Loucos por futebol, os iraquianos acompanham a Copa apesar das bombas

Das agências internacionais

Em Bagdá (Iraque)

  • AFP PHOTO/AHMAD AL-RUBAYE

    Iraquianos acompanham Argélia e Alemanha, pelas oitavas da Copa, em Bagdá

    Iraquianos acompanham Argélia e Alemanha, pelas oitavas da Copa, em Bagdá

No Facebook Café de Bagdá, com o olhar vidrado na televisão e aspirando com avidez seu narguilê na tarde de domingo, Raad Abdel Hussein está tão preocupado com "sua" seleção, Holanda, quanto com a ameaça de uma bomba.

"O futebol nos une", explica este motorista de ônibus de 30 anos, que todos os dias vai ao mesmo café para acompanhar as partidas com seus amigos. "Para nós, é a única maneira de escapar das preocupações, das tensões e do medo do desconhecido", acrescenta.

"A qualquer momento um carro ou uma bomba pode explodir, ou alguém pode entrar no café com um colete de explosivos", prossegue, enquanto observa com preocupação a Holanda em desvantagem no placar contra o México pelas oitavas de final. A seleção laranja consegue reverter uma situação dramática nos minutos finais e vence por 2 a 1.

O Mundial do Brasil é disputado no momento em que o Iraque, assolado há vários meses por uma espiral de violência, sofre uma forte ofensiva jihadista. A partir de 9 de junho, insurgentes liderados por combatentes do Estado Islâmico (EI), junto com tribos sunitas aliadas e ex-oficiais do Exército do regime deposto de Saddam Hussein, começaram a tomar o controle de parte do território diante de forças de segurança incapazes de conter seu avanço.

De acordo com dados oficiais, cerca de 2.000 pessoas morreram em todo o país em junho, e mais de um milhão tiveram que fugir de suas casas neste ano.

Mas até a convocação de um porta-voz do Estado Islâmico para que os jihadistas "marchassem" para a capital iraquiana não dissuadiu os habitantes de Bagdá de acompanhar os jogos da Copa do Mundo.

'Futebol é vida'

Os cafés, as mesquitas, os mercados e outros lugares que reúnem um grande número de pessoas são particularmente perigosos por serem considerados com frequência alvos de ataques com bombas, inclusive antes da ofensiva jihadista.

Pelo menos 50 estabelecimentos foram atacados com bombas em seis meses no ano passado. Autoridades de segurança iraquianas chegaram a organizar um seminário para ajudar os proprietários de cafés a localizar e deter os autores de tentativas de atentados.

Mas "o ambiente (da Copa) é melhor fora de casa", explica Osama Salem, um vendedor de 31 anos. "A Copa do Mundo é realizada a cada quatro anos. O que vamos fazer? Vamos ficar sentados em casa e ignoramos a Copa por medo?".

"Se Deus quiser, este suplício vai acabar", acrescenta Salem, concluindo: "Se chegar a hora de morrer, vou morrer, independentemente de onde estiver".

Em um país profundamente dividido, o futebol é um dos escassos vetores de unidade. Um momento marcante ganhou destaque no mundo inteiro em 2007, quando a seleção nacional conquistou a Copa da Ásia liderada pelo treinador brasileiro Jorvan Vieira, em pleno conflito religioso entre xiitas e sunitas que deixou dezenas de milhares de mortos. "O futebol é vida para os iraquianos", diz entusiasmado Ali Hussein, de 21 anos, funcionário do Facebook Café.

"Nós lembramos de 2007, quando todos foram para a rua, sunitas, xiitas, curdos... Todos estavam apoiando a equipe", acrescenta. "E se o Iraque se classificar para o próximo Mundial, talvez isso possa nos unir outra vez".

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