PM de Minas busca informações sobre 'barras-bravas' para agir na Copa
Dionizio Oliveira
Do UOL, em Belo Horizonte
Tradicional rival da seleção brasileira, a Argentina escolheu a Cidade do Galo, em Vespasiano, na Região Metropolitana da capital mineira, como sua base na Copa do Mundo. Além de ficarem hospedados no CT do Atlético-MG, fazendo sua preparação em território mineiro, Messi e companhia também farão um jogo no Mineirão. Assim, a expectativa é de grande presença de hermanos e, por isso, já surge a preocupação das autoridades de segurança com os tradicionais barras-bravas.
Para tentar prevenir problemas, a Polícia Militar de Minas Gerais procura conhecer melhor o comportamento dos barra-bravas argentinos. Já houve visita de policiais à Argentina e outras formas de aproximação, como contato constante entre o serviço de inteligência da PM mineira com a Embaixada e com o serviço de segurança do país vizinho.
"Nossa inteligência tem tido um trabalho de intercâmbio, um contato frequente com a embaixada para conhecer o perfil desses torcedores", comentou o tenente-coronel Alberto Luiz Alves, chefe da Assessoria de Comunicação da Polícia Militar de Minas Gerais.
Em toda a América do Sul, excetuando o Brasil, que possui as chamadas torcida organizadas, algumas também responsáveis por atos de extrema violência, são comuns os torcedores barra-bravas, que são identificados pelas belas festas que promovem no estádio, com direito a fogos de artifício e muita cantoria com apoio incondicional aos seus respectivos clubes. Porém, na Argentina esses torcedores também ficaram marcados por uma conexão com a violência e são considerados perigosos.
Já foram vistos vários espetáculos de selvageria protagonizados por esses torcedores, que muitas vezes têm a sua imagem associada à violência e até mesmo ao narcotráfico, tornando-se um dos problemas sociais do país vizinho. Assim como no Brasil, lá o comportamento dos aficionados mais radicais já provocaram várias mortes em estádios e fora deles também.
Como na Argentina os torcedores tem uma relação com a seleção mais parecida com a que possuem com o clube, há certo temor e um trabalho de prevenção para conhecer esses torcedores e garantir a segurança dos demais turistas caso eles venham ao Brasil e tenham um comportamento inadequado. São esperados cerca de 120 mil turistas estrangeiros em Minas Gerais no período da Copa do Mundo e 20 mil deles formados apenas por argentinos, segundo estimativa da embaixada.
"Sem dúvida nenhuma, não somente os barra-bravas, mas também os 'holligans' (da Inglaterra). Queremos que eles tenham momentos abrasivos para torcer pela seleção. Vamos ser o local sede, o centro de treinamentos, queremos que tenham plenas condições de vir para o nosso estado, para o Brasil, mas não permitiremos que eles cometam nenhum tipo de bagunça e estamos preparando também na mesma dose que vamos dar proteções a eles, impedir que alguns possam cometer algum tipo de peraltice", afirmou.
Segundo o oficial da Polícia Militar, a atuação da corporação no momento tem o objetivo de "refinar as informações" e transformá-las em conhecimento. "Se houver necessidade vamos adotar medidas protetivas que não posso falar, pois se tornariam ineficazes", ressalvou.
"Nossa inteligência também está trabalhando com a vinda de torcedores mais exaltados, não queremos que venham assim, mas sim com alegria. Mas ser humano é aquele negócio, temos que ter toda a atenção possível", acrescentou.
O governador Antonio Augusto Anastasia garante que o tema segurança recebeu atenção especial em Minas. "Não só para dar a garantia da tranquilidade aos turistas estrangeiros e brasileiros que virão a Minas Gerais, mas também a nós mesmos, os mineiros que vamos assistir aos jogos. A nossa Polícia Militar e a Polícia Civil estão muito bem preparadas", afirmou Anastasia, no programa "Palavra do Governador".
Foi montada uma estrutura temporária conhecida como Sala de Situação de Gerenciamento de Crises e Grandes Eventos, localizada na Cidade Administrativa desde março do ano passado que serviu para a Copa das Confederações e é a aposta do governo para gerenciar possíveis problemas e estar atento a toda ocorrência que acontecer durante o Mundial.
