Capitães na semifinal: como os donos da faixa contam histórias das seleções

Do UOL, em São Paulo

Lionel Messi, Philipp Lahm, Robin van Persie e Thiago Silva. Em ordem alfabética, esses são os quatro candidatos a erguer a taça da Copa do Mundo no dia 13 de julho deste ano, no Maracanã. São quatro jogadores de perfis totalmente diferentes, que ascenderam de formas diferentes, mas que se aproximam por não serem totalitários. Os capitães de Argentina, Alemanha, Holanda e Brasil são pontos importantes para entender as seleções que ainda postulam o título.

Nesta terça-feira, por exemplo, o Brasil jogará sem seu capitão. Suspenso por acúmulo de cartões amarelos, Thiago Silva verá David Luiz com a faixa na semifinal da Copa, contra a Alemanha, no Mineirão. Não há símbolo maior do quanto a liderança do grupo de atletas é dividida na atual seleção.

Do outro lado, Lahm é o líder pelo exemplo. O lateral está em sua terceira Copa e representa muito do estilo de futebol que a Alemanha tenta impor em 2014. Está entre os líderes de passes na seleção que mais toca a bola no torneio, por exemplo.

Veja abaixo um pouco sobre a história dos capitães das seleções semifinalistas:

Jamie McDonald/Getty Images

No Brasil, os quatro capitães
Thiago Silva é incontestável. Além de ser um dos mais experientes, o zagueiro é uma das principais referências técnicas da seleção brasileira que disputa a Copa de 2014. O estilo dele só funciona, contudo, porque é apoiado de perto por outros líderes.

Convocado pela primeira vez em 2007, Thiago Silva foi o escolhido por Dunga para substituir o zagueiro Luisão, que sofreu lesão e foi cortado da Copa de 2010. Depois do Mundial da África do Sul, tornou-se titular absoluto da defesa nacional. Mas a faixa só foi parar no braço dele em 2012, quando veteranos como Júlio César, Lúcio e Robinho perderam espaço.

O perfil de Thiago Silva não tem nada a ver com Lúcio, capitão da seleção em 2010. O atual dono da faixa é assumidamente emotivo – chorou ao ouvir o hino nacional na Copa deste ano, por exemplo – e não costuma gritar com companheiros. Aliás, ao contrário: antes da disputa de pênaltis contra o Chile, nas oitavas de final, preferiu a introspecção e ainda pediu para não ser um dos cobradores.

Por tudo isso, Thiago Silva chegou a ser contestado. "Não tenho nada engasgado – muito pelo contrário. Não escutei muitas coisas. Mas eu acho que a coisa mais natural, essa pressão, esse comentário. Para mim, não vai agregar em nada, não vai me ajudar. Em termo de psicológico, a gente está bem. Quando a gente se entrega pelo o que a gente ama, é normal a gente descarregar. A pressão é muito grande para ganhar. Eu me entrego e a descarga foi por isso", respondeu o defensor em entrevista coletiva.

Apesar do perfil emotivo, Thiago Silva é o grande responsável por cobrar os outros jogadores da seleção. Mas ele tem companhia de outros três líderes – o técnico Luiz Felipe Scolari disse antes do início da Copa que a seleção tem quatro capitães. O comando do zagueiro do Paris Saint-Germain só funciona porque é balanceado por Júlio César, David Luiz e Fred.

Nesta terça-feira, contra a Alemanha, a faixa estará no braço de David Luiz. O zagueiro tem ascendência no grupo, tem sido um dos destaques individuais do Brasil na Copa e se tornou um dos protagonistas da competição. "[Liderar] faz parte do meu trabalho na seleção. Como muitos jogadores que estão há mais tempo no grupo, tenho o dever de ajudar. Adoro a responsabilidade", avisou o camisa 4.

EFE/EPA/ANSDREAS GEBERT

Na Alemanha, o capitão é o exemplo
Não houve dúvidas sobre o herdeiro da faixa de capitão da seleção alemã depois da aposentadoria do meia Michael Ballack. Tudo levou a braçadeira ao lateral direito Philipp Lahm, 30, que defende o Bayern de Munique. Numa geração que convive com longo jejum de títulos, ninguém representa mais dedicação do que o jogador.

Lahm é jogador do Bayern de Munique desde os 12 anos de idade. Como profissional, participou de um dos períodos mais vitoriosos da história do clube – tem seis títulos nacionais e uma taça da Liga dos Campeões da Uefa, por exemplo.

Na seleção alemã, Lahm é presença assídua desde a Eurocopa de 2004. Dois anos depois, marcou o primeiro gol da seleção na Copa do Mundo da Alemanha. Foi um dos destaques da seleção que chegou ao terceiro lugar.

O técnico da Alemanha já era Joachim Löw na Eurocopa de 2008. A essa altura, Lahm tinha assumido status de jogador fundamental para a seleção – foi dele, por exemplo, o gol que classificou a seleção para a decisão do torneio. Contudo, os germânicos perderam para a Espanha na disputa do título – e o lateral falhou em um dos gols.

Toda essa bagagem forjou Lahm como capitão da seleção alemã a partir da Copa de 2010. O lateral, que também atua como volante, conhece bem a história da equipe que não conquista um título desde a Eurocopa de 1996. Também tem trajetória vitoriosa no clube e um grau de dedicação que impressiona. "Ele simplesmente não consegue jogar mal", disse Hermann Gerland, auxiliar-técnico da equipe nacional, ao jornal inglês "The Guardian".

"É dever de qualquer líder levar as ideias do técnico para o campo e colocá-las em prática. Então, meu papel é de mediador ou de comunicador", ponderou Lahm à revista alemã "Spiegel".

