Governo admite que não conseguiu mobilizar iniciativa privada para a Copa

Aiuri Rebello e Vinícius Segalla

Do UOL, em Brasília

O governo federal falhou em mobilizar a iniciativa privada para bancar os gastos com estádios da Copa do Mundo, conforme havia anunciado o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007, ano que o Brasil conquistou o direito de sediar o Mundial da Fifa. "Havia uma pretensão, uma expectativa de que pudéssemos mobilizar a iniciativa privada para que ela desse conta", afirma o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte na quinta-feira (15). "E se nós tivéssemos feito seis estádios, teríamos conseguido".

Carvalho é o destacado pelo Palácio do Planalto para percorrer as 12 cidades-sede da Copa para dialogar com movimentos sociais e grupos que organizam manifestações contra a competição futebolística no Brasil. Já passou por dez cidades e em algumas delas, como São Paulo e Rio de Janeiro, enfrentou protestos durante as próprias reuniões. Entre financiamentos do governo federal (R$ 3,9 bilhões), investimentos diretos dos governos locais (R$ 3,9 bilhões) e de entes privados como times de futebol e construtoras (R$ 133 milhões), os estádios da Copa custaram até agora de acordo com os números oficiais da Matriz de Responsabilidades (documento que traz a sita de todas as obras previstas para a Copa) cerca de R$ 8 bilhões.

"Esse esforço de nacionalizar a Copa nos custou a necessidade de entrar com aportes maiores, digamos assim, sobretudo dos governos locais", diz o ministro sobre o motivo que levou os governos federal, estaduais e municipais a assumir gastos relativos à construção de estádios -- em forma de financiamentos e investimentos diretos -- e outros estritamente relacionados ao Mundial, como as Fan Fests e estruturas provisórias nas arenas das 12 cidades-sede. Cada estádio exige pelo menos R$ 30 milhões de investimento em estruturas de apoio dentro e no entorno para poder receber um jogo de Copa do Mundo.

Para Carvalho, "houve uma contradição entre o que se esperava e a realidade. Por que a realidade muitas vezes é assim. Você pensa um objetivo e tenta persegui-lo, e nem sempre a realidade te permite". Apesar da contradição entre o que se esperava e o que aconteceu no quesito investimento de dinheiro público em estádios e estruturas diretamente ligadas ao Mundial, o ministro defende os gastos. " A relação entre custo e benefício é extraordinária, por que estes investimentos em estádios não são jogados no lixo. Dá a impressão que o governo pegou e jogou um saco de dinheiro no colo da Fifa, e não é isso. Não é para a Fifa, é para o país. A gente ter 12 extraordinárias praças esportivas no país, funcionais, multiuso não é um ganho para o país?".

'É notícia aquilo que é muito ruim'

O ministro-chefe credita que parte da culpa da animosidade por parte de alguns manifestantes que participam de protestos contra a Copa é de uma parcela da imprensa brasileira, que só noticia aquilo que é negativo. "É essa cultura do destaque quase exclusivo para a linguiça que mordeu o cachorro e não vice-versa", diz. "Ou seja, é notícia só aquilo que é muito ruim".

"Não se trata de dizer que tudo foi perfeito, não", pensa sobre o atraso na maioria das obras da Copa. Nem metade das intervenções previstas estava pronta a um mês do Mundial. "Chega a informação de que governo é tudo corrupto, de que as obras não vão ficar prontas e isso é uma desgraça para o país, chega a ideia de que todos os estádios são elefantes brancos e que o governo está tirando dinheiro da Saúde e da Educação para esta Copa e para dar para a Fifa, que é um antro de corrupção", afirma o ministro. "É assim que se forma a opinião pública"

Para Carvalho, a maneira negativa que o Brasil tem sido retratado na imprensa internacional na organização da Copa do Mundo é um reflexo do que diz a imprensa nacional e de grupos políticos que jogam contra o governo. "É crime de lesa pátria, o que essas pessoas fazem quando divulgam uma mentira sobre o país. É o maldito complexo de vira-lata que aqui nada pode dar certo. "Essa gente vai quebrar a cara. A Copa vai deixar os estrangeiros de boca aberta com o acolhimento que vai receber do povo brasileiro. Depois da Copa a imagem do Brasil vai crescer".

Recuo

Sobre as manifestações, o ministro disse que o governo recuou e desistiu de ter em vigor até o início da Copa do Mundo uma nova lei que enquadra grupos de manifestantes conhecidos como "black blocs" e pune com mais rigor atos de violência e vandalismo praticados durante protestos de rua. "Foi uma mudança de posição sim, o governo voltou atrás", afirmou Carvalho. 

Até o início do ano o governo federal pretendia mandar um projeto de lei próprio para o Congresso sobre a questão, conforme anunciou no começo de março o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Em abril, ele voltou atrás e disse que o governo apoiaria a aprovação de um projeto de lei que está em tramitação no Senado, de autoria do senador Armando Monteiro (PTB-PE) e relatoria do senador Pedro Taques (PDT-MT).

"A necessidade dessa lei foi trabalhada a partir do final de junho de 2013, quando as manifestações populares arrefeceram e a tática black bloc ganhou força", disse Carvalho. "Hoje não vejo necessidade de uma nova legislação para manifestações. O recuo do governo se deu em grande parte por essa consciência,  de que a melhor solução era o diálogo e apostar no bom senso das pessoas", afirma Carvalho.

'Estamos pagando o preço'

Sobre as obras de mobilidade urbana, Carvalho diz que "foi uma ousadia adequada meter a cara e dizer: vamos fazer. E estamos pagando o preço por isso agora, por não ter entregue". 

Para ele, não foi um erro prometer uma série de projetos, principalmente em mobilidade urbana, que não serão entregues a tempo da Copa. "Pode não entregar agora, mas vai entregar", diz o ministro sobre as obras incompletas ou que nem foram iniciadas nas 12 cidades-sede do mundial da Fifa. "O importante é que não virem elefantes brancos ou sejam paralisadas, e isso a gente vai fiscalizar", diz ele, apesar de, a um mês do início da competição futebolística, nem metade da lista de obras prometidas estar pronta. Na parte de mobilidade urbana, apenas 11% das obras estão prontas.

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