América do Sul flerta em 2014 com destaque inédito na Copa do Mundo
Do UOL, em São Paulo
Pela quinta vez na história, a primeira desde 1978, a Copa do Mundo de futebol será na América do Sul. E a edição de 2014, a ser realizada no Brasil, pode dar um destaque inédito à região, que além de chegar perto de seu recorde de participantes num Mundial ainda pode ter a metade dos cabeças-de-chave da competição, algo inédito no atual formato com 32 times.
A América do Sul já tem cinco seleções garantidas na Copa do Mundo de 2014. Além do Brasil, o subcontinente será representado por Argentina, Colômbia, Chile e Equador. O Uruguai, que enfrentará a Jordânia na repescagem, ainda pode engrossar a lista.
Até hoje, a única Copa do Mundo que contou com mais do que seis sul-americanos foi a de 1930. A primeira edição do Mundial foi realizada no Uruguai e teve, além do país-sede, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Peru entre os 13 participantes.
A possibilidade de igualar o recorde deve-se ao sistema de classificação. A distribuição de vagas entre os continentes segue um mesmo modelo desde a Copa do Mundo de 2006. O que muda apenas é o país-sede.
Desde o Mundial da Alemanha, a distribuição de vagas segue a seguinte lógica: a Europa tem 13, a África tem cinco, a América do Sul tem 4,5 (quatro e uma chance na repescagem), a Ásia tem 4,5, a Concacaf tem 3,5 e a Oceania tem 0,5.
Em 2006, a Copa na Alemanha aumentou o número de europeus – com a sede, o continente chegou a 14 representantes. No Mundial seguinte, na África do Sul, foi a vez de os africanos terem um lugar a mais. A edição de 2014 ampliará a presença dos sul-americanos.
Crise política
A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) reúne seleções de dez países. A chance de levar 60% deles à Copa do Mundo, curiosamente, acontece em um dos momentos de maior fragilidade política dos sul-americanos. Nicolás Leoz, presidente da entidade durante 27 anos, renunciou em abril de 2013.
Leoz integrou grupo de oposição a Joseph Blatter, presidente da Fifa (Federação Internacional de Futebol). Jack Warner (Trinidad e Tobago), Chuck Blazer (Estados Unidos), Mohamed bin Hammam (Qatar) e o brasileiro Ricardo Teixeira faziam parte da articulação, que foi severamente minada.
Todos os artífices do grupo político foram envolvidos em escândalos sobre suposta compra de votos nas eleições dos países que vão sediar a Copa do Mundo em 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar). Num período inferior a um ano, Warner, Blazer, Bin Hammam e Teixeira deixaram os postos que ocupavam.
Oficialmente, Leoz renunciou por problemas de saúde. A presidência da Conmebol ficou com o uruguaio Eugenio Figueiredo, que comandará a entidade continental até 2015.
Figueiredo, contudo, não tem a influência política de Leoz. A despeito de ter sido presidente da federação uruguaia entre 1997 e 2006, o novo mandatário da Conmebol ainda busca relevância até mesmo na América do Sul.
Neste ano, em São Paulo, ex-jogadores deram uma prova do quanto a Conmebol está fragilizada. Um grupo liderado por Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, fez uma reunião na sede do clube para discutir questões financeiras relacionadas à entidade continental.
O grupo apresentou denúncias sobre desvio de dinheiro e incongruências em contratos da Conmebol. O movimento de oposição, porém, não teve nenhum avanço notório após a reunião no Parque São Jorge.
Eliminatória sul-americana "vale mais"
Fragilizada politicamente, a Conmebol pode emplacar, além do recorde de representantes, 50% dos cabeças de chave da Copa do Mundo. Para isso, basta que o Uruguai confirme vaga – Argentina, Brasil e Colômbia têm lugar assegurado entre os oito times que estarão no primeiro pote do sorteio.
A possibilidade de quatro cabeças de chave sul-americanos é reflexo do critério adotado pela Fifa. Desde a Copa de 2010, a entidade usa o ranking de seleções divulgado em outubro para definir as equipes do pote 1. Nos quatro Mundiais anteriores, valia também o desempenho dos times nas edições passadas da competição.
O ranking da Fifa atribui pontos a partir da lógica de resultado x posição do adversário no ranking x continente do adversário x importância. Esse último critério dá peso 1 a amistosos, por exemplo, e peso 2,5 a partidas de eliminatórias.
Na Europa, os times que fizeram mais jogos de eliminatórias na fase de grupos atuaram dez vezes. A qualificação da América do Sul foi disputada por nove seleções, que se enfrentaram em turno e returno – portanto, cada uma fez 16 apresentações.
A Conmebol e a Uefa são as únicas confederações com peso 1. A Concacaf tem 0,88, a África e a Ásia têm 0,86 e a Oceania tem 0,85. Portanto, os times sul-americanos, que fizeram mais partidas nas eliminatórias, tiveram mais chances de somar pontos no ranking.
Desde 1998, quando a Copa do Mundo passou a ter 32 times e oito grupos, a única edição em que os europeus não foram maioria nos cabeças de chave foi a de 2002, que teve duas sedes (Coreia do Sul e Japão). Para 2014, Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Colômbia, Espanha e Suíça têm vaga assegurada no primeiro pote.
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