Convocação de 1950 foi sem pompa e com lista em pedaço de papel amassado

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

  • AP Photo

A pressão pode até ser semelhante à que Luiz Felipe Scolari enfrentará ao convocar a seleção para disputar uma Copa do Mundo no Brasil, mas o cenário e as circunstâncias da divulgação da lista de jogadores de 1950 foram completamente diferentes. Há 64 anos, Flavio Costa definiu os 22 atletas que entraram para a história na maior derrota da equipe hoje pentacampeã do Mundo.

Enquanto Felipão divulgará os nomes para uma plateia de aproximadamente 700 profissionais de imprensa e outros milhões de torcedores que acompanharão o anúncio por rádio, televisão e internet, Costa anunciou a sua lista final para a primeira Copa no Brasil a 19 dias da estreia e com bem menos alarde. Segundo relatos dos jornais da época, não houve um evento de convocação no dia 5 de junho de 1950.

Na verdade, não chegou nem a ser uma convocação, mas, sim, uma relação de cinco jogadores cortados que determinou os 22 jogadores garantidos para a primeira Copa no Brasil. A lista foi divulgada para os repórteres de rádio e jornal que acompanhavam os treinos da equipe no Rio de Janeiro.

A edição do jornal "Folha da Noite", do dia 6 de junho, anunciava em sua manchete: "Mauro, Brandãozinho e Pinga dispensados por Flavio Costa". O diário paulista dava destaque para os três jogadores do estado que ficaram de fora da última lista. A dispensa de Pinga, meia-atacante da Portuguesa, foi uma surpresa, segundo a publicação. Ipojucan e Tesourinha, do Vasco da Gama, foram outros cortados.

Mais de seis décadas depois são muitas as teses surgidas sobre o porquê da derrota de 1950. Falta de tempo de preparação para o torneio não pode estar entre as desculpas. A preparação durou mais de dois meses.

A primeira lista, com 38 jogadores, foi divulgada em março. No fim do mês, os pré-convocados foram para Araxá, em Minas Gerais, para um período de treinamentos, que foram intercalados com amistosos pelo país. Até maio, 11 jogadores foram cortados do time. Um por contusão, outros por má condição física e houve até quem pedisse para sair. O zagueiro Píndaro, do Fluminense, pediu dispensa da equipe após se desentender com o técnico.

Papel amassado

O jogador não foi o único a sair por desavenças com Flavio Costa. Dirigentes deixaram a seleção após desavenças com o técnico sobre os jogadores convocados. O episódio foi relatado por Flavio Costa no seu livro "O Futebol No Jogo da Verdade". 

"No início dos trabalhos o Dr. Castelo Branco perguntou a mim quando poderia dar a lista dos jogadores convocados. Esse documento sempre foi um tabu no futebol brasileiro. Meti a mão no bolso e tirei um pedaço de papel com os nomes dos escolhidos. Li a relação dos 25 convocados", disse Costa.

"O comandante Martinelli, almirante e desportista do Botafogo, pediu a palavra e declarou: "Eu quero discordar de dois nomes que estão na lista e fazer uma indicação". Imediatamente retruquei que, como tinha sido pedido, anunciara a lista, que poderia merecer explicações, mas não estava sob discussão e nem para ser vetada", relatou.

O cartola citado deixou a seleção dias depois, assim como Mario Filho, jornalista e dirigentes esportivo, que também se desentendeu com o treinador.

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