Na reta final, Fifa troca rigidez por samba na organização da Copa
Ricardo Perrone e Rodrigo Mattos
Do UOL, na Costa do Sauípe
Da rigidez suíça ao samba brasileiro. No momento em que a Copa do Mundo de 2014 ganhará os contornos finais no sorteio de grupos nesta sexta-feira, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) teve de abandonar o clichê europeu de "trens-que-saem-na-hora-certa" para o clichê brasileiro do "jeitinho". Aceitou sem reclamações as diversas falhas da organização apresentadas pelo país na organização do Mundial.
Dos seis estádios que deveriam ser entregues até o final deste ano, só dois estarão de fato prontos no prazo, mas com inauguração prevista para janeiro a fim de atender a agenda da presidente Dilma Rousseff. As sedes de Curitiba, Cuiabá, São Paulo e Porto Alegre serão concluídos entre janeiro e março.
Pior, atingida por um acidente, a sede da abertura do Mundial em São Paulo só terá sua inauguração em jogo em abril, dois meses antes da partida de abertura. Um quadro similar ao que ocorreu na África do Sul, sede da Copa de 2010.
Repete-se também o cenário visto na Copa das Confederações, em que quatro dos seis estádios foram entregues fora do prazo. Isso levou o secretário-geral da federação internacional, Jérôme Valcke, a adotar tom duro: dizia que não aceitaria novos descumprimentos de prazo. Mas aceitou, e com um sorriso no rosto.
A resignação chegou ao ponto do dirigente ter dito em uma entrevista para agências internacionais que aprendeu a se tornar a "Fifa-Samba" em substituição à pontualidade suíça. "Falamos para eles: Nós somos da Suíça, os trens têm que chegar às 9 horas, não às 9h01. Desde então, passamos a ser a Fifa-Samba. Somos mais flexíveis", contou o cartola.
Ele adotou um discurso similar a dos brasileiros. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, comparou a Copa a uma noiva que chega atrasada no casamento. Membro do COL (Comitê Organizador Local), o ex-atacante Ronaldo disse que era o "jeitinho brasileiro" a que os europeus estavam se adaptando.
Em meio a esses jeitinhos, ficou quase esquecido o legado da Copa-2014. Quer dizer, no discurso ele ainda existe. Mas a nova matriz de responsabilidades do governo federal indicou que, na conta final, vai se gastar mais com estádios do que com mobilidade urbana.
O orçamento do Mundial tem caído nos itens que mais ajudariam a população a ponto de atingir R$ 25 bilhões, R$ 8 bilhões a menos do que o previsto. Não há o que festejar visto que o dinheiro foi reduzido nos itens de infraestrutura e aumento para as arenas.
Sem transporte eficiente em todas as sedes para levar os turistas aos jogos, feriados e improvisos vão ser usados para garantir que não exista trânsito. Nada disso foi mostrado aos correspondentes estrangeiros na Costa do Sauípe durante as apresentações das 12 cidades-sede.
O que se viu foram apresentações de fotos de estádios atrasados, musa de festival do norte, exaltações a comediantes locais e até a ausência de uma das cidades, Curitiba. Um clima de festa. O mesmo que Valcke espera ver no país na Copa-2014, período em que, na sua opinião, não é hora de protestar. Pelo que se viu até agora, as autoridades vão tratar de dar um "jeitinho" para atendê-lo.
O evento começa às 14h (horário de Brasília) e terá acompanhamento em Tempo Real pelo UOL Esporte.