Argélia, EUA e Gana quase venceram Alemanha. E eles não tinham Neymar
Guilherme Palenzuela
Do UOL, em São Paulo
O Brasil perdeu Neymar, o super-heroi da nação. A comoção pela lesão que tira o protagonista dessa seleção e queridinho do país inteiro não é descabida: Neymar é o melhor do time, aquele que mais contribui para que as bolas balancem as redes adversárias. Como poderia o Brasil, sem Neymar, vencer a poderosa a Alemanha? Está longe de ser impossível. Nesta Copa do Mundo, equipes muito inferiores à seleção brasileira em termos técnicos quase derrubaram os alemães. Foi o caso da Argélia, Estados Unidos e Gana, seleções que passam longe de ter um Neymar entre os titulares.
Gana, na fase de grupos, foi quem mais chegou perto de derrotar a Alemanha: empatou 2 a 2. Mas não foi o adversário que melhor jogou. A atuação a ser comparada à que a seleção brasileira deve ter é a da Argélia, do técnico bósnio Vahid Halilhodzic, nas oitavas de final. Segurou o jogo em 0 a 0 por 90 minutos e exigiu a prorrogação dos alemães para ceder a classificação. E os argelinos, apesar de passarem menos tempo com a bola e chutarem menos, tiveram as principais chances do jogo antes dos gols saírem no tempo extra.
O segredo para a atuação da Argélia contra a Alemanha foi a rigidez tática no 4-2-3-1, com pouquíssima mobilidade e liberdade. Os mapas de calor da partida demonstrados na página de estatísticas do jogo, no site da Fifa, mostram que os jogadores argelinos se moveram muito menos das posições que ocupam naturalmente e cederam pouquíssimos espaços. A Argélia contou com apenas 37% da posse de bola, executou menos da metade dos passes dos alemães, e mesmo assim chegou mais de dez vezes com perigo. As jogadas, repetidas, se concentraram em passes curtos no meio de campo que atraíram os alemães e fizeram sobrar espaços na defesa para bolas alçadas aos atacantes.
A Argélia não tem nenhum Neymar. Longe disso. Nem um zagueiro como Thiago Silva ou David Luiz. Ou laterais como Daniel Alves ou Marcelo. Ou volantes como Luiz Gustavo ou Paulinho. Tem o ótimo meia Sofiane Feghouli, camisa 10, mas que seria reserva na seleção brasileira, no máximo. A Alemanha venceu o jogo por 2 a 1, mas ficou perto da desclassificação.
Na última partida da fase de grupos, contra os Estados Unidos – do técnico alemão Jurgen Klinsmann –, a Alemanha também defrontou uma equipe que adotou total rigidez tática. A mesma característica é mostrada nos mapas de calor da partida, pela Fifa. A seleção norte-americana jogou no 4-1-4-1, parecido com o 4-2-3-1 argelino. Os Estados Unidos, no entanto, não conseguiram ter a mesma facilidade para finalizar. Chegaram muito pouco ao gol de Manuel Neuer e foram derrotados por 1 a 0. Mas seguraram, sofreram gol no segundo tempo.
Gana, que conseguiu o empate, não respeitou qualquer rigidez. Jogou mais aberta do que a própria Alemanha, ao ataque. Ficaram no 2 a 2, mas no dia em que os alemães apresentaram o pior futebol da Copa. Amostra perigosa, e provavelmente infiel à realidade, para que o Brasil consiga analisar carências do adversário em uma semifinal.
Outro exemplo que demonstra que é possível vencer a Alemanha sem Neymar é a atuação da França na tarde de sexta-feira, horas antes do Brasil superar a Colômbia. Os franceses também estão desprovidos do craque: Franck Ribery não jogou a Copa. E mesmo assim criaram perigo. Foram melhores: 50% de posse de bola com mais chutes a gols, mas perderam na bola parada, por 1 a 0.
Seja qual for o escolhido por Felipão, entre Willian, Bernard, Hernanes ou qualquer outro, ele certamente será melhor dentro das qualidades individuais do que qualquer reserva de Argélia, Estados Unidos ou Gana. E se essas três equipes tão inferiores ao Brasil na teoria criaram dificuldades para a Alemanha, a demonstração é clara de que a ausência de Neymar não representa derrota antecipada.
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