Aldeia hippie que encantou Mick Jagger pede para entrar na festa da Copa
Bruno Freitas e José Ricardo Leite
Do UOL, em São Paulo
O caminho entre o aeroporto Luis Eduardo Magalhães e o complexo na Costa do Sauipe que recebe o sorteio da Copa será frenético até a sexta-feira, com deslocamentos de cartolas e estrelas do futebol. No meio deste trecho, no entanto, a aldeia hippie que um dia encantou o ídolo do rock Mick Jagger preserva uma atmosfera de paz inabalável. Mesmo assim, os malucos belezas de Arembepe querem participar de alguma forma da festa da Fifa.
Pelo menos é assim que pensa o líder da aldeia hippie mais antiga e conhecida do Brasil, Álvaro Machado, 75 anos, o mais antigo da comunidade de Arembepe, a 30 km ao norte de Salvador e cerca de 50 km da Costa do Sauípe, onde ocorre na sexta-feira o sorteio dos grupos da Copa do Mundo.
Álvaro é uma espécie de "Joseph Blatter" do vilarejo, com ascendência sobre os demais. É uma referência da aldeia, que um dia recebeu personalidades como Mick Jagger, vocalista da banda Rolling Stones, Janis Joplin e também músicos nacionais como Tim Maia e Raúl Seixas (também Gilberto Gil e os Novos Baianos).
O veterano hippie começou a frequentar a praia por volta de 1962 e dez anos depois se estabeleceu de vez, trocando a vida de bancário em Salvador pela de artesão. O antigo vizinho do vocalista do Rolling Stones vive com a casa de portas abertas e sem cercas. Está sempre descalço e sem camisa e não precisa nem abrir portão algum para receber uma visita.
"É um privilégio viver sem portão e sem cadeado, só com paz e casa aberta. O hippie tem outra mentalidade, outra visão", falou.
A aldeia de areia fofa e resistente à tecnologia é quase outro planeta em comparação à realidade da região em semana agitada pela presença do circo da Fifa, com seguranças e patrulha policial o tempo todo na estrada do Côco, em razão do evento do sorteio da Copa.
"Vai ser na Costa do Sauípe esse negócio aí, né? Sabemos pela televisão", afirmou "Portuga", um dos outros experientes do vilarejo e que chegou em 1985.
Mas, de forma até surpreendente, os eventos da Fifa e a Copa do Mundo não são mal vistos. Pelo contrário, pode ser mais chance para as famílias hippies difundirem o ideal de integração e festa.
"É o seguinte, compadre, nós vamos para a república do reggae. Eles perceberam que os hippies são realmente uma experiência e aprendizado. E eles nos convidam e mandam um ônibus nos buscar. E em todas as festas alternativas entramos de graça. E vamos fazer isso na Copa também. Aldeia hippie vai chegar na Copa, Aldeia hippie quer entrar", falou o líder veterano Álvaro Machado.
"Queremos participar sim. Nós gostamos de festa, gostamos sim", falou o filho de Álvaro, ao ouvir a pergunta e praticamente interromper a resposta do pai.
Quando questionados sobre as tradicionais críticas quanto a gasto de dinheiro excessivo para a Copa, a turma paz e amor de Arembepe demonstra indiferença e exalta a festança que pode ocorrer.
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"Essa reclamação é calor da oposição, porque o mundo todo faz festa. Imagina que festa esse ferrolho? Tem que existir essa dúvida da oposição. Sim, eu aprovo sim. Já fui a dois Rock in Rio. (A Copa) é um encontro de pessoas, chance de se ver amigos", continuou, ao lembrar que Salvador será uma das sedes do torneio.
Mick Jagger foi hippie baiano
Quem mora na aldeia hippie de Arembepe conta com orgulho histórias das estrelas da música que lá passaram. Um cartaz na entrada celebrada as presenças ilustres do inglês Mick Jagger e da norte-americana Janis Joplin. O líder do Rolling Stones teria sido o frequentador famoso mais assíduo.
"Não tinha como não ver, eles passaram muito tempo aqui. O Mick Jagger fez uma casa de palha e botou quatro quartos e depois colocou telhas. Mandou colocar uma bomba de água até. Ele fez a casa em 1969 e durou até 1973. A transformação acontece com todos, ele viajou muito. Poucos sabiam que ele era o dono da casa. São loucuras do mundo".