Mexicano vai de imigrante ilegal deportado e lavador de carros a ídolo da seleção
José Ricardo Leite
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Getty Images
Carlos Salcido, jogador da seleção do México
Aos 33 anos, o meio-campista e lateral Carlos Salcido é uma das maiores referências do futebol mexicano. Foi escolhido como um dos veteranos da equipe que disputou e venceu a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Londres, em triunfo sobre o Brasil na final, no ano passado. Além disso, tem 108 jogos pelo time nacional, e já disputou duas Copas do Mundo, em 2006 e 2010. Mas sua história na seleção e dentro do próprio país são contadas desta forma hoje em função de alguns acontecimentos inesperados ao longo da sua vida.
Salcido poderia hoje ser mais um dos milhões de mexicanos que vivem ilegalmente nos Estados Unidos. Em sua adolescência, entre 15 e 17 anos, tentou por duas vezes burlar a segurança americana e atravessar a fronteira. Alguns de seus irmãos já haviam conseguido o feito, mas ele seguia morando apenas com o pai, já que a mãe morreu quando ele ainda era criança. No entanto, quando conseguiu adentrar o território americano, acabou pego pelas autoridades e foi deportado para o México.
"Eu era como qualquer jovem, que sempre tentava buscar o seu dinheiro e prosperar na vida. Queria apenas buscar boas oportunidades, como muitos fazem na vida. Via esse caminho como uma das maneiras", afirmou Salcido ao UOL Esporte.
O jovem então voltou para a cidade de Guadalajara e passou a ralar para ganhar a vida enquanto sua condição não prosperava. Jogava apenas peladas com os amigos e, apesar de se destacar, jamais tentou fazer teste em algum clube profissional.
"Não achava que era algo possível [se dar bem no futebol]. Lavei carros, caminhões e trabalhei em mecânicas e lojas de ferramentas. Fazia de tudo um pouco", lembrou.
Foi então que, com 19 anos e vários bicos realizados, Salcido teve uma chance que jamais esperava. Foi convidado para jogar uma partida por um time amador do qual não costumava participar. Foi um jogo esporádico em que a equipe teria vários desfalques. Eis que sua polivalência chamou a atenção de um dos olheiros do Chivas, um dos clubes mais tradicionais do futebol mexicano. E foi assim, por acaso, que sua carreira profissional começou.
"Só com 19 anos é que fui me encontrar com o futebol, sem esperar. Esse é o tipo de coisa que um esporte como o futebol pode proporcionar, uma mudança dessas na minha vida. Devo tudo graças ao futebol", disse o jogador mexicano.
"É uma história anormal, mas no México muitas pessoas começam de baixo. Mas o mundo é assim, já que hoje estamos aqui, no Brasil, para uma Copa das Confederações", completou.