Patriota assumido, Scolari se omite de comentar vaias a Dilma
Fernando Duarte e Paulo Passos
Do UOL, em Brasília
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Jefferson Bernardes/VIPCOMM
Técnico Luiz Felipe Scolari gesticula com os jogadores da seleção durante a partida contra o Japão
Em sua tensa entrevista coletiva após o jogo com o Japão, Luiz Felipe Scolari se queixou de comentários sobre seu patriotismo, tomando tempo para defender as declarações mais ufanistas dos últimos dias. No entanto, o treinador se recusou a comentar o que pode ser considerado uma demonstração menos patriótica do que qualquer alfinetada na seleção brasileira: as vaias de 68 mil pessoas à presidente Dilma Rousseff.
"Só vou falar sobre a parte tática", disse Scolari, em resposta a uma pergunta de duas partes que questionava sua reação sobre o tratamento à presidente.
O irônico é que, momentos antes, ele fizera um longo elogio ao comportamento da torcida em Brasília, classificado de "fantástico" o fato de a torcida ter cantado o Hino Nacional a plenos pulmões antes do início do jogo.
"Não adianta me criticar, falar que sou patriota ou demagogo, porque quando a torcida canta o hino dessa forma, assusta os adversários", disse.
Felipão também se esquivou de comentários sobre os protestos do lado de fora do estádio, apesar de seus jogadores terem abordado o assunto na zona mista e de, na véspera, o capitão Thiago Silva ter opinado abertamente sobre os distúrbios no Rio e em São Paulo. "Como eu tenho que observar a parte técnica do trabalho, a tática de meus jogadores, tenho que ficar concentrado com a seleção. Não sei o que aconteceu, não vi. Não posso responder", justificou-se o treinador.
Mas ele teve tempo para agradecer ao Corpo de Bombeiros de Brasília, em cujo centro esportivo a seleção treinou durante a passagem por Brasília, e para recomendar o Brasília Palace como hotel para times e seleções.
Desde que reassumiu a seleção, Felipão frequentemente tem recorrido a jargões patrióticos, especialmente quando pede o apoio do público. As manifestações que marcaram o dia também foram ignoradas por parte dos jogadores. "A gente não estava nem ligado nisso. Estava focado na estreia", disse Júlio César, que demonstrou certo incômodo quando um repórter insistiu e questionou se ele achava que a seleção seria seguida pelos protestos.
"Olha só, eu acho que é uma coisa que... Assim, não me diz respeito. É uma coisa política, acho que melhor que os jogadores da seleção brasileira tem presidente, tem uma série de outros cargos políticos aí [para comentar]", disse o goleiro.