Indústria hoteleira vê alto risco de ter 'elefantes brancos' após a Copa
Pedro Lopes
Do UOL, em São Paulo
A discussão sobre o destino das arenas construídas para a Copa do Mundo em estados sem grande tradição no futebol é antiga. Existe, porém, um outro tipo de "elefante branco" que causa preocupação no legado do Mundial: o dos hotéis. A própria indústria hoteleira teme que a oferta cresça demais, gerando crise no mercado e quartos vazios após o fim da competição.
O Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, que reúne 25 das maiores cadeias de hotéis que operam no país, fez um estudo sobre o assunto. O trabalho apontou que sete das 12 cidades-sede possuem situações consideradas de alto risco, nas quais os investimentos referentes à Copa fazem com que a oferta cresça em ritmo muito maior do que a demanda.
Belo Horizonte e Manaus apresentaram quadros considerados críticos tanto nos hotéis de alto nível como nos de nível médio. Segundo o estudo, o cenário, depois do Mundial, poderá resultar em hotéis vazios, guerra de preços e até fechamento de estabelecimentos. A taxa de ocupação dos hotéis das duas cidades, atualmente entre 60% e 70%, poderia, em 2015, cair para níveis entre 40% e 50%.
Outras cidades que podem deixar como legado uma série de hotéis vazios são Brasília, Cuiabá, Porto Alegre, Recife e Salvador. Todas têm situação considerada ruim ou crítica, e podem sofrer impacto negativo em sua rede hoteleira após o torneio.
Na capital brasileira, por exemplo, taxas de ocupação poderiam cair de 64% para 44%. Em Cuiabá, de 65% para 45%. A previsão de queda é constante para todas as cidades que preveem um crescimento da oferta muito maior do que o da demanda.
Em São Paulo, Curitiba e Fortaleza o risco foi avaliado como baixo – na capital paulista, a tendência é inversa, e a demanda deverá ser maior do que a oferta, com aumento das taxas de ocupação. Para o Rio de Janeiro e Natal, o sinal é amarelo.
Para a Copa do Mundo, a Fifa trabalhou com a empresa suíça Match, que reservou vagas em hotéis brasileiros para comercializar os pacotes de hospitalidade do evento. No começo do ano, porém, a parceira devolveu uma quantidade grande dessas reservas: Fortaleza e Porto Alegre, por exemplo, tiveram quase 40% dos bloqueios removidos.
Para Enrico Fermi, presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (Abih) – entidade que representa os hotéis no país – o processo é normal, já que a Copa desacelera parte do turismo interno, não relacionado ao evento.
"Há uma tendência natural de haver uma desaceleração antes. O fluxo normal de turistas que viajam internamente não vai acontecer, em função do evento. Então, você vai ter cidades nas quais vai haver algum aumento, mas outras cidades, até como São Paulo, a tendência é a de decrescer" afirmou ao UOL Esporte.
Fermi também vê outro caminho para evitar que os hotéis se transformem em mais um dos tão temidos "elefantes brancos" que rondam as obras da Copa do Mundo. Para o presidente da Abih, o real legado da competição mais importante do futebol mundial não será a construção dos novos hotéis, mas um aumento gradativo no turismo local que, gradativamente, criará mais demanda no setor.
"O mercado está se preparando. A grande contribuição que o setor hoteleiro vai ter será com a visibilidade. A Copa vai colocar o país como um destino turístico para o mundo, e o turismo vai aumentar", finalizou.