Neymar pai terá hoje a conversa pré-jogo mais importante com seu garoto
Ricardo Perrone
Do UOL, em Belo Horizonte
Duas horas antes de entrar em campo neste sábado, às 13h, para sua primeira partida de mata-mata numa Copa do Mundo, Neymar tem um compromisso que para ele só perde em importância justamente para o jogo contra o Chile. Ele precisa falar por alguns minutos com seu pai pelo telefone, mantendo um ritual que começou logo no início de sua carreira.
O ponto alto do contato pelo celular é uma oração feita por ambos. Porém, Neymar pai também fala palavras de incentivo para o filho. Segundo três pessoas que conhecem os hábitos do atleta, o craque também ouve conselhos "boleiros", sobre o jogo, algo que o estafe do camisa 10 da seleção brasileira nega.
Se repetir o que tem dito nos últimos dias, Neymar pai deve falar para o filho não se incomodar com eventuais provocações dos chilenos. E não perder a cabeça se levar pontapé. A preocupação é evitar que um momento de descontrole se converta no segundo cartão amarelo dele na Copa. Suspenso, ele perderia as quartas de final, caso o Brasil avance.
O tom da conversa deve ser semelhante ao de quando Neymar Júnior tinha 14 anos e ouvia de seu pai para se divertir em campo e responder às caneladas dos outros moleques com dribles.
A conversa com o pai é o principal ritual do atacante em dia de jogos. Virou até cena de comercial na televisão. Fora isso, o jogador repete poucos hábitos antes de entrar em campo, segundo amigos do craque. Outra mania é ouvir música num volume que vaza dos fones de ouvido. Nos tempos de Santos, a música alta chegava a incomodar o treinador Muricy Ramalho, que não reclamava por ver que seu principal jogador contagiava alegremente os colegas no vestiário.
Naquela época, a relação entre pai e filho já chamava a atenção de todos em volta do jovem promissor. Na verdade, até antes disso, quando o garoto tinha 13 anos e ao ser acordado para os jogos rolava na cama agarrado ao pai.
Nos primeiros passos como profissional, as brincadeiras deram lugar ao controle total do pai sobre a carreira do filho. Aos poucos, ele se cercou de profissionais que cuidavam de tudo para que Neymar se preocupasse apenas em jogar bola. Tanto que quando o atacante foi para o Barcelona, cerca de cinco funcionários do Santos deixaram o clube. Eles só cuidavam do camisa 11 do time. E seguem trabalhando para que o craque não tenha nenhuma preocupação. Ele precisa ter tudo à mão. Até um helicóptero para levar seus amigos para a Granja Comary, concentração da seleção brasileira, como aconteceu na folga após a vitória sobre Camarões.
Além do helicóptero, o jogador do Barcelona tem um avião. Mas quem cuida de pagar as contas é o pai, com seu estafe, pois ele segue administrando o dinheiro do atacante.
Pai, funcionários e amigos estão quase sempre por perto do jogador. Em Belo Horizonte, local da partida com o Chile, chegaram nesta sexta à tarde. Junto com outros parentes do jogador e o empresário do atacante, Wagner Ribeiro, se hospedaram no hotel da seleção. O hábito vem desde a época do Santos, que por contrato era obrigado a pagar passagem e estadia para o pai ver o filho atuar pelo time nacional.
A diferença é que agora o Barcelona não banca as viagens. E não se trata mais de amistosos, Copa América ou Olimpíada. Neymar pai terá neste sábado a sua conversa pré-jogo mais importante com seu garoto até agora. É dia de manter vivo o sonho do título Mundial ou de amargar a eliminação em casa.