Joaquim Barbosa diz que Copa vai ser ruim para a imagem do Brasil
Do UOL, em São Paulo
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, disse que a Copa do Mundo será ruim para a imagem do Brasil. A declaração foi dada em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira, mas concedida dois dias antes da aposentadoria do ministro, anunciada na quinta.
"Da maneira como ela se apresenta hoje, parece que vai ser bem ruim para a imagem do país, diante de tudo que está sendo noticiado. As pessoas responsáveis não se prepararam como deveriam para um evento desse porte", disse Barbosa.
O ministro, que vai deixar o cargo no próximo mês após mais de dez anos no STF, disse que a exposição desses problemas poderá deixar como legado uma sociedade mais ativa na cobrança de seus governantes, mas fez questão de dizer que as falhas na Copa não são de responsabilidade exclusiva do Estado.
"[A exposição dos problemas]Pode levar a um nível mais elevado de exigência a autoridades e responsáveis. Porque veja bem, a Copa não é alvo de responsabilidade só dos governos. Há um número bem grande de pessoas encarregadas do evento fora do governo, e elas são corresponsáveis pela desorganização", afirmou o ministro.
Barbosa analisou que os protestos que acontecem desde junho de 2013 e devem aparecer com intensidade durante a Copa do Mundo são causados pela ideia de que o governo gastou dinheiro no evento que deveria ser direcionado para áreas como saúde e educação.
"O grande problema nosso, como organização social, é não saber escolher prioridades. Investe-se muito em benefício de poucos. Joga-se o foco numa coisa e deixa-se outras ao deus-dará. E isso se repete agora na Copa do Mundo", disse.
O ministro ainda falou sobre a Fifa, que esteve envolvida recentemente em acusações de corrupção na escolha do Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022. "É um órgão sem transparência. Acompanho pela imprensa estrangeira, sobretudo a europeia, e o que leio não é bom", afirmou Barbosa.
O presidente do STF ainda criticou a relação que o governo brasileiro teve com a Fifa durante a organização do Mundial.
"Faltou um governo com a visão clara dos interesses nacionais, do orgulho e da honra do país. Só isso. Governo que tem consciência clara sobre as prioridades e o papel do país no contexto mundial sabe fazer as exigências corretas. Não se pode encarar a Copa como um favor, tem de haver uma contrapartida. Nós temos interesse em receber a Copa, mas tem de botar na balança os interesses dos dois lados", falou o ministro.
Sobre os resultados no campo, Barbosa disse que espera um título do Brasil na Copa, mas ressaltou que isso não será importante para o país. "Será apenas uma vitória esportiva. Claro que uma derrota me deixará triste, mas uma hora depois estarei fazendo outra coisa (risos)", concluiu.