Brasil sensível de Felipão bate e chuta mais que time estressado de Dunga
Fernando Duarte
Do UOL, em São Paulo
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Flavio Florido/UOL
Felipão vibra ao lado de Neymar em prantos após o jogo contra o Chile
São dois times à beira de um ataque de nervos. A diferença da seleção brasileira que Dunga levou à Copa do Mundo de 2010 e a que está em casa sob o comando de Felipão é o teor e o modo de implosão. Enquanto a equipe de quatro anos atrás mostrou para o mundo apenas numa partida (as quartas-de-final) seu despreparo emocional, o time que tenta pela primeira vez conquistar uma Copa do Mundo como país-sede vem ao longo das quatro partidas disputadas até agora exibindo sinais preocupantes de descontrole.
Mas em meio a lágrimas e entoadas passionais do Hino Nacional, a seleção de Felipão mostra um perfil mais ofensivo e faltoso que a de Dunga. O time da África do Sul teve um desempenho muito menos conturbado na primeira fase que o de Felipão – chegou a última rodada classificado – e nas oitavas-de-final despachou o Chile sem maiores problemas (3 a 0). Mas marcou os mesmo sete pontos que a equipe de 2014.
O Brasil de Dunga levou oito cartões amarelos e um vermelho, cometendo 78 faltas e recebendo 76. Já o de Felipão, com uma partida a menos, também recebeu oito amarelos e cometeu 65 faltas. Nas médias, o time de Felipão "bate" mais (16,25 faltas por partida) contra 15,6 da equipe de Dunga. Número que sugerem uma "pegada" semelhante ao menos na perseguição à bola. Outro dado interessante é que Julio Cesar em 2010 precisou fazer 13 defesas. Em 2014, foram apenas seis até agora. As duas equipes também têm níveis de posse de bola semelhantes: 56% em 2010 e 53% agora.
Mas há uma diferença gritante no ímpeto ofensivo: o time de 2010 chutou a gol 89 vezes em cinco partidas, mandando 31 bolas na direção do gol, enquanto Neymar & cia, que chutaram só 70, viram 48 tentativas chegar perto do alvo. No número de ataques, a seleção de Felipão registra 190 ações, mas que o dobro dos 72 creditados ao Brasil de 2010 pelo levantamento estatístico da Fifa – por sinal, o Brasil de Neymar foi mais à frente até que a Espanha de Xavi e Iniesta campeã na África do Sul - foram 112 os ataques armados pelo tiki-taka.
Nas quatro partidas no Brasil, a seleção marcou oito gols e sofreu três, contra 9/2 do time de Dunga, mas chega às quartas-de-final sob uma pressão maior que a enfrentada há quatro anos. Uma diferença pode estar na própria composição do grupo: enquanto a seleção de Dunga tinha oito remanescentes da Copa do Mundo de 2006, e cinco deles foram titulares na África do Sul, o time de Scolari sofreu uma das maiores renovações dos últimos mundiais.
Apenas seis jogadores com alguma experiência de Copa estão no grupo de Felipão em 2014. Deles, estão no time titular Julio César, Daniel Alves, Thiago Silva e Fred, mas apenas o goleiro atuou como titular na competição anterior – Silva, por exemplo, assistiu ao Mundial de 2010 do banco, sem entrar uma única vez. Uma configuração que expôs a seleção ainda mais para o torneio em que o favoritismo e a pressão por resultados está sendo bem maior que na África do Sul. Até mesmo por culpa do próprio posicionamento da comissão técnica, com declarações sobre a obrigatoriedade de vencer ou mesmo a frase em que o coordenador-técnico Carlos Alberto Parreira disse ver a seleção "com uma mão na taça".