Na rota metrô-Itaquerão, 5 razões pelas quais a Copa não será esquecida

Vanessa Ruiz

Do UOL, em São Paulo

Faltam quatro jogos e menos de uma semana para o final da Copa do Mundo do Brasil. Em Itaquera, zona Leste de São Paulo, o clima já é de nostalgia mesmo o bairro ainda tendo um jogo para sediar. Nesta quarta-feira, Argentina e Holanda disputam, no Itaquerão, uma vaga na final.

Desde o início da Copa, já foram quatro os dias de folga sem jogo algum. A reportagem do UOL Esporte esteve no entorno da arena no intervalo entre as oitavas e as quartas de final para conversar com comerciantes, moradores e visitantes sobre o "legado" da construção do estádio, termo tão batido mas que encontra na realidade uma ressonância.

Tendo percorrido o trecho entre as estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera do metrô, nossa reportagem testemunhou o encantamento com a experiência proporcionada pela Copa, mesmo que entremeado com críticas.

Em Itaquera, o balanço do maior evento esportivo sediado pelo Brasil desde 1950 inclui o descontentamento com os gastos exacerbados diante da inflação e da ausência de serviços públicos de qualidade, mas também tem espaço a satisfação por ter vivido um evento que, de uma hora para outra, trouxe o mundo todo a um bairro pouco visitado e "colocou a ZL no mapa", como definiu Wesley Mariano, morador do Cohab I, o conjunto habitacional entre a estação Artur Alvim do metrô e o estádio, que foi todo decorado para a Copa.

Na visão dos antigos e novos frequentadores da área, o Mundial deixa, sim, a sua herança. E parece até que vai deixar uma ponta de saudade também.

Vanessa Ruiz/UOL

1. Bares de cara nova

O bar do Oliveira é o primeiro na calçada da direita da Radial Leste para quem sai do metrô Artur Alvim seguindo as placas em direção ao estádio. "Nos dias de jogos aqui, faturei três vezes mais", gaba-se José Oliveira Lima, o proprietário. Ele narra com empolgação a recepção de tantos estrangeiros, os sem ingresso durante os jogos e os esfomeados saídos do Itaquerão ao som do apito final. Para Oliveira, a grande benesse foi da fabricante de bebidas que pintou todos os bares na rota metrô-estádio. Alguns cobraram "cachê" para receber a tinta vermelha, mas não Oliveira: "Não cobrei mesmo. Olha como ficou mais bonito! Antes, os bares estavam todos caídos. Agora ficaram muito mais apresentáveis", diz, ao lado da camisa verde e amarela com seu nome, da réplica da bola oficial Brazuca e de uma chuteira, todas emolduradas e doadas como decoração pela marca de cerveja.

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2. Emocionante, inesquecível

Estas duas palavras foram usadas por todos os entrevistados com mais de 18 anos, de modo que nossa reportagem achou por bem incluí-las na lista representando a categoria dos "legados intangíveis". Um pouco mais adiante do bar do Oliveira está a loja "Central Girls", que vende roupas femininas, mas passou a vender perucas, apitos, faixas de cabelo e toda sorte de adereços verdes e amarelos durante a Copa. O que chama a atenção mesmo, no entanto, é o entusiasmo do gerente Cezar Augusto logo que começa a falar de sua experiência pessoal. Ele saca do balcão uma máquina fotográfica e mostra as fotos de multidão em vários ângulos diferentes, até chegar aos registros de sua ida ao estádio para Coreia e Bélgica. Cezar levou a mãe, de 67 anos: "Ficamos em êxtase. O mundo passou por aqui! Vamos ficar com saudade de tudo isso".

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3. Praça, iluminação, passarela... e a vontade de viajar

Caminhando mais um pouco, damos de cara com quatro garotos empinando pipa. Eles são moradores do Cohab 1, o conjunto habitacional grafitado com símbolos das Copas vencidas pelo Brasil, cujas imagens rodaram o mundo. Gabriel Tadeu, 17 anos, Rafael Rodrigues, de 18, Wesley Mariano, 16, e Rene Brito, de 18 anos, desatam a falar sobre o quanto o bairro melhorou por causa do Itaquerão. "Isso aqui", apontam para a calçada, "era tudo mato! Tinha mendigo, era muito feio. Agora tem iluminação, tem a passarela". Os meninos posam com as camisas da Coreia e do Chile que trocaram com os gringos que passaram por ali. Ficaram para a região as melhorias e algo mais: "Os estrangeiros foram muito legais. Deu muito mais vontade de viajar, agora", diz Wesley.

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4. Passamos uma boa impressão

Cristina de Paula tem 44 anos e é moradora da Penha, mas vai sempre ao Shopping Metrô Itaquera. "Me senti chique com o metrô falando inglês", brinca. Ela se sente orgulhosa da imagem que o Brasil passou aos visitantes de outros países: "Eu via que eles estavam todos muito felizes, eram muito atenciosos quando a gente pedia para tirar foto. Eu tirei com mexicano, belga, coreano, uruguaio!". Na visão de Cristina, o que fica é a vivência do contato com as outras culturas e a sensação de dever cumprido: "Acredito que deixamos uma impressão muito boa".

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5. Novo ponto turístico

Estamos finalmente na praça que separa a passarela de acesso ao metrô Itaquera do estádio. Sem a enorme concentração de torcedores, o espaço mostra-se muito mais amplo que em dias de jogo. É metro quadrado suficiente para todos os tipos de pose dos turistas que visitam este novo ponto de interesse na cidade. O casal Antônio Jesus e Priscila Garcia Linhares veio de Santo André para conhecer o estádio. Antônio é são-paulino, mas rendeu-se à casa do rival Corinthians: "Me disseram que era longe, mas é muito mais fácil chegar aqui do que ao Morumbi!". Os quatro torcedores da Colômbia também estavam animados: "Estádio de Copa do Mundo é sempre um ponto que os fãs de futebol têm de visitar".

Vanessa Ruiz/UOL

BÔNUS: O cachorro quente obrigatório de São Paulo?

O quiosque WDog fica em uma das saídas do metrô Itaquera, ponto de enorme concentração em dias de jogo, e ganhou a atenção da mídia do Brasil e do mundo com seus cachorros quentes temáticos de países da Copa. "Sem dúvidas, o que mais saiu foi o de feijoada, o do Brasil", conta o proprietário Wesley Machado. A partir das quartas de final, ele criou novos recheios com base nos confrontos eliminatórios, e os hot dogs passaram a cair do menu junto com suas seleções. Se ele não ganhou muito dinheiro "porque o investimento também foi muito alto", Wesley colocou uma meta de médio prazo para compensar: "Não querendo desmerecer o Mercado Municipal, mas tem lá o sanduíche de mortadela que nem é uma coisa brasileira, mas é muito famoso. Por que não colocar o cachorro quente de feijoada nessa rota?".

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