A liderança de Lahm na Alemanha é incontestável, mas só se sustenta porque ele tem suporte dos outros jogadores experientes. Nomes como Lukas Podolski, Miroslav Klose e Bastian Schweinsteiger, companheiro do ala no Bayern de Munique , são alicerces para o capitão.

A Alemanha é o time que mais troca passes na Copa de 2014, e Lahm é o líder do torneio nesse fundamento. Não há número que defina melhor o estilo do capitão do que esse: o lateral é exemplo e símbolo de uma geração que aposta na solidariedade.

Flávio Florido/UOL

Na Argentina, o capitão não é o chefe
A história da braçadeira de capitão da seleção argentina é um episódio fundamental para a construção da equipe de Alejandro Sabella. Em 2011, o técnico decidiu tirar a faixa do volante Javier Mascherano e entregá-la a Lionel Messi. Ali, depois de 61 jogos e 19 gols pela equipe nacional, o camisa 10 deixava de ser apenas a maior referência técnica. A simbologia disso foi enorme: a partir daquele momento, era oficialmente o time de Messi.

Dono da braçadeira desde 2008, Mascherano é apelidado de "Jefecito" ("Chefinho", em tradução livre). Esse diminutivo, contudo, não é uma forma de suavizar ou diminuir a ascendência que ele tem na seleção; deve-se apenas ao fato de o volante medir 1,71m.

Mascherano nunca reclamou publicamente por ter perdido a faixa. Além disso, não mudou em nada o comportamento no vestiário. Ex-capitão, seguiu sendo um dos jogadores mais influentes na seleção argentina.

Antes da vitória por 1 a 0 sobre a Bélgica, válida pelas quartas de final da Copa, foi Mascherano o responsável pelo discurso voltado a inflamar os jogadores. Segundo o jornal argentino "Olé", o volante teria dito que a seleção precisava ganhar porque estava "cansado de comer m...", alusão aos 24 anos sem disputar uma semifinal de Copa. Questionado sobre isso em entrevista coletiva, o meio-campista tergiversou: "O que se diz na intimidade fica na intimidade".

Nas entrevistas e no campo, Mascherano é um dos jogadores argentinos que mais falam. Entretanto, a faixa de capitão é de Messi, cuja personalidade oscila entre a discrição e a introspecção. Os dois são companheiros no Barcelona, e o camisa 10 também é o favorito a herdar a braçadeira catalã – Puyol, antigo dono, encerrou a carreira; Xavi e Valdés, que estavam entre os primeiros na linha de sucessão, deixaram a equipe.

"Não há uma reunião importante com a cúpula em que os jogadores prescindam de Messi. Se há algo a discutir que afete o grupo, os principais líderes sempre vão falar com ele. O melhor do mundo não pode estar à margem", escreveu em 2013 o jornal catalão "Mundo Deportivo".

No Barcelona e na seleção argentina, a liderança de Messi é técnica, mas também simbólica. O camisa 10 usa a faixa de capitão porque os times são dele. Nesse caso, o adereço é uma demonstração de status.

Gabriel Bouys/AFP Photo

Na Holanda, o capitão representa o técnico
Não existe um símbolo maior do trabalho de Louis van Gaal na seleção holandesa do que o atacante Robin van Persie. O jogador do Manchester United tem 30 anos e frequenta convocações da equipe nacional desde 2005, mas nunca teve o status que atingiu com o atual comandante.

Em 2010, Van Persie não era unanimidade sequer entre os titulares da Holanda. O atacante era frequentemente deslocado para o lado esquerdo e convivia com críticas pela falta de gols – balançou as redes apenas uma vez na Copa da África do Sul, por exemplo.

Van Persie chegou a perder a posição para Huntelaar depois da Copa, mas tudo depois da Eurocopa de 2012. Então vice-campeã mundial, a Holanda foi eliminada na primeira fase do torneio continental. Isso encerrou o trabalho do técnico Bert Van Marwijk, que foi substituído por Van Gaal.

O capitão da Holanda até agosto de 2013 era Wesley Sneijder, que tinha sido o grande jogador da seleção na Copa de 2010. Camisa 10 e principal articulador, o dono da faixa era uma escolha similar ao processo que conduziu Messi ao posto na Argentina: nunca foi um dos expansivos do grupo, mas tinha motivos técnicos para ficar com o adereço.

Van Persie está longe de ser uma personalidade agregadora. Temperamental, o atacante tem histórico conturbado – quando era mais jovem, principalmente – e já até trocou ofensas com o goleiro Tim Krul, herói da Holanda nas quartas de final.

A escolha do capitão de Van Gaal, portanto, é um símbolo do trabalho que o técnico desenvolve. Van Persie virou homem de confiança do treinador a ponto de ter se tornado o favorito a ficar com a faixa de capitão também no Manchester United – depois da Copa, o treinador assumirá o comando do time em que o jogador atua.

E a possível escolha de Van Persie, é claro, já tem causado polêmica. "Não há ninguém no elenco atual que você possa olhar e dizer que é o próximo capitão do Manchester United. No passado sempre houve candidatos, mas hoje você não sabe", opinou Andy Cole, ex-jogador da equipe inglesa, ao jornal "Daily Star".

Na Holanda, Van Persie não chegou a ser contestado. O atacante foi artilheiro da seleção nas Eliminatórias para a Copa de 2014, e isso deu respaldo. Além disso, o capitão recebe suporte de outros jogadores experientes. Os quatro principais são o zagueiro Ron Vlaar, 29, o volante Nigel De Jong, 29, o atacante Arjen Robben, 30, e o próprio Sneijder.

A escolha do capitão na Holanda é uma questão de confiança. Van Gaal divide a liderança do grupo entre vários jogadores experientes, mas o principal responsável pela condução é o próprio treinador.



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