Felipão lê livro sobre Copa de 1950 e quer desmistificar "tragédia"

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

Há cerca de um mês Luiz Felipe Scolari ganhou um presente de um amigo. Recebeu o livro "Dossiê 50", sobre a derrota da seleção brasileira no Mundial disputado no país há 64 anos. Segundo quem deu a lembrança, o jornalista gaúcho João Garcia, o técnico está lendo a obra, informação confirmada pela assessoria de imprensa de Scolari.

"Dossiê 50" foi escrito pelo jornalista Geneton Moraes Neto, tendo como base os depoimentos dos 11 titulares da seleção brasileira que perdeu a final para o Uruguai no Maracanã, além do técnico Flávio Costa e do "algoz" uruguaio Alcides Edgardo Ghiggia. Com o material filmado, o repórter da TV Globo também produziu um documentário com o mesmo nome, lançado em 2013.

No livro, que começou a ser produzido em 1986 e teve a sua primeira edição lançada em 2000, os jogadores relatam, entre outras coisas, problemas extracampo que a seleção enfrentou durante a preparação para a Copa.

"Horas antes da partida final, estávamos almoçando na concentração quando chegou um candidato a presidente da república, se não me engano, Cristiano Machado. Levantamos da mesa, na hora do almoço, para ouvir discursos e promessas mil. O sossego dos jogadores foi perturbado. Desde 3 dias antes do jogo, houve muita perturbação: a euforia era tremenda. Era visitante, político, promessas, autógrafos - uma tremenda barafunda", disse Augusto, capitão da equipe.

O isolamento dos atletas é uma das preocupações de Felipão para a Copa. O técnico já afirmou em entrevistas coletivas que limitar visitas aos jogadores durante o período de treinamento.

Que tragédia?

Desde que assumiu a seleção brasileira, Scolari repete que a obrigação do time que jogará a Copa no Brasil é ganhar o torneio. Ao mesmo tempo, porém, quando é perguntado sobre a derrota de 1950, ele defende os jogadores do time que perdeu a final.

"Na tragédia de 50 não morreu ninguém", respondeu o técnico em março, após ser questionado numa entrevista coletiva se temia uma pressão maior por contra do "trauma de 50".
"Futebol se joga e depois a gente vê. O pessoal de 50 foi o responsável pelas vitórias de 58, 62, 70, 94 e 2002. Ganhamos pela semente que eles plantaram", completou.

Um dos depoimentos mais emotivos do livro é o de Barbosa, que viveu durante anos com a pecha de culpado pela derrota.

"Não chorei, mas senti. Não vou dizer que não. Cada um tem uma maneira de reagir a uma adversidade. Eu senti, mas não extravasei. Tive que conter minha mulher e meu cumpadre porque os dois é que choravam muito", contou o goleiro, que morreu em 2000. "Hoje depois de tudo me sinto feliz por ter participado da copa de 50, porque ali o Brasil apareceu para o mundo como potência do futebol", completou.
 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos