Polícia Militar classifica ação no protesto contra a Copa como 'sucesso'
Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo
Para cada dois manifestantes, três policiais militares foram à manifestação contra a Copa do Mundo no centro de São Paulo neste sábado, 22, segundo dados oficiais. O ato terminou uma hora após seu início, quando a PM isolou parte dos manifestantes. Ao todo 262 pessoas foram detidas. Como não ficou comprovado que cometeram crimes, todas foram liberados após passar algumas horas em delegacias da capital.
O coronel Celso Luis Pinheiro, comandante do policiamento no centro, disse, neste domingo, 23, que a operação policial foi um "sucesso". "Tivemos menos depredações, menos policiais feridos, menos civis feridos. Foi um sucesso", declarou o oficial. Por outro lado, a manifestação deste sábado foi a que teve o maior número de detidos e o menor tempo de duração no ano.
Integrante do grupo Advogados Ativistas, que atende gratuitamente manifestantes que foram detidos, o advogado André Zanardo discorda do sucesso da operação. "Acho preocupante a PM não ter vergonha de falar que fez mais de 250 pessoas presas para averiguação, uma atitude típica do período de ditadura militar", disse Zanardo.
Pinheiro pediu desculpas publicamente pelos jornalistas que foram detidos. Ao menos cinco profissionais de imprensa foram abordados de forma truculenta durante o ato. "Na hora da correria fica difícil separar quem é quem. Nem sempre o crachá é suficiente", explicou-se o comandante. Embora dezenas de pessoas tenham sido abordadas no momento em que faziam filmagens ou tiravam fotos com celular, o coronel disse que isso não era impedido.
O coronel confirmou que a PM tomou a decisão de cercar um grupo de manifestantes baseado na percepção de que eles começariam um ato de vandalismo, antes mesmo que os black blocs tomassem alguma atitude. "Nosso serviço de inteligência notou que eles partiriam para atitudes violentas. Tínhamos informações de uma iminente probabilidade de quebra da ordem." Segundo Pinheiro, vídeos feitos pela própria corporação comprovam que a ação da PM era necessária. As imagens não foram divulgadas.
Segundo Pinheiro, a tática usada pelos policiais não impediu o livre direito de manifestação, embora tenha ficado claro que a operação acabou com o ato. O coronel, porém, admitiu que os únicos atos de vandalismo que foram registrados no sábado aconteceram depois que o protesto foi sufocado, o que mostra que a polícia não conseguiu deter os black blocs. Ao menos duas agências bancárias foram depredadas e latas de lixos foram quebradas.
A estratégia adotada sábado pode ser repetida em outros protestos. "Se precisar colocar 30 mil policiais na rua para fazer a segurança do evento, vamos colocar." Em coletiva de imprensa realizada nesta tarde, o coronel informou que havia 2.300 policiais na rua para acompanhar 1.500 manifestantes.
O coletivo Contra a Copa 2014 divulgou uma nota de repúdio à ação da PM: "Repudiamos a ação da Polícia Militar e dos governos aos quais ela é subordinada. Continuaremos nas ruas por direitos sociais, contra a repressão, contra a Copa e pelo direito democrático de manifestação. Convocamos todos os indignados contra o estado de exceção que se instala aos poucos no Brasil. Este é o momento de vir para as ruas."
O terceiro ato contra a Copa do Mundo já está marcado: acontecerá em uma quinta-feira, 13 de março. A concentração está marcada para as 18h no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste da capital.