Romário quer que Marin se explique na Câmara sobre envolvimento com a ditadura militar

do UOL, em São Paulo

  • CBF/Divulgação

    Romário cumprimenta José Maria Marin em visita do presidente da CBF ao Congresso, em maio de 2012

    Romário cumprimenta José Maria Marin em visita do presidente da CBF ao Congresso, em maio de 2012

O deputado federal Romário (PSB-RJ) propôs na tarde desta quinta-feira (14), durante discurso no plenário da Câmara dos Deputados, que o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin, explique seu envolvimento com a ditadura brasileira (período em que o Brasil foi governado por militares, de 1964 a 1985), e com a morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado enquanto estava preso, em 1975. O deputado quer que Marin seja convidado para uma audiência pública no Congresso sobre o assunto.

"As suspeitas sobre o Presidente da CBF são graves e constrangedoras", afirmou Romário. "Nós, atletas e ex-atletas, ficamos muito desconfortáveis com esse tipo de situação, principalmente num momento em que o Brasil se expõe ao mundo, ao se preparar para receber megaeventos esportivos. Será que merecemos ter à frente do nosso esporte mais querido, mais popular, um esporte que orgulha o nosso povo, uma pessoa suspeita de envolvimento, ainda que indireto, com tortura, assassinato e a supressão da democracia?", disse.

O site da CBF divulgou uma nota nesta quarta-feira (13) contestando acusações de que Marin teria defendido a prisão Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo no dia 9 de outubro de 1975, quando era deputado estadual. O jornalista foi assassinado na prisão em 25 de outubro de 1975, durante o regime militar.

"Será que a CBF, que comanda um esporte intimamente vinculado à cultura nacional, pode ser dirigida por alguém que pedia a repressão a uma emissora estatal de televisão, a TV Cultura, à qual estava vinculado Vladimir Herzog?", afirmou o deputado durante o discurso. Ele também cobrou mais transparência sobre as ações da entidade máxima do futebol brasileiro.

O filho de Vladmir Herzog, Ivo Herzog, lançou na internet um abaixo-assinado pedindo a saída de Marin da presidência da CBF por causa de sua relação com o governo militar. Marin chegou a ser governador de São Paulo durante a ditadura.

"Muita gente não sabe, mas o senhor Marín, antes de entrar para o milionário negócio do futebol, chegou a ter algum destaque como político. Ele presidiu a Câmara de Vereadores de São Paulo e, antes de se tornar governador do Estado, foi deputado estadual pela ARENA, o partido da ditadura", afirmou Romário em seu discurso.

"Com certeza muita coisa ainda falta ser esclarecida, e a sociedade brasileira tem o direito de conhecer toda a verdade. Muitos de nós parlamentares, bem como a Presidente Dilma e o conjunto da sociedade brasileira, têm interesse em saber se o senhor José Maria Marín, hoje presidente da Confederação Brasileira de Futebol, manteve, naquele período, alguma relação com os órgãos da repressão, como, por exemplo, o DOI-CODI", disse o deputado no plenário da Câmara. "E também se ele contribuiu com crimes de violação dos direitos humanos no país".

Jogadores perseguidos

Romário ainda lembrou alguns jogadores que sofreram ou teriam sofrido perseguição durante o regime militar. Afonsinho, Nando, Reinaldo, Sócrates e Vladimir foram citados.

O deputado propôs a realização de uma audiência pública conjunta entre a Comissão de Turismo e Desporto e a Comissão Memória, Verdade e Justiça, para debater o tema "o futebol e a ditadura". Ele pediu também a participação da Comissão Nacional da Verdade, que investiga crimes contra os direitos humanos praticados durante a ditadura, com a disponibilização de documentos e informações produzidos durante os trabalhos sobre o assunto.

"Tenho observado que a Presidente Dilma tem dificuldade de engolir o presidente da CBF. Assim como o ministro Aldo Rebelo também tem, principalmente agora, depois da divulgação da gravação em que Marín diz as bobagens que pensa sobre o Ministro de Esportes", continuou o deputado.

"Que imagem o Brasil passa para o mundo e para a história do futebol, tendo à frente da CBF e do COL um personagem com este perfil?", disse ao final do discurso.

CPI da CBF

No dia 6, Romário foi eleito para a presidência da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara. Na ocasião, o deputado já havia atacado Marin. "José Maria Marin é completamente nocivo à gestão esportiva. Tem um histórico de vida vergonhoso, desde um roubo de medalhas ao roubo de energia", afirmou.

Em dezembro do ano passado, Romário conseguiu o apoio de 184 deputados e protocolou um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da CBF, para investigar um contrato entre a entidade máxima do futebol brasileiro e a TAM. Os pagamentos da companhia aérea teriam sido feitos a um empresário amigo do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que não possuía relação formal com a entidade.

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