Volante campeão mundial pela seleção brasileira em 2002, sob o comando de Felipão, o hoje zagueiro Gilberto Silva, que disputou três Copas do Mundo em sua carreira, mostra preocupação com o momento de transição vivido pela seleção nacional em 2013. O jogador atleticano, no entanto, diz acreditar na dupla Carlos Alberto Parreira e Luis Felipe Scolari e critica as cobranças em cima do atacante Neymar. "As pessoas precisam pensar somente no Neymar em campo", salientou.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o experiente atleta, que voltou ao Atlético-MG nesta temporada e que foi capitão da seleção brasileira, constata uma pressão exagerada sobre Neymar por parte da torcida brasileira e jornalistas esportivos. Para Gilberto Silva, Neymar tem sido mais comentado pela vida fora de campo do que por seu rendimento no gramado. Ele defende a transferência do Santos para a Europa antes da Copa do Mundo de 2014. "Para ser mais respeitado, seria melhor para ele, muita coisa iria mudar", justificou.

Além de mostrar preocupação com as críticas sobre Neymar, que Gilberto Silva considera o melhor jogador brasileiro da atualidade e em franca evolução, ele tem dúvidas em relação às chances de conquista da Copa do Mundo do ano que vem. Segundo Gilberto Silva, a falta de um time titular conhecido é principal problema para o futebol aquém das expectativa que sem sendo mostrado durante a preparação.

De volta ao clube do coração, depois de defender o Grêmio em 2012, Gilberto Silva assinou contrato por uma temporada para depois pensar se dará continuidade a carreira ou se irá se aposentar. Ele diz que a sua segunda passagem pelo Atlético tem sido de maior assédio na rua. O zagueiro não mostra descontentamento em relação ao posto de reserva. "Cheguei em um time que já está formado, eu já vim consciente, tenho de trabalhar bem, estar bem fisicamente, para quando jogar estar bem condicionado", salientou.

UOL: A seleção brasileira estará pronta para a Copa de 2014?
Gilberto Silva: Logicamente teremos um time para jogar a Copa do Mundo, mas não sei se teremos um conjunto, como tivemos em outros anos. Até agora tem sido a grande dificuldade da seleção em montar um time para que qualquer pessoa, perguntada na rua, saiba falar pelo menos os 11 titulares. Acredito que neste pouco tempo que o Felipão e a comissão técnica terão, a prioridade será montar um time, juntamente com as outras peças, e buscar rodízio mínimo para ter um time, pois você não tem tempo para treinar na seleção. Então, tem de buscar um time pronto já para a Copa das Confederações.

UOL: Felipão, que foi seu treinador em 2002, foi boa escolha para comandar a seleção novamente?
Gilberto Silva: Logicamente o tempo é curto, você fala de uma seleção que está em formação. A partir do momento que o Felipão e o Parreira assumiram a seleção, acho que a visão das outras pessoas com a seleção já mudou, há respeito maior, nada relacionado ao que era antes com o Mano (Menezes). Pelo histórico deles na seleção, mundialmente, pelo que já fizeram, impõem este respeito. Pela experiência, capacidade deles, vão procurar trabalhar da melhor forma possível para conseguir montar boa seleção.

UOL: Acha que Ronaldinho Gaúcho tem condições de disputar a Copa do Mundo de 2014?
Gilberto Silva: Tudo depende do Ronaldo, quem convoca é o próprio jogador. Ele tem nos ajudado bastante no Atlético, já fez isso na temporada passada, está fazendo de novo nesta, então, depende dele. Ele quando está bem, motivado é sempre um jogador importante, aqui no Atlético ou em qualquer outra equipe que estivesse jogando e também na seleção brasileira, pela qualidade que ele tem, pelo que ele representa. Pode ser importante.

UOL: Você vê como normal as críticas ao estilo Neymar? Falta uma blindagem maior em cima do jogador na seleção?
Gilberto Silva: Às vezes as coisas no Brasil acontecem de forma estranha, como os jogadores são criticados. Muito se fala que não temos um ídolo, nós temos o Neymar, melhor jogador do Brasil, melhor jogador da seleção brasileira e atuando no Brasil. Às vezes as pessoas estão preocupadas se o Neymar pintou o cabelo, deixou a unha crescer, se está com carro bonito, se está com namorada. Tem de deixar isso de lado, valorizar o Neymar, atleta profissional, o que ele está fazendo no Santos, na seleção brasileira. Algumas pessoas que criticam, não é de forma geral, esquecem que têm de avaliar o Neymar dentro de campo, esquecem que ele é um jovem de 20 anos, que está na flor da idade. Por mérito próprio, atingiu a condição dele, está de bem com a vida, mas está fazendo o trabalho dele em campo. Lógico que tem muito a aprender, é jovem e está amadurecendo já, está bem mais maduro do que quando começou.

UOL: Ainda pensa em servir à seleção? Houve conversa entre você e o Felipão quando ele assumiu?
Gilberto Silva: Estou aí (risos). Foi apenas boato. Eu e Felipão temos bom relacionamento, é uma pessoa que eu tenho muito carinho, admiração, consideração pelo trabalho, pessoa, ser humano que é e representa, mas é apenas boato (que Felipão ligou para saber se está pronto para jogar).

UOL: A campanha do Atlético-MG na Libertadores surpreende?
Gilberto Silva: Não é surpresa pela forma que a equipe tem jogado. No ano passado o time já jogou desta forma, conseguiu manter o grupo, coisa que é super difícil no Brasil, manter um grupo que termina uma temporada para a próxima, mas o Atlético conseguiu este feito, uma competição como esta você tem de ter o mínimo possível de erro. A equipe tem conseguido isso, foi importante conseguir a classificação antecipada, mas não quer dizer que temos de estar totalmente tranquilos para estes dois jogos, pois depois entra a fase final.

UOL: Sonha em marcar o gol do título da Libertadores?
Gilberto Silva: Não (sonho), de forma alguma, o primeiro pensamento não é este. Lógico que é consequência do que você faz dentro de campo, da partida. Quando os zagueiros têm oportunidade, que são raras, têm de aproveitar da melhor forma possível. Eles (os zagueiros titulares Réver e Leonardo Silva) estão aproveitando bem esta força, mas você tem de pensar primeiro ir bem atrás, pois zagueiro é uma posição ingrata, tem de ter margem mínima de erro, são poucas oportunidades que você tem para chegar à frente, mas se isso acontecer um dia será legal.

 

UOL: Como tem sido os primeiros meses na volta a Belo Horizonte?
Gilberto Silva: Desde a minha saída houve um carinho grande da torcida do Atlético comigo, mas neste tempo que fiquei fora era até mais tranquilo andar na rua, hoje, não que não esteja, mas jogando no Atlético, o assédio é maior do torcedor, mas é um carinho gostoso, reconhecimento do trabalho, por tudo o que fiz aqui anteriormente, na minha carreira, poder vestir novamente a camisa do Atlético é algo que muito gratificante para mim.

UOL: Com contrato com o Atlético tendo duração até o final do ano, já pensa na renovação?
Gilberto Silva: Estamos ainda no primeiro quarto do ano, ainda é cedo falar se vou renovar, vai depender de mim, do Atlético. O importante é aproveitar o máximo que puder, ajudar o Atlético a conquistar seus objetivos na temporada, jogando bem. Este será o maior prêmio para mim e para o Atlético. Estou super tranquilo em relação ao que vai vim após o contrato, renovação ou não, é trabalhar da melhor forma possível e depois pensar nisso.