Esta sala tem uma área com mais de 900 m², que comporta 120 pessoas, sendo 40 do serviço de inteligência e tem agentes da Polícia Civil e Militar, além de representantes do Corpo de Bombeiros, da Guarda Municipal, Defesa Civil, entre outras instituições municipais e federais que atuam de forma conjunta.
"Constituímos também um batalhão da Polícia Militar especializado para a Copa do Mundo com mais de 2.500 integrantes exatamente com o objetivo de prestar mais assistência nos dias de jogos da Copa do Mundo. Todo o sistema, portanto, de segurança pública do Estado, está em harmonia com os órgãos federais com o objetivo de prover uma segurança total não só no estádio, ao seu redor, mas fundamentalmente em toda a nossa capital e em todo o nosso Estado", acrescentou o governador.
Argentinos não creem em violência
O jornalista argentino Jean Piter Miranda, de 33 anos, radicado em Belo Horizonte, aprova a prevenção das autoridades, mas não acredita que haverá problemas na capital mineira durante a Copa do Mundo. "É válido, a PM tem que fazer a parte dela. Tem que estar preparada para brigas e confusões", disse.
"Mas não creio que os barras vão arrumar confusão por aqui. Acredito que eles virão, mas não em grande número. A situação financeira da Argentina não favorece isso. A maioria dos argentinos não tem dinheiro para vir a Copa", acrescentou o argentino, que nasceu em Buenos Aires e mudou para Minas Gerais aos sete anos de idade.
Jean não visita seu país natal desde 2000, mas conhece bem a fama dos barra-bravas e não vê grandes diferenças das organizadas do Brasil. "Eles são violentos em sua maioria. Mas não são mais perigosos que as torcidas organizadas. Além disso, a rivalidade dos barras é bem regional e geralmente entre as torcidas dos times locais", ressaltou.
Há 27 anos na cidade, Jean acredita que os argentinos serão bem recebidos em Belo Horizonte, mas lamenta os preços caros que deverão impedir os torcedores com menor poder aquisitivo de viajarem. "Acredito que BH vai agradar os argentinos. A maioria dos que já recebi gostou muito da cidade, da culinária, a receptividade. O ruim que os ingressos estão caros, meus primos de Buenos Aires reclamaram. Eu mesmo gostaria de ir aos jogos, mas não vou", lamentou.
Pensamento similar ao de Jean tem Gustavo Roman, de 46 anos, que é proprietário da Pizzaria Sur. A casa é um tradicional ponto de encontro dos hermanos em Belo Horizonte e ele espera que seja um dos locais favoritos dos turistas. "Com certeza, porque realmente em Belo Horizonte não tem outro lugar igual, já que não possui uma comunidade de argentinos", contou.
Há 14 anos na capital, ele entende que os seus conterrâneos se sentirão acolhidos. "Belo Horizonte é uma cidade linda e em tempo de festa qualquer coisa é boa. Independentemente de entrar ou não no estádio tudo vai ser bagunça e acredito que não teremos confusões", disse o empresário, que não vê possibilidade de briga entre torcedores pelo menos nos jogos iniciais do Mundial.
"Eu não acho que dará problema porque aqui em Belo Horizonte a seleção jogará com o Irã e quem irá brigar, por quê? Com o brasileiro nunca tem briga. Só em confronto de Copa Libertadores e essas coisas, mas por seleção é bobagem. Agora em uma semifinal ou final no Rio de Janeiro contra o Brasil, aí é certeza que aconteça algo. Mas acredito que nesses jogos de primeira fase não terá nenhum problema", observou.
Apaixonados pelo futebol e entusiasmados com a Copa do Mundo, os argentinos prometem comparecer em bom número ao País. Depois do Brasil e os Estados Unidos, a Argentina foi quem teve o maior número de cidadão solicitando ingressos no site da Fifa, com 266.937 pedidos. O país vizinho está na nona posição no ranking de países que mais compraram ingressos para o Mundial.