Lojistas de BH cobram atitude do Estado para evitar prejuízos com protestos

Dionizio Oliveira

Do UOL, em Belo Horizonte

A destruição de estabelecimentos comerciais nas imediações do Mineirão, durante a Copa das Confederações, em consequência de violência durante atos de protestos, causaram prejuízos próximos dos R$ 18 milhões. Com a proximidade da Copa do Mundo e com a expectativa de novas e maiores manifestações, o empresariado se preocupa com a repetição da situação entre junho e julho. As revendas de automóveis foram muito afetadas por vandalismo em 2013.

Há casos, por exemplo, de lojas localizadas na Avenida Antônio Carlos, principal acesso ao Mineirão, que nem reabriram. A concessionária Kia  Automark segue fechada para reformas e, segundo a gerente de marketing, Larissa Lopes, ainda não há uma definição de quando abrirá novamente.

Essa agência de automóveis foi gravemente depredada durante os protestos,  nos dias de jogos pela Copa das Confederações na capital mineira, e chegou a ser incendiada. Muitos carros foram destruídos, além da fachada e praticamente toda a estrutura física da loja, com a quebra de vidros, computadores, televisores, entre outros equipamentos. Os cálculos da empresa apontam para um prejuízo na casa dos R$ 4 milhões.

Outra concessionária que sofreu com os atos violentos à época foi a Mila, revendedora da Volkswagen. Segundo o diretor Antônio João Teixeira, os prejuízos chegaram à casa dos R$600 mil. Toda a fachada da loja teve que ser reformada, além do prejuízo comercial pelos dias fechados para reforma e a queda nas vendas nos dias seguintes. Antônio Teixeira teme que isso se repita durante a Copa do Mundo e pede apoio do Estado.

"Vamos ter uma reunião com o sindicato semana que vem e vamos agendar uma conversa com o atual governador para ver o que podemos fazer, qual medida a ser tomada pelo estado e prefeitura para ver se tem policiamento. Na outra vez não fizeram nada e ficaram assistindo de camarote", criticou o diretor. Na semana passada, Antonio Augusto Anastasia renunciou ao cargo, em função das próximas eleições, e assumiu o então vice-governador Alberto Pinto Coelho.

O diretor da Mila admite que além de recorrer ao Poder Público a empresa pretende tomar providências por conta própria para tentar aumentar o nível de segurança. "Paralelo a isso temos algumas medidas que podemos tomar, sim. Mas ainda vamos estudar o que será. Por enquanto não tem nada definido, mas tenho que manter em sigilo para os baderneiros não saberem", contou.

Alguns comerciantes cogitam a possibilidade de utilizar vigilância armada e reforçar as barreiras de segurança com placas de aço para que os estabelecimentos não sejam invadidos, já que os tapumes de madeira provaram serem ineficazes no ano passado. Muitos também pretendem retirar os veículos nos dias dos jogos para guardá-los em lugares mais seguros já esperando pelo protesto, ao contrário do ano passado quando foram pegos de surpresa.

É o que irá fazer a Forlan, revendedora da Ford. Depois do primeiro manifesto na Copa das Confederações, ela adotou a medida que se provou eficaz. Segundo o diretor Salvino Pires, a iniciativa possibilitou amenizar o prejuízo para 'apenas' R$ 400 mil. "Tiramos os carros da loja e escondemos em um terreno longe. Eles entraram na loja e quebraram tudo. Por sorte não acharam uma sala de computadores com equipamentos caros que nos traria ainda mais prejuízo, pois ficaríamos sem sistema e internet nos dias seguintes em todas as lojas", disse.

Assim como Antônio Teixeira , Salvino Pires também está preocupado com novas ocorrências e tem entrado em contato constante com Sindicato das Concessionárias e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG). Para exercer pressão no Estado e cobrar atitudes mais severas de segurança, os comerciantes entraram com uma ação por intermédio da entidade pedindo ressarcimento dos prejuízos e esperam maior segurança durante a Copa do Mundo. Eles estão mantendo contato frequente com o Governo, mas a pouco mais de dois meses do início do evento ainda se sentem inseguros.

Em razão disso, Salvino já tomou algumas providências como proteger o pátio de carros que abriga cerca de 800 veículos. "Já mandei colocar chapa de aço na frente todinha para não ficar escancarado, se o pátio estiver vazio, vou empurrar tudo para o fundo para ficar ainda mais seguro. Agora na loja e na avenida o problema é que temos a fachada alta e todas de vidro e fica difícil proteger", contou.

Ele também pretende contratar mais seguranças do que no ano passado, quando tinha apenas quatro, mas descarta a utilização de funcionários armados e já se mostra pessimista em relação a novos prejuízos. "Teve gente que chegou a contratar segurança armado para se defender, mas não é por aí. Não vamos dar tiro em ninguém. Nós estamos aguardando o poder público. Mas penso que vou ter que tirar o que puder da loja e eles devem quebrar os vidros novamente", afirmou o empresário, em tom conformado.

As concessionárias foram os principais alvos dos vândalos, mas outros estabelecimentos como postos de gasolina, supermercados e comércios de pequeno porte também entraram na rota dos conflitos. Em contato com os funcionários desses estabelecimentos, há um certo temor de que os protestos voltem a acontecer e ainda não há uma definição das medidas a serem adotadas durante a Copa do Mundo, como na empresa de comunicação Placas Toledo.

Segundo pesquisa da Câmara de Lojistas Dirigentes de Belo Horizonte (CDL), 17 lojas sofreram danos decorrentes das manifestações do ano passado. A maior parte (39%) foi atingida em duas ocasiões e algumas até três vezes, todas nos dias de jogos. Grande parte dos estabelecimentos (45%) tiveram a fachada depredada e sofreram com saques (20%), sendo que 35% tiveram prejuízo superior a R$100 mil.

Outra preocupação é de que a Copa do Mundo terá um mês de duração e o dobro de jogos em Belo Horizonte em relação a torneio do ano passado. Ao todo serão seis partidas no Mineirão, o que também dificulta esse trabalho de retirada de veículos, aumenta o prejuízo pelo número de dias com as portas fechadas e o período de queda nas vendas em caso de possíveis protestos.

CDL cobra ação policial efetiva

Preocupada com o setor, a diretoria da CDL vem promovendo na sua sede algumas reuniões junto com os representantes do Governo e da Polícia Militar, que estão apresentando as estratégias de ação e segurança durante o Mundial. A entidade cobra segurança para os comerciantes durante o evento e uma postura mais rígida da polícia com os arruaceiros.

No último evento, o Coronel Antônio Bettoni, gestor estratégico da Copa da Polícia Militar, disse que vem sendo realizado um trabalho nos bastidores para minimizar os riscos. "Aprendemos muito com os erros cometidos durante a Copa das Confederações", disse. "Fizemos uma análise de risco mais apurada e estamos mais bem preparados. Não podemos garantir que tudo dará certo, mas nossa preocupação é grande", completou.

O presidente da CDL, Bruno Falci, em contato com o UOL, criticou o descaso com o setor no último ano e vê a Polícia mais bem preparada. No entanto, entende que ainda não há confiança por parte dos lojistas e aprova a prevenção por conta própria já que o Estado tem deixado a desejar na segurança. "Ninguém está satisfeito".

"O que a gente puder fazer para dificultar a gente deve fazer, agora tem empresários conhecidos meus que colocaram tapume e eles foram lá e quebraram tapume, a polícia viu e ficou de braços cruzados, isso é inaceitável. A polícia tem que agir e preservar a ordem. Ano passado ela não preservou a ordem", criticou Bruno Falci.

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos