De olho no cofre

Obra para Copa usa só 10% de área desapropriada e gera investigação do MP

Renan Rodrigues e Tiago Dantas

Do UOL, no Rio e em São Paulo

  • Renan Rodrigues/UOL

    Área fica abandonada na Vila Recreio 2. Denúncia aponta que 10% das desapropriações foram úteis

    Área fica abandonada na Vila Recreio 2. Denúncia aponta que 10% das desapropriações foram úteis

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) investiga se a prefeitura fez desapropriações desnecessárias para construir o BRT Transoeste, corredor de ônibus que liga a Barra da Tijuca a Campo Grande e Santa Cruz. O BRT (sigla para Bus Rapid Transit) é uma das quatro obras de mobilidade urbana que fazem parte do pacote de intervenções apresentado pelo Rio para receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016.

Dois anos após a retirada de famílias que viviam nas regiões de Vila Recreio 2, Vila Harmonia e Restinga, parte dos terrenos está abandonada. A obra aproveitou cerca de 10% de toda a área desapropriada, segundo denúncia encaminhada ao MP-RJ pelo Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas. Moradores que tiveram que deixar suas comunidades sob o pretexto de que o corredor de ônibus passaria pelo local reclamam também do baixo valor da indenização paga pela prefeitura e de que foram enviados para locais distantes de onde viviam.

A denúncia foi distribuída, nesta segunda-feira, dia 16, para a 2ª Promotoria de Tutela Coletiva, que será a responsável pela investigação. Segundo o comitê, a desapropriação acima do necessário teria o objetivo de favorecer o mercado imobiliário, ao retirar comunidades carentes e abrir caminho para a construção de empreendimentos residenciais.

A prefeitura alega que o processo foi feito de maneira democrática, respeitando os direitos de cada família. A retirada das famílias dos terrenos que ficam no caminho do BRT Transoeste e o reassentamento delas é feito com base em decreto municipal, "que estabelece regras claras, baseadas nos direitos humanos e na busca da moradia digna", segundo a prefeitura.

A Câmara Municipal também pretende averiguar as denúncias. O vereador Renato Cinco (PSOL), da Comissão de Direitos Humanos, enviou, na semana passada, um requerimento para o poder público questionando quantas famílias foram removidas, para onde foram enviadas e quanto receberam de indenização. A prefeitura tem 30 dias para responder.

O jardineiro José Jorge Santos de Oliveira, que morava na Vila Recreio 2, próximo à entrada do túnel da Grota Funda, é um dos que reclama da forma como todo o processo foi conduzido. "Fomos removidos para nada. As áreas estão lá, sem nenhuma construção, nenhuma obra ou máquinas. Só tem entulho e casas derrubadas", afirma.

Oliveira diz que recebeu R$ 13 mil de indenização após dois anos de briga judicial. "Não dá para comprar nenhuma casa. Estou morando de aluguel, que inclusive está atrasado neste mês. Mesmo que não pagassem o valor mínimo estipulado em decreto, deveriam pagar o equivalente ao valor da casa", diz o jardineiro.

Em 4 de setembro, representantes da Anistia Internacional, Justiça Global e Câmara de Vereadores participaram de uma visita aos terrenos desapropriados organizada pelo comitê. A assessora de direitos humanos da Anistia Internacional no Brasil, Renata Neder, acredita que as desapropriações violaram regras internacionais de direitos humanos.

  • 12049
  • true
  • http://esporte.uol.com.br/enquetes/2013/09/09/voce-acha-correto-o-uso-de-dinheiro-publico-em-estadios-da-copa.js

"O processo violou quase tudo do início ao fim. Grande parte dessas áreas não foram utilizadas e as pessoas poderiam estar morando lá", disse Renata, ao citar demolições de casas feitas durante a noite, falta de negociação no valor da indenização e remoção de famílias para locais muito distantes de onde viviam.

As secretarias municipais e a Odebrecht, construtora contratada para fazer a obra, não explicaram a destinação dada a todos os terrenos desapropriados. Uma das áreas deu lugar à 18ª Gerência de Conservação da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos, uma unidade com sede administrativa, vestiário, almoxarifado e refeitório.

A Secretaria de Obras informou que "o terreno em questão não teve desapropriação e sim reassentamento, por ser área informal". Já a Secretaria de Habitação, responsável pelos reassentamentos, afirmou que as famílias foram avisadas com antecedência para "esclarecer sobre a natureza e a importância deste reassentamento, sempre motivado por interesse público mais amplo".

Na Vila Recreio 2, foram reassentadas 20 famílias; na Vila Harmonia, 67, e na Restinga 69 famílias, que, segundo a prefeitura, puderam optar entre a indenização ou o acesso a um imóvel do Programa Minha Casa, Minha Vida.

Com 56 quilômetros de extensão e 64 estações, o BRT todo tem custo estimado em R$ 1 bilhão. Atualmente, 44,5 quilômetros estão em funcionamento.

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos