Dezenas de torcedores faziam fila debaixo de sol forte na tarde desta quarta-feira (2) na porta do centro de distribuição de ingressos da Copa montado pela Fifa em Brasília. Não há mais entradas disponíveis para nenhum jogo no estádio Mané Garrincha -- a arena ainda recebe o confronto entre Argentina e Bélgica pelas quartas no sábado (5) e a disputa do terceiro lugar no dia 12 -- mas a esperança é a última que morre na 'fila dos desesperados', conforme foi batizada pelos próprios torcedores.

Isso por que, de acordo com a Fifa, torcedores que compraram ingressos para as fases finais e tiveram suas seleções eliminadas tem a opção de devolver as entradas, que voltam para o sistema de vendas da Fifa e ficam disponíveis para novos compradores. A tentativa de aquisição pode ser feita por meio do site da entidade ou pessoalmente, nos postos de distribuição de ingressos nas cidades-sede do Mundial.

Apesar disso, nesta quarta não havia aparecido nem uma única entrada disponível para quem aguardava por ali, conforme anunciou um funcionário do local por volta das 17h. "Gente, hoje não apareceu nenhuma entrada por aqui e não há previsão de que apareça", dizia ele tentando minar as esperanças dos torcedores da fila. "Sinceramente, a chance de conseguir um ingresso aqui é a mesma de ganhar na megasena".

Ainda assim a maioria dos torcedores ali não arredou o pé, e fez questão de insistir mesmo com sol forte e um calor de 30 graus Celsius. A organização distribuiu guarda-sóis para ajudar os torcedores. Pelo menos 30 pessoas chegaram a ficar na fila durante a tarde.

O vendedor Raimundo Rodriguez de Souza, de 55 anos, estava no segundo dia consecutivo de tentativa. "Vim ontem e fiquei das 10h às 18h, mas não apareceu nenhum ingresso para Brasília, só em outras cidades", disse. "Hoje também cheguei às 10h mas, pelo que o rapaz disse, não vai sair nenhum. Acho que vou voltar amanhã".

O sistema de venda para torcedores que tentam adquirir as entradas pessoalmente é literalmente uma loteria. Após esperar na fila cercada por grades na porta -- o que pode levar algumas horas -- o torcedor aguarda mais cerca de 15 minutos em um fila interna, dentro do centro de distribuição de ingressos, até chegar ao balcão. Ali, ele espera por cinco minutos e torce para "pingar" um ingresso no sistema da Fifa. Caso isso não aconteça, como na maioria dos casos, tem que ir embora e, se quiser, volta para o fim da fila na rua.

Entre os que tinham esperança de conseguir ingressos por ali nesta quarta, três torcedores argentinos uniformizados -- dois brasileiros "simpatizantes" e um portenho de verdade. "Isso aqui é muito ingrato, mas é minha última esperança", diz o comerciante Danilo Silva, de 33 anos, brasileiro, nascido e criado em Brasília, de família gaúcha, mas torcedor da Argentina. "Se der Brasil e Argentina na final, torcemos para a Argentina, sem dúvida".

"Admiramos o estilo de vida, o rock deles e a raça que eles tem no futebol", afirma o músico Ricardo Silva, de 30 anos, irmão de Danilo. Uniformizados, os irmãos "vira-casaca" desistiram da fila depois de uma tentativa sem sucesso no balcão. "Vamos tentar pela internet de madrugada, acho que teremos mais chances", disse Ricardo.

O torcedor Gutierrez Borges, advogado de Buenos Aires de 48 anos, conta que chegou a Brasília na manhã desta quarta-feira e está disposto a tudo para conseguir acompanhar o jogo de sábado ao vivo. "Vou passar o dia aqui", afirmou por volta das 17h. O centro de ingressos fecharia às 21h30. "Se não der, vou passar a noite na internet e, se também não der, vou repetir essa rotina até sábado. Em último caso, vou tentar encontrar um cambista na porta do estádio e rezar pra comprar um ingresso verdadeiro".