Bélgica usa Copa para turbinar comércio com o Brasil e unir regiões rivais
Danilo Valentini
Do UOL, em São Paulo
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AFP PHOTO / CHRISTOPHE SIMON
Jogadores da Bélgica celembram com seus torcedores a classifcação para as quartas
A classificação para as quartas de final da Copa do Mundo de 2014, conquistada a duras penas contra os Estados Unidos, escancarou o sorriso de Didier Vanderhasselt, cônsul-geral da Bélgica em São Paulo. A volta de sua seleção às quartas depois de 28 anos era a oportunidade perfeita para atacar de frente duas questões caras ao país: o racha cultural que divide regiões e resvala no desejo de separação territorial e política e a falta de conhecimento dos produtos e serviços que a Bélgica fornece ao Brasil sem que muitos saibam da importância deles na economia do país-sede do Mundial.
País com um pouco mais de 11 milhões de habitantes e com o 13º PIB per capita do mundo (em ranking de 2013 do FMI, em que Luxemburgo aparece em primeiro e o Brasil, em 61º), a Bélgica tem dois dos três portos mais movimentados da Europa, é referência e dona de 80% do mercado de diamante e na produção de maquinários. Mesmo assim, o governo belga acha que falta divulgação de suas qualidades.
"Temos a tradição de sermos zebra, e isso tem lá suas vantagens. Porque estamos espalhados, somos os camaleões da economia internacional", diz Didier Vanderhasselt, responsável por acelerar acordos que viabilizam o intercâmbio de negócios entre Bélgica e Brasil. "Nossos produtos não são muito conhecidos, e a Copa do Mundo é fantástica para divulgar as nossas tradições de abertura econômica". O diplomata lembra, por exemplo, que a famosa ponte Santa Efigênia, toda feita em aço e inaugurada no centro de São Paulo em 1913, foi produzida na Bélgica e despachada ao Brasil por via marítima.
Com uma presença de até 100 empresas no Brasil, a Bélgica procura mostrar mais do que sua excelência na produção de cervejas e chocolates, produtos que frequentemente são temas de eventos e workshops organizados por aqui pela missão diplomática belga. "Temos uma tradição industrial grande, exportamos itens de tecnologia, formamos funcionários de portos. Chegou a hora de mostrarmos quem nós somos e o que fazemos", declarou Vanderhasselt.
O caminho que liga a Bélgica ao Brasil, porém, tem entraves que vão além dos comerciais. "Estamos neste momento sem voos diretos entre os dois países. Estamos trabalhando para retomarmos esta conexão, mas ainda não sabemos para quando vamos conseguir", afirmou o diplomata belga, satisfeito com outros, e mais profundos, efeitos positivos que a campanha da Bélgica pode produzir para o país.
A Bélgica é um país dividido por três regiões: (Flanders, ao norte, em que o idioma é o flamengo, como o holandês é chamado), Valônia (ao sul, onde a população fala francês) e Bruxelas (capital do país e bilíngue).
Nos últimos anos, acentuou-se a divisão entre as regiões e os conflitos entre moradores das diferentes regiões. As comemorações pelo desempenho da Bélgica na Copa, porém, parece ter provocado o efeito de intervalo na questão.
"Estamos todos juntos neste momento, fora da política e de todas as discussões que derivam daí. Mas a Copa está suscitando um sentimento de união entre todos na Bélgica. Todos juntos com os 'Diabos Vermelhos'", anunciou Vanderhasselt, citando a forma como a seleção é conhecida no país e que terá pela frente a Argentina, neste sábado, às 13h, em Brasília. "No último jogo (contra os EUA) apresentamos um time top. E isto é só início para nós", diz, euforicamente, o diplomata, torcendo por um jogo contra a vizinha Holanda nas semifinais. "Temos uma relação amistosa, seria um jogo de vizinhos que se gostam, se tratam bem. Seria saudável, fantástico".