Ataque inoperante faz Felipão cogitar entrar na onda do 'falso 9'

Fernando Duarte e Paulo Passos

Do UOL, em Teresópolis

Ao assumir a seleção brasileira em 2012, o técnico Luiz Felipe Scolari afirmou que não abriria mão de jogar como um centroavante clássico. No entanto, o treinador já admite flexibilizar o ataque da seleção com o uso de um "falso nove" como alternativa de jogo para a busca de gols na partida contra a Colômbia, sexta-feira, em Fortaleza.

Felipão ainda não pretende iniciar o jogo sem Fred ou Jô, os dois homens de área que tem convocado desde a Copa das Confederações, mas a preocupação com a falta de pontaria dos dois jogadores já o faz repensar justamente a alternativa que enterrou quando voltou ao comando do time.

Nos últimos meses da gestão de seu antecessor, Mano Menezes, a seleção por algumas vezes testou um sistema sem um homem de área. Num de seus últimos jogos no comando (a vitória de 4 a 0 sobre o Japão, em outubro de 2012),  o ataque brasileiro foi formado por Kaká, Oscar, Hulk e Neymar, com Leandro Damião, centroavante de ofício, esquentando banco.

Felipão, porém, assumiu o cargo um mês depois já afirmando que não abriria mão de jogar com um 9 mais clássico. Meses mais tarde, reenfatizou. "Dentro das minhas concepções, eu sempre gostei de ter um jogador mais enfiado", afirmou Felipão na sua primeira convocação na volta à seleção, em fevereiro de 2013.

Alegou que as características do futebol brasileiro não permitiram um experimento como o de Mano. O treinador viu sua aposta em Fred vingada na campanha da Copa das Confederações, quando os cinco gols marcados pelo centroavante do Fluminense superaram até os de Neymar, o maior artilheiro da seleção pós-2010.

Um ano depois, Fred esteve prestes a se transformar estatisticamente no pior centroavante brasileiro em Copas, mas se redimiu com um gol na partida contra Camarões, a terceira do Brasil num Mundial que está sendo marcado pela ascensão do 'falso nove'. Um momento simbólico, por sinal, foi a partida em que a Alemanha goleou Portugal por 4 a 0 em Salvador, iniciando o jogo sem um centroavante pela primeira vez em 80 anos de participações em Copas - o escolhido foi Mesut Ozil, o meia-atacante do Arsenal, Inglaterra.

Tostão, o pioneiro

Revolução nacional, a decisão tática do técnico Joachim Low foi tardia no que diz respeito à tendência mundial. O falso nove, o jogador que pode até ser um atacante, mas que não tem a grande área como território exclusivo de atuação, virou febre nos times disputando a Copa no Brasil. O torneio tem duas grandes exceções e uma delas é justamente o camisa nove da seleção brasileira.

A outra foi Diego Costa, que não poderia ter ficado mais deslocado numa seleção espanhola em que sua espinha dorsal, formada por jogadores do Real Madrid e do Barcelona, esteve programa para atuar sem um homem de área ortodoxo. E uma espiadela na lista de artilheiros do Mundial mostra que tais jogadores têm esbarrado na evolução do futebol. É preciso descer na lista para encontrar o mais prolífico "homem de área" do Mundial. Ele é Mário Mandzukic, da já eliminada Croácia, autor de dois gols. A parte de cima da lista está apinhada de atacantes mais móveis ou de meias polivalentes como o alemão Thomas Muller.

Abrir mão de um centroavante foi a solução encontrada por treinadores para vencer retrancas na forma de trocas rápidas de passes e de posicionamentos por conta da dificuldade dos adversários em fechar espaços. Não é fórmula mágica, tanto que o Barcelona, que desde 2010 joga neste sistema, nos últimos dois anos teve sérios problemas em competições nacionais e internacionais, apesar de seu falso nove ser ninguém menos que Lionel Messi. A posição tampouco surgiu apenas no século 21: em 1970, a seleção brasileira tricampeã mundial tinha com a camisa nove um certo Tostão, meia-atacante transformado por Zagallo num pivô de luxo.

O falso nove surge como solução para a falta de um homem-gol em forma. Um problema que o futebol brasileiro vem experimentando desde a Copa do Mundo de 2010, quando Luís Fabiano era a única opção convincente de ataque, mas que se agravou no ciclo de preparação para 2014. Dos oito gols marcados pela seleção na Copa, apenas o de Fred foi marcado por um centroavante. Neymar (quatro), Oscar, David Luiz e Fernandinho contribuíram com os outros.

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