Em meio à crise, Dilma tenta encontrar Scolari e expõe reviravolta com CBF
Paulo Passos e Ricardo Perrone
Do UOL, em Salvador
Ao mesmo tempo em que tenta conter os protestos em diversas cidades brasileiras, Dilma Rousseff busca conciliar sua agenda com a do técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari. O desejo da presidente é encontrar o treinador durante a Copa das Confederações, que passou a ser foco dos manifestantes.
O plano inicial era promover o encontro nesta sexta, em Salvador, onde a presidente participaria do lançamento de um plano de apoio à agricultura local. No entanto, a viagem foi adiada por conta de uma reunião ministerial emergencial convocada por Dilma. Agora o estafe presidencial tenta compatibilizar as duas agendas.
A intenção de Dilma marca uma reviravolta em seu relacionamento com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Até então, era o presidente da entidade, José Maria Marin, quem tentava se aproximar, sem sucesso, da presidente.
Na abertura da Copa das Confederações, o cerimonial colocou um ao lado do outro. Dilma foi vaiada pelos torcedores, enquanto Marin aplaudia a presidente.
O site da CBF publicou foto dos dois juntos no Estádio Nacional de Brasília e escreveu que a imagem prova o bom relacionamento entre ambos.
Desde que Marin substituiu Ricardo Teixeira, a presidente se manteve longe do dirigente, que até hoje é criticado por sua relação com a ditadura quando era deputado. Dilma foi torturada durante o regime militar.
O interesse da presidente em se aproximar de Felipão acontece no auge dos protestos pelo país contra governos municipais, estaduais e federal. E isso ao mesmo tempo em que a seleção brasileira reconquista o carinho da torcida. No jogo com o México, quarta, os jogadores foram até os torcedores depois do apito final para agradecer o apoio.
No novo cenário, o movimento "Fora Marin" perdeu espaço, enquanto Dilma está no olho do furacão. Nesta manhã, ela tem uma reunião com seus ministros para decidir o que fazer em relação aos protestos, que incomodam a Fifa. Houve tentativa de invasão ao hotel em que o estafe da federação está em Salvador e um ônibus usado por membros da entidade foi apedrejado.
Já o estafe de Marin avalia que o presidente conseguiu quebrar o isolamento que enfrentava por causa da rejeição demonstrada a ele por parte do Governo Federal e da Fifa (Federação Internacional de Futebol). Na mesma semana, o site da CBF divulgou fotos do dirigente ao lado de Dilma e Lula. Antes, havia publicado imagem dele com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no Maracanã, durante o amistoso entre Brasil e Inglaterra.
Felipão e política
À frente da seleção, Luiz Felipe Scolari tenta se manter alheio às disputas políticas partidárias. Não quis comentar as vaias recebidas pela presidente na abertura da Copa das Confederações e depois disse que todos os jogadores tinham liberdade para falar sobre as manifestações que ocorrem desde a semana passada em todo país.
Em 2002, quando comandou a seleção brasileira na Copa do Mundo, Felipão apoiou abriu voto para o então candidato Ciro Gomes. O ex-ministro tinha defendido o treinador antes do torneio, quando a seleção estava em baixa e era criticada pela opinião pública.
"Na Copa a gente se falava por telefone. A seleção saiu debaixo de muita crítica eu defendia publicamente. O Felipão acho que se sentiu grato por isso", afirmou Ciro Gomes, em entrevista ao UOL Esporte.