Ídolo repentino, David Luiz vacila na reta final e arranha imagem positiva

Gustavo Franceschini e Paulo Passos

Do UOL, em Brasília

David Luiz tornou-se, ao longo da Copa do Mundo, uma das maiores referências da seleção brasileira, assumindo repentinamente o papel de ídolo do time. Na hora da decisão, porém, o zagueiro teve papel fundamental na queda vertiginosa do time. Impreciso e impulsivo, o camisa 4 vacilou diante de Alemanha e Holanda, arranhando a imagem positiva que construiu ao longo da competição.

As falhas nos dois últimos jogos foram fundamentais para o Brasil sofrer as duas maiores derrotas de sua história nas Copas do Mundo. Termômetro do time ao longo do torneio pelo lado positivo, mostrando raça e apoio aos companheiros em momentos difíceis, David Luiz cumpriu o mesmo papel nas horas de dificuldade. Incomodado com as falhas, se lançou ao ataque e não manteve a calma que se poderia esperar.

Contra a Alemanha, David errou logo no primeiro gol, quando caiu no corta-luz do ataque germânico e deixou Muller livre para abrir o placar. Capitão do time na ausência de Thiago Silva, o zagueiro se desesperou, bateu os braços no ar e reclamou consigo mesmo. Nos minutos seguintes, foi o mais cabisbaixo dos brasileiros, atitude que só se potencializou a partir do segundo gol alemão.

Desesperado pela virada, David Luiz exagerou nos passes longos e foi atuar adiantado. Arriscou-se como ponta e, a partir do meio do segundo tempo, voltou só até o meio-campo, deixando Luiz Gustavo improvisado na zaga ao lado de Dante. Foi a "vontade de vencer", como ele explicou depois da eliminação doída.

No último sábado, a cena voltou a se repetir. No primeiro gol, David não acompanhou Robben e viu Thiago Silva fazer pênalti no holandês depois dele mesmo ter vacilado com Van Persie. No segundo, rebateu uma bola fácil para o meio da área, no pé de Blind, que fez 2 a 0.

De novo em desvantagem, David Luiz foi novamente para o ataque. O mapa de calor da Fifa mostra que, contra Alemanha e Holanda, ele chegou mais no campo ofensivo que diante da Colômbia, por exemplo, quando chegou até a marcar um gol.

Arte/UOL
Mapa contra Colômbia, Alemanha e Holanda mostra subida ao ataque nos últimos jogos

"Foi um duro golpe que a gente tomou contra a Alemanha. Hoje [sábado] a gente queria dar o terceiro lugar para a torcida. Aí você toma o gol a um minuto e fica emocionalmente triste novamente, desgastado", disse David Luiz, que tratou as idas ao ataque como estratégia. 

"Hoje a gente viu o plano de jogo que eles tinham, que era dar espaço para sair e depois dar o press [fazer a pressão]. Você tem de encarar o jogo como se apresenta. Tenho a minha característica, sou humilde para aprender, mas fiquei triste porque sou de defesa. Em dois jogos, se você toma dez gols não fica feliz mesmo, né?", completou.

A Copa do Mundo de David Luiz até a semifinal havia sido exatamente o oposto de tudo isso. Extrovertido, carismático e simpático, o zagueiro conquistou a torcida que até um ano atrás mal o conhecia. Até as quartas, era apontado pela Fifa como o melhor jogador de todo o torneio.

"Eu trocaria uma copa totalmente ruim para mim para ter o título, pode ter certeza absoluta. Nunca fui um cara egoísta, nunca pensei só em mim. Tem de ter humildade para ver onde errou, discernimento e maturidade para ver o que fez de bom e tentar manter no futuro, estar mais forte", resumiu o zagueiro, que apesar das falhas tem tudo para ser um dos nomes mais importantes do time no próximo ciclo.

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