Vila Madalena tem jovem espancado e predadores em ação
Paulo Anshowinhas
Do UOL, em São Paulo
Apesar de um número reduzido de público, o sábado de derrota do Brasil na Vila Madalena também foi marcado por um jovem espancado, furto de equipamentos fotográficos e a ação livre de predadores sexuais nas ruas do bairro.
Por volta das 22h, um rapaz embriagado esbarrou em um ambulante que vendia doses de bebidas alcoólicas em pequenas taças equilibradas em uma bandeja. A queda das bebidas foi razão suficiente para os amigos do ambulante espancarem brutalmente o jovem Julio Wegner, de 32 anos, que foi chutado caído no chão até a chegada de populares que o socorreram em um momento crucial.
A polícia apareceu em menos de cinco minutos, ofereceu os primeiros socorros ao jovem ensanguentado e o encaminhou para atendimento de emergência na Santa Casa. Júlio precisaria passar por suturas devido a cortes profundos no rosto, e faria uma tomografia. O causador da confusão foi detido para averiguação.
Duas horas antes, o fotojornalista Rubens Cavaliari, do jornal Agora, do Grupo Folha, teve parte do seu equipamento furtado durante o primeiro tempo do jogo na rua Aspicuelta, em plena luz do dia. Foi orientado a fazer um boletim de ocorrência eletrônico.
Ao mesmo tempo, perto dali gangues de predadores sexuais agiam livremente na rua assediando suas vitimas, inclusive sem se incomodar com a presença da polícia.
Grandes, fortes e musculosos, esses halterofilistas também chamados de "pitboys" desfilavam seus corpos definidos sem camisa (apesar do frio de cerca de 18 graus) para se aproximar e atacar suas frágeis presas.
A reportagem do UOL Esporte seguiu a meia distância por cerca de uma hora um desses grupos para entender o funcionamento dessa prática criminosa de assédio sexual que funciona livremente nas ruas do bairro em dias de jogos.
O processo é sempre idêntico. Os alvos escolhidos normalmente são meninas solitárias, ou que estão em pequenos grupos. Elas são abordadas e encurraladas por eles. Com sua força, as agarram pelos braços, cabelos, ou já vão abraçando e tentam beijá-las a força. Mesmo com a negativa das meninas, esses brutamontes continuam a insistir até conseguir um beijo na boca, ou algo mais. Insatisfeitos tentam acuar e levar as meninas até um muro próximo, ou então exigem pegar o número do celular delas.
Assim como em uma competição, esses jovens comemoram após ter conseguido agarrar o maior número possível de meninas em uma noite. Um desses pitboys vestia apenas um short vermelho e nesse período em que o observamos mais de oito meninas passaram por esse constrangimento ilegal.
Em um desses casos uma turista argentina foi agarrada a força em frente a uma fileira de policiais entre as ruas Aspicuelta e Fradique Coutinho, e mesmo pedindo desesperada para ser solta, o rapaz não se intimidou e prosseguiu com a intimidação até conseguir o seu objetivo, sem reação dos policiais.
Após "libertada", a reportagem foi falar com a turista argentina. Assustada e ofegante disse que o rapaz a atacou e disse que esse "procedimento" era comum por aqui, e como tudo que ela queria era se libertar, preferiu ceder às exigências do agressor.
Mas não é assim. Um relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde), define violência sexual como "Qualquer ato sexual ou tentativa do ato não desejada, ou atos para traficar a sexualidade de uma pessoa, utilizando repressão, ameaças ou força física, praticados por qualquer pessoa independente de suas relações com a vítima".
Esse tipo de comportamento também pode ser enquadrado em uma pesada transgressão, de acordo com o Código Penal Brasileiro em vigência, que inclui estupro, atentado violento ao pudor ou assédio sexual. Esses tipos de crime podem ter penas que chegam a atingir 10 anos de reclusão.
Falamos também com outras três meninas – aparentemente menores de idade – sendo que duas conseguiram se desvencilhar dos braços fortes do transgressor, e uma que teve de beijar o pitboy, mesmo contra vontade.
"Cara, ele era muito forte. Foi só um beijo, mas não escreve isso não senão minha mãe me mata", pediu.
A banalização do problema ou o medo de exposição pública ou familiar impede a maioria dessas vítimas de apresentar uma denúncia formal às autoridades.
A reportagem do UOL Esporte relatou o problema para o Grupo Integrado de Serviços Públicos (formado pela PM, GCM, CET, Prefeitura e outros órgãos públicos) responsável pela operação de segurança no local durante os dias de jogos da Copa.
Na mesma hora a PM tentou localizar alguns desses suspeitos em uma varredura feita por volta da meia noite, mas não os localizou. Prometeu investigar o caso e agir ainda neste domingo.