Cinco chefes de sedes da Copa já se envolveram em escândalos de corrupção
Aiuri Rebello e Tiago Dantas
Do UOL, em Brasília e em São Paulo
Cinco executivos encarregados de coordenar a organização da Copa do Mundo em estados e municípios já enfrentaram processos judiciais em suas carreiras. Antes de serem chefes da Copa, eles responderam a acusações de financiamento irregular de campanha, desvio de selos do poder público, contratação irregular de empresas e falso testemunho.
Todos os envolvidos alegam inocência. Nenhum dos secretários citados em inquéritos nos últimos anos chegou a ser condenado. A maior parte das investigações, inclusive, foi arquivada.
Policial civil aposentado, o secretário Cláudio Monteiro é o homem de confiança do governador Agnelo Queiroz na articulação da Copa de 2014 em Brasília. Em 2012, teve seu nome envolvido no escândalo de corrupção que culminou na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Cachoeira, que investigou as relações do contraventor com empresas e políticos.
Monteiro teria recebido dinheiro da empreiteira Delta, uma das envolvidas no caso, de forma não declarada para financiar a campanha eleitoral de 2010 – ele perdeu a eleição para deputado distrital. Convocado a depor na CPI, negou envolvimento com o suposto esquema de corrupção. Gravações da Polícia Federal também apontaram o envolvimento dele com o grupo de Cachoeira na época em que era chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, no início do governo, em 2011.
O secretário acabou sendo inocentado pela CPI. "Ficou comprovado que não cometeu qualquer ato que desabonasse sua conduta e o secretário não responde a qualquer ação relacionada a esses temas", informou a Coordenadoria de Comunicação para a Copa do Distrito Federal.
Monteiro foi denunciado em novembro pelo MP (Ministério Público), numa ação sobre a lista VIP do camarote do Estádio Mané Garrincha na Copa das Confederações.
Deputado é denunciado por fraude com selos
Outro caso relacionado a campanha eleitoral envolve o secretário Kalil Sehbe, titular da pasta de Esporte e Lazer do Estado do Rio Grande do Sul. Em 2007, quando era deputado estadual, Sehbe foi acusado pela PF (Polícia Federal) de participar de um esquema de apropriação de selos postais pertencentes à Assembleia Legislativa.
Segundo a PF, selos dos Correios comprados pela Assembleia eram desviados e revendidos abaixo do valor de mercado. Ainda de acordo com a investigação, Sehbe teria usado selos desviados em suas campanhas eleitorais em 2006. Na tentativa de encobrir a fraude, segundo a acusação, a prestação de contas dos gastos na campanha foi feita com notas fiscais frias.
A defesa do ex-deputado alegou, no processo, que ele teria apenas contratado uma empresa para distribuir sua correspondência, não sabendo que essa empresa havia desviado os selos da Assembleia. Dois processos foram abertos para apurar a participação do político no esquema. Na esfera estadual, o Ministério Público pediu o arquivamento do caso. Segundo o governo do Rio Grande do Sul, Sehbe está confiante que será inocentado também na Justiça Federal.
Suspeita de contratação irregular em Cuiabá
O secretário Maurício Guimarães, do Mato Grosso, foi acusado de fraude em licitação pública e falsidade ideológica com mais cinco pessoas em 2008, quando ocupava o cargo de coordenador financeiro da Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Segundo a denúncia, os envolvidos contrataram uma empresa "sem o devido processo licitatório" e por um valor "elevado criminosamente".
Na época da acusação, Guimarães declarou que o processo era injusto e que a licitação pela qual é acusado foi realizada com base em atos firmados pela Secretaria de Estado de Administração (SAD), sem envolvimento direto dele. Procurada terça-feira, a secretaria da Copa do Mato Grosso não respondeu.
O nome de Guimarães voltou a aparecer em uma polêmica em outubro deste ano, quando o Ministério Público encontrou indícios de superfaturamento e favorecimento de uma empresa na licitação que previa a contratação de uma firma para instalar os assentos da Arena Pantanal.
Desvio de verba publicitária
O quarto caso envolve o secretário Mario Celso Cunha, do Paraná. Em julho de 2012, uma reportagem do jornal "Gazeta do Povo", de Curiitba, mostrou que Cunha era um dos 13 políticos da cidade que receberam verba de propaganda da Câmara Municipal ou tiveram ligação com pessoas que se beneficiaram do dinheiro destinado à comunicação da Casa.
Verbas da Câmara foram parar na conta de agências de publicidade que pertencem a familiares dos próprios vereadores ou a funcionários que trabalhavam em gabinetes de parlamentares. A denúncia não gerou condenação de ninguém. Procurado, o secretário Cunha disse ao UOL Esporte que não tem conhecimento do caso.
TV baiana abriu suposta conta-fantasma
Historicamente ligado à família de Antônio Carlos Magalhães, Isaac Edington atualmente comanda o Ecopa (Escritório Municipal da Copa). Em 2001, ele foi condenado a um ano e oito meses de prisão em primeira instância pela Justiça Federal por, supostamente, ter contribuído com a abertura de uma conta fantasma em nome da TV Bahia nos anos 1990. Houve recurso
Na época, Edington era diretor da TV Bahia. Ele foi acusado de falso testemunho e falsa perícia. Ao longo do processo, os investigadores encontraram indícios de que a conta fantasma financiou uma campanha de ACM ao governo da Bahia em 1990.
Edington nega envolvimento no episódio. "O delegado que presidia o inquérito policial — por ardileza ou maldade – talvez na tentativa de coagir-me, indiciou-me por crime de falso testemunho (negar ou calar a verdade, como testemunha, em inquérito policial), afirma o secretário em resposta enviada ao UOL Esporte. "Não fui condenado por participação no caso da conta fantasma, aludida, mas por suposto falso testemunho. Reitero que não respondo a nenhum tipo de ação ou procedimento judicial em qualquer esfera. Afirmo ainda que a minha atuação por mais de 30 anos no setor privado, sociedade civil e mais recentemente no setor público, são lastreadas por sólida conduta ética, profissional e moral", diz Edington.
Devolveu dinheiro por ter dois cargos
Um sexto secretário também esteve envolvido em polêmica, embora não tenha enfrentado processo jurídico. O secretário para a Copa do Mundo de Belo Horizonte, Camillo Fraga Reis, teve que devolver cerca de R$ 28 mil aos cofres públicos em outubro.
Reis era funcionário concursado do governo do Estado quando recebeu o convite para chefiar a pasta municipal. Antes do convite, porém, ele havia pedido para tirar três meses de férias-prêmio a que tinha direito, segundo a secretaria.
Ele alega que antes de pedir licença do emprego no governo do Estado e assumir a pasta municipal, o dinheiro das férias foi depositado. Um procedimento administrativo foi aberto, então, para providenciar a devolução do salário do emprego anterior. Mas, segundo a secretaria da Copa de Belo Horizonte, a devolução foi voluntária.