Robben, o bravo guerreiro. Quem não o conhece ainda precisa ver a Copa
Guilherme Palenzuela
Do UOL, em São Paulo
Arjen Robben joga nesta quarta-feira a chance de colocar a Holanda na segunda final seguida de Copa do Mundo. Precisa superar a Argentina de Lionel Messi no Itaquerão, em São Paulo, às 17h. E se a Copa parece ter perdido parte de seu significado com o massacre do Mineirão, nesta terça-feira, um jogador como Robben mostra que o melhor momento ainda pode estar por vir. Apesar de alguns não o conhecerem, ele é bravo, é guerreiro, e renasceu diversas vezes ao longo da carreira para viver seu melhor momento exatamente agora, aos 30 anos de idade.
Variados tipos de lesões acompanharam Robben durante toda a carreira. Poucas foram a temporadas, desde quando surgiu no Groningen, da Holanda, em que ele conseguiu jogar todas as partidas que queria. E as lesões, em determinados pontos de sua trajetória profissional, fizeram com que ele deixasse de entrar no patamar dos melhores jogadores do mundo. Como em 2007. Era sua primeira temporada no Real Madrid e primeiras atuações em nível espetacular fizeram com que ele fosse comparado a Lionel Messi, adversário no jogo desta quarta, que aos 20 anos já aparecia com o rótulo de futuro melhor jogador do mundo. Mas as lesões vieram.
O jogo desta quarta-feira e a possibilidade de um Robben na final da Copa do Mundo são quase garantias de algo épico pelas últimas decisões do holandês. Ele foi vilão e herói, uma vez seguida da outra, em duas finais de Liga dos Campeões da Europa pelo Bayern. Em 2011-2012, perdeu pênalti no tempo normal contra o Chelsea. Depois, com o placar empatado, viu sua equipe perder na disputa de penalidades e dar o primeiro título da história do clube inglês na competição – clube no qual ele mal conseguiu mostrar seu talento, anos antes. Mas 12 meses depois, um novo drama, agora para o adversário. Robben teve atuação espetacular e marcou no último minuto da partida o gol do título do Bayern sobre o rival Borussia Dortmund. Chegou ao topo da carreira. Ou perto.
Arjen Robben, até chegar ao Bayern, era apenas um driblador. Um jogador que participava da fase de construção, e não da conclusão. Jogava tanto pela esquerda – é canhoto – como pela direita. Não era exatamente definido como um ponta direita, como é hoje. Quem mudou a história de sua carreira foi Louis Van Gaal, atual técnico da Holanda, técnico do Bayern de Munique em 2009, quando pediu a contratação do compatriota que estava sendo chutado do Real Madrid.
Van Gaal provocou uma completa transformação em Robben. Não só no estilo de jogo, mas também física. O ponta driblador virou um jogador com destaque também para a força física, ainda mais explosivo. O treinador, que o conhecia havia mais de uma década, o colocou fixo na ponta direita. E Robben, então, começou a repetir de forma incansável sua jogada que virou um rótulo, a conexão óbvia para quem já viu o holandês jogar: o drible cortante, da direita para dentro do campo, seguido do chute para o gol. Tão previsível, tão eficaz. Ele marcou 23 gols em sua primeira temporada na Alemanha, algo espetacular para um jogador de lado do campo, com 37 jogos. Anteriormente, em Chelsea e Real Madrid, sua melhor temporada havia sido em 2004-2005, quando chegou à Inglaterra. Fez nove gols em 29 jogos, apenas.
À medida que Van Gaal, um dos pais do futebol holandês, seguidor do pioneiro Rinus Michels, levou o futebol de Robben ao nível máximo, ele também traiu a cultura nacional. Robben contradiz absolutamente todo o estereótipo do futebol coletivo da Holanda, algo que ficou rotulado pelo time de 1974, de Michels no comando e Johan Cruyff no campo. Robben é um solista, e não um jogador de equipe. Ele corre, dribla e chuta. Raramente toca a bola. É mais veloz e dribla com mais qualidade do que quase todos os jogadores de futebol no planeta, justifica-se.
A Holanda que chega à final da Copa do Mundo tem Robben em sua versão. Por depender completamente de sua velocidade para jogar, não era de se esperar que o auge acontecesse aos 30 anos. Mas assim foi. Na última temporada, com Pep Guardiola no Bayern de Munique, ele fez 21 gols em 45 jogos. Nunca, desde a transferência do PSV Eidhoven para o Chelsea, há dez anos, em 2004, ele havia feito tantas partidas em um mesmo ano. Na primeira temporada em que não sofreu com lesões, Robben se firmou entre os melhores do mundo. Agora, contra Lionel Messi, tem a chance e os argumentos para, enfim, ficar conhecido de todos e não passar despercebido.