Critérios técnicos, pessoais, médicos e até o relógio pesaram para Luiz Felipe Scolari definir a lista de 23 convocados para a Copa das Confederações, que será disputada entre os dias 15 e 30 de junho no Brasil. Adepto de um perfil linha-dura, Felipão não perdoou nenhum ato de indisciplina dos jogadores que estiveram nos cinco amistosos da seleção após sua volta. Ronaldinho e Ramires caíram por conta disso.

A imagem do meia-atacante do Atlético-MG sendo o último a se apresentar no hotel antes do amistoso contra o Chile, em Belo Horizonte, no dia 24 de abril, foi a gota d'água para Scolari. Ronaldinho chegou 25 minutos depois do horário marcado e teve que entrar pela porta dos fundos do hotel para não passar pelos jornalistas que estavam no local.

Ramires viveu situação semelhante. Lesionado, não pôde jogar o amistoso contra a Itália, em Genebra, no dia 21 de março. A previsão era de que estaria em condições de atuar quatro dias depois, contra a Rússia, em Londres. Para isso, estava combinado que iria se apresentar no sábado, dois dias antes do jogo, no hotel em que a seleção estava hospedada na capital inglesa.

O jogador do Chelsea não foi no dia e na hora marcada e chegou ao hotel apenas no domingo com a médica do clube, com um atestado em mãos justificando a ausência e pedindo liberação. Lucas, do PSG, que também tinha sido cortado por lesão, mas mesmo assim se apresentou, consultou o médico-chefe da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Luiz Runco, e jantou com os demais jogadores. Com isso, ganhou pontos com Scolari.

Ramires admitiu um "baque muito grande" por ter sido excluído da seleção brasileira que disputará a competição. Ele não acredita que o atraso em Londres tenha sido decisivo para ficar de fora da relação dos 23 convocados.

No caso de Ronaldinho, o atraso no último jogo não foi o único motivo que fez Felipão não ler o nome do jogador no anúncio dos 23 chamados para a Copa das Confederações. O UOL Esporte apurou que o técnico, desde que assumiu o cargo, quis saber como estava o comportamento do camisa 10 do Atlético-MG. Por telefone, conversou com Cuca, técnico do time mineiro e seu amigo desde quando ele foi seu jogador no Grêmio. Scolari não gostou do que ouviu sobre os excessos do ex-melhor do mundo fora dos gramados.

Através de sua assessoria de imprensa, porém, Felipão evitou polêmicas. Oficialmente, ele confirmou os contatos telefônicos com o Cuca, mas disse que todas as conversas foram pautadas apenas em questões técnicas.

À tarde, após o treino do Atlético-MG, o técnico Cuca negou que tenha criticado o comportamento de Ronaldinho fora do campo. Entretanto, quatro pessoas ligadas aos técnicos confirmaram ao UOL Esporte que Cuca e Felipão discutiram o assunto diversas vezes.

"Primeiro lugar quando convocamos, não temos foco apenas do clube. Temos informações dos clubes, mas o que é vivido dentro da seleção principalmente decide", afirmou Felipão. "A observação maior de disciplina é o que acontece na seleção e o que aconteceu nos cinco jogos", completou.

Quando assumiu a função de treinador da seleção, ainda em 2012, Scolari falou com Ronaldinho, também por telefone. Antes mesmo de qualquer convocação, disse que ele precisaria jogar mais, se dedicar mais aos treinos, a preparação física para ser chamado e sair menos à noite. Queria, novamente, um jogador com "fome de bola".

No primeiro jogo da nova era Scolari, Ronaldinho estava no time titular e recebeu afagos. Titular, foi homenageado pelos 100 jogos com a camisa da seleção brasileira, em Wembley, antes da partida. Em campo, pouco fez, errou um pênalti e viu o Brasil perder para a Inglaterra.

Além da análise do comportamento, o histórico de mau desempenho de Ronaldinho em jogos com a seleção levou a comissão técnica da seleção a esquecer o astro. Em entrevista ao jornal "Extra", o coordenador técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, falou sobre a falta de grandes atuações do meia-atacante com a camisa do Brasil. 

"É uma pergunta que está no ar há uns oito anos. Também aconteceu na Copa de 2006, lembra? Era o melhor jogador do mundo. Era o Messi do momento. Chegou à Copa como a grande esperança de ser o melhor da competição. E, você viu, ficou muito aquém da expectativa. Agora, convocamos. O primeiro amistoso, a gente entende. Estava fora de forma. Depois, jogou bem contra a Bolívia, mas eu esperava mais contra o Chile", disse Parreira.

Felipão e Parreira usaram o período de convivência durante os amistosos para analisar o comportamento e até a influência dos jogadores sobre os seus colegas. Do campeão do mundo Ronaldinho, os dois esperavam liderança sob os jogadores mais jovens. O meia-atacante chegou a ser capitão no empate com o Chile, último jogo antes da definição da lista. Neste quesito, Ronaldinho tampouco foi aprovado e assim como aconteceu em 2009, quando Dunga era o chefe, vai assistir a Copa das Confederações pela televisão.
 

VEJA A LISTA COMPLETA DE FELIPÃO PARA A COPA DAS CONFEDERAÇÕES:

*Atualizada às 18h30