Jogadores de 74 e 78 divergem sobre o valor da disputa de 3º lugar

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

Para o técnico holandês Van Gaal, não devia sequer haver disputa de 3º lugar. Felipão tenta convencer o Brasil de que o jogo é uma espécie de sonho menor e Thiago Silva acredita que o Brasil jogará pela honra.

Outra geração da seleção brasileira esteve na mesma situação por duas vezes, em 1974 e 1978. Nelinho, Émerson Leão e Waldir Peres conversaram com o UOL Esporte sobre o valor de um jogo que, como diz Van Gaal, talvez nem devesse existir. Nelinho foi um dos destaques da disputa pelo 3º lugar em 1978. Leão era o goleiro titular do Brasil nas duas campanhas. Waldir Peres, goleiro reserva, nem chegou a jogar durante as Copas de 1974 e 1978, mas acompanhou os torneios do banco.

Os três divergiram sobre a importância da disputa. Nelinho segue a linha de Van Gaal. Leão ficou indignado com o técnico holandês. Waldir Peres tem uma visão mais pragmática, mas também não acredita que o jogo terá grande valia para a seleção brasileira.

Nelinho, lateral direito que fez gol na vitória de 2x1 contra a Itália

"Olha, no meu caso acabou sendo bom, porque eu fiz um gol que ficou marcado e é lembrado até hoje. Mas, honestamente, eu tenho a opinião do Van Gaal: a disputa é muito ruim. As duas equipes estão chateadas e são obrigadas a fazer o jogo porque a Fifa vai ganhar mais dinheiro. Eu não vejo sentido nisso. O 3º lugar deveria ser definido pela campanha das seleções, pelos índices que a Fifa tem. Funciona assim com a Costa Rica e a Colômbia, que saíram nas quartas de final. Então, que se usa o mesmo critério para 3º e 4º lugares, e acabou. É muito duro imaginar o que esses jogadores estão passando nesses dias que antecedem a partida. Eles estão loucos para voltarem pra casa e ficar com os familiares."

Alto risco; nenhum benefício
"Esta disputa não trás benefício nenhum. Se o Brasil ganhar, vai apagar o que aconteceu contra a Alemanha? Não vai. E, se perder, vai piorar. Para a Holanda, que tem outra cultura, de repente uma vitória pode amenizar a eliminação. Mas, para o povo brasileiro, não ameniza nada. O brasileiro só quer saber de ganhar: segundo lugar, para os brasileiros, não vale nada."

Matuiti Mayezo/Folhapress

Waldir Peres, goleiro reserva em 1974 e 1978 e titular em 1982

"É bom para aquelas seleções que não têm tradição dentro do futebol, como foi a Bulgária há um tempo atrás; como foi com a própria Coréia. Na verdade, para as seleções de ponta não interessa muito. Brasil, Itália, Holanda, Alemanha, Argentina têm que ser campeãs do mundo. Como está determinado há muito tempo, tem que ter o jogo. Eu participei da Copa de 74, na qual o Brasil perdeu para a Polônia. O Brasil teve uma derrota para o Holanda, e o 3º e 4º  não tinha tanta importância. Em 78, foi diferente, porque o Brasil foi eliminado com a diferença de gols para a Argentina. Aí foi disputar 3º lugar contra a Itália e acabou ganhando, para mostrar que não merecia estar fora da final. Mas, agora, depois dessa derrota de 7x1 para a Alemanha, mesmo que ganhe da Holanda, nada vai tirar essa mancha."

Amadurecimento
"Cada competição aumenta seu gabarito para enfrentar decisões difíceis. Por exemplo: nossa seleção de 2014 não pegou experiência, a não ser na Copa das Confederações.  Mas esta competição só tem dois ou três times de ponta; o resto não é nem de terceira categoria. A disputa de 3º lugar deve servir de experiência para esses jogadores. Eles provavelmente vão disputar uma Copa América, uma eliminatória. Aí já vão se preparando emocionalmente para a Copa de 2018."


Arquivo Folha

Émerson Leão, goleiro da seleção em 1974 e 1978

"Eu disputei com imenso prazer o último jogo. A despedida de uma Copa do Mundo, para nós, infelizmente foi a disputa de 3º e 4º lugares. Em 74, nós ficamos em 4º. Em 78, ficamos em 3º após vencer a Itália, e invictos. Nós tivemos dignidade e respeito pelo torcedor. Esse Van Gaal já fez uma besteira ao tirar o goleiro na hora de bater os pênaltis. Eu já não gostava dele e passei a não gostar mais ainda, porque ele detesta jogador brasileiro. Agora, ainda fala uma besteira dessas. Acho que devia ser afastado do cargo de treinador. Depois que nós saímos, eu estava torcendo pela Holanda, porque é um time que sempre chega perto, mas nunca consegue. Para eles, nada melhor do que um prêmio desses. Mas, com a mentalidade desse treinador, não pode conseguir nada mesmo."

Dever cumprido
"Eu penso que independente de qualquer coisa, traz uma paz, uma sensação de dever cumprido. Traz uma paz em relação ao que esperam sua família e os torcedores brasileiros. É uma questão de dignidade. Não disputar o jogo é um desprestigio à competição, à camisa, ao torcedor e, principalmente, aos técnicos."

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