Ofuscados e acuados, patrocinadores cobram solução da Fifa sobre segurança

Fernando Duarte*

Do UOL, em Salvador

Protestos na Copa das Confederações
Protestos na Copa das Confederações

A onda de protestos que tomou conta das principais cidades brasileiras nas últimas duas semanas está causando atritos entre a Fifa (Federação Internacional de Futebol) e um grupo graúdo na cadeia alimentar do futebol: os patrocinadores, que cobraram um posicionamento mais ativo da entidade nas conversas com as autoridades brasileiras depois de as manifestações resultarem na inibição de atividades promocionais durante a Copa das Confederações e mesmo na intimidação de convidados VIPs para partidas.

O UOL Esporte apurou que executivos de algumas das principais marcas associadas à Copa das Confederações e à Copa do Mundo tiveram reuniões de emergência com a Fifa para buscar a uma alternativa para um problema duplo. Na área do marketing, além das manifestações terem jogado o futebol para um plano secundário na pauta da mídia brasileira e internacional, "ofuscando" as marcas envolvidas, patrocinadores tiveram nos últimos dias que abortar ações promocionais, temendo pela segurança de seu pessoal.

No Rio de Janeiro, por exemplo, a exibição pública das partidas de quinta-feira foi cancelada. Rede Globo, Coca-Cola, Brahma e Hyundai montaram um telão na Avenida Presidente Vargas justamente para exibir suas marcas enquanto centenas de pessoas assistissem aos jogos. Com o protesto realizado na capital fluminense, o espaço do telão foi fechado e acabou depredado por manifestantes. Empresários não gostaram.

"As empresas investem milhões de dólares para associar a marca da competição e de repente não podem se beneficiar de forma apropriada do evento. Houve incômodo com uma percepção de que a Fifa estava hesitando para se pronunciar, ser vista no controle da situação", disse um executivo envolvido com um dos principais patrocinadores brasileiros do evento.

O outro ponto sensível é a exposição da grande quantidade de convidados especiais aos tumultos. O caso de Fortaleza foi considerado preocupante por um executivo ouvido pelo UOL Esporte: na partida de quarta-feira entre Brasil e México o esquema de segurança montado para impedir manifestações próximas ao estádio Castelão causou confusão logística e obrigou convidados a caminhar mais de 3 km para chegar ao estádio, em diversos momentos passando perto de manifestantes.

Convidados têm relatado cenas de intimidação, com alguns revelando ter ido à paisana para o estádio e aposentando o material promocional, o que também esconde as marcas dos patrocinadores. É importante ressaltar que a cobrança junto à Fifa tem se concentrado no entorno dos estádios. "A festa tem sido maravilhosa durante os jogos e muitos convidados, mesmo estrangeiros, vieram me falar de como ficaram encantados. Mas alguns também contaram que foram hostilizados por manifestantes e ficaram com medo", acrescentou o executivo.

O UOL Esporte apurou que Fifa e seus parceiros estão fazendo monitoramento diário da situação dos protestos, reforçando que a principal preocupação é com a segurança das instalações de dos funcionários.

As empresas nos últimos dias contrataram pessoal extra para cuidar da segurança de convidados e contrataram mesmo serviços na área de inteligência para criar planos alternativos de acesso. Das reuniões com a Fifa, teriam ouvido a promessa de que a entidade poderá antecipar horários de abertura dos portões dos estádios para facilitar os traslados de convidados e VIPs.

Por enquanto, empresas adotam medidas de preservação ao mesmo tempo em que tentam evitar a debandada de convidados. A Coca-Cola, por exemplo, cobriu um painel com sua marca montado ao lado do Maracanã, mas continua trazendo seus parceiros aos jogos no estádio. O UOL Esporte apurou, contudo, que as notícias sobre tumultos em Salvador já fizeram com que VIPs tenham desistido de viajar para a capital baiana para acompanhar Brasil x Itália.

Pacotes de hospitalidade corporativa são um filão e tanto para a Fifa, que já arrecadou mais de US$ 260 milhões com a venda para a Copa do Mundo de 2014.

Nesta sexta-feira, o UOL Esporte procurou quatro parceiros da Fifa na realização da Copa das Confederações do Brasil: Coca-Cola, Brahma, Rede Globo e Hyundai.  Até o momento, só a Coca-Cola se pronunciou sobre os problemas com os protestos realizados durante o torneio.

A fabricante de bebidas disse que as manifestações no Brasil "fazem parte do processo democrático", mas acrescentou que a Copa das Confederações e a Copa do Mundo " vão colaborar para o desenvolvimento econômico e social do país". A empresa não informou qual o prejuízo a ela foram causados por manifestações e depredações. Também refutou alterar sua parceria com a Fifa.

Oficialmente, a Fifa disse nenhuma mudança no seu esquema de segurança foi feita desde o início dos protestos. A entidade informou também que todas as suas cotas de patrocínio até 2014 estão vendidas e que não houve qualquer discussão com empresas para possíveis mudanças em planos de marketing.

*Atualizada às 18h10. Com reportagem de Rodrigo Mattos e colaboração de Vinicius Konchinski, do UOL no Rio de Janeiro

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