vai ter reforços, vamos ter uma equipe de apoio maior trabalhando" explica Cintra.
A partida entre Corinthians e Botafogo,originalmente, aconteceria no Rio de Janeiro. O mando de campo foi invertido justamente porque a Fifa e o Comitê Organizador Local queriam testar o funcionamento das arquibancadas provisórias. Isso não será possível, mas, pelo menos, o jogo contará com a ocupação de cerca de 5 mil lugares nas provisórias do setor sul.
Consultado pelo UOL Esporte, o COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo de 2014 disse que ainda não foi informado sobre o caso.
"Não sei. Não estou sabendo de nada. Acabei de chegar de viagem e estou entrando em casa. Não tenho a mínima ideia do que você está falando. Se soubesse, diria", disse Ricardo Trade, CEO do COL. A Fifa não foi localizada para comentar a notícia.
* colaborou Guilherme Costa