Jogadores da seleção evitam se meter em sucessão, mas elogiam Felipão
Gustavo Franceschini e Paulo Passos
Do UOL, em Brasília
A seleção brasileira ainda não sabe qual será seu treinador no próximo ciclo, mas até agora, ao menos publicamente, os jogadores elogiam Felipão. Ainda que nenhum entre em campanha aberta pela permanência, os atletas reagem positivamente quando questionados sobre o comandante do time que naufragou na Copa do Mundo de 2014.
"Acho que o trabalho dele foi bem feito, não se pode colocar tudo em questão em dois jogos. Vamos tirar a lição. Tirando exemplo de outras seleções, tem de mantê-lo, dar continuidade, mas isso não sou eu que vou decidir", disse o zagueiro Dante.
"Não tem como eu não aprovar. Felipão foi excelente até hoje. Tomara que continue, mas se não continuar, que venha outro. Seleção é assim, com os jogadores também. Não é certeza que vou estar na próxima Copa nem nos próximos amistosos", emendou Oscar.
"Acho que o Felipão fez um belo trabalho desde que assumiu a seleção. A gente vai ver o que vai acontecer. Eles vão ter uma conversa para definir o futuro ainda", disse Fernandinho.
A opinião dos três mostra a unidade de discurso que a seleção vem adotando desde o 7 a 1 sofrido diante da Alemanha na semifinal. "Começamos juntos e vamos terminar juntos", repetem os jogadores sempre que um jornalista tenta individualizar as críticas.
Craque e capitão do time, respectivamente, Neymar e Thiago Silva também opinaram sobre Felipão, seguindo a mesma linha de elogiar sem se comprometer. "Não é porque ele está do meu lado. Já falei para ele, na frente do grupo, que confiamos nele. O que crescemos com ele em um ano e meio… Momento não é de crucificá-lo, por um erro ou um acerto. Um grupo quando erra, erra todo mundo", disse o zagueiro, em entrevista concedida ao lado do chefe, um dia antes do jogo contra a Holanda.
"Nós brasileiros, principalmente a imprensa, temos uma mania um pouco errada de que quando se perde tem de mudar. No futebol não é assim, aprendi que não é assim. Não estou falando que não tem de mudar nada. Tem de corrigir trabalhando, treinando", disse o atacante no dia anterior, na Granja Comary.
Os discursos de apoio, porém, devem ser vistos com algum ceticismo. Embora manifestem aprovação ao estilo de Scolari, os atletas também mandam sinais contraditórios sobre o treinador.
No último sábado, por exemplo, chamou a atenção a cena dos reservas, liderados por Neymar, passando instruções a Thiago Silva quando o zagueiro foi ao banco beber água. Felipão, logo trás, só assistia a tudo sem participar.
Quem cerca os jogadores já não aprova mais o treinador. Como mostrou o UOL Esporte, familiares, empresários e assessores de atletas da seleção se incomodaram com a atitude de Felipão, que chamou jornalistas próximos para uma conversa e disse, entre outras coisas, ter se arrependido de ter convocado um dos 23 membros do seu elenco.
Os próprios jogadores não esconderam o incômodo com a declaração após o jogo seguinte, com a Colômbia. Nada indica, porém, que eles serão ouvidos pela direção da CBF, tenham opiniões contra ou a favor de Felipão. Depois do 3 a 0 diante da Holanda, o treinador não anunciou sua demissão ou permanência, que devem ser decididas em um encontro com a cúpula da entidade em breve.