Ídolos uruguaios vão da teoria de armação pró Brasil a revolta com Suárez
José Ricardo Leite e Vanderlei Lima
Do UOL, em Fortaleza (CE) e São Paulo
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Wander Roberto/VIPCOMM
Suárez contra o Brasil em 2013; atacante levou críticas de ex-goleiro por mordidas
Críticas para todos os lados, lamentos, inconformismo e teoria da conspiração. Isso é uma parte do que alguns dos grandes ídolos do Uruguai entendem da suspensão de Luis Suárez, principal jogador do time, que não atuará mais na Copa do Mundo de 2014 - levou gancho de nove partidas e quatro meses afastado dos gramados. Teve também quem não perdoa Luisito e ficou indignado com o que fez.
O mais ácido nas críticas contra a punição foi Pablo Forlán, que atuou dez anos pela Celeste e marcou época no São Paulo na década de 70. Pai de Diego Forlán, provável substituto de Suarez nas oitavas de final contra a Colômbia, ele disse até que não descarta que haja uma conspiração para favorecer Brasil e Argentina no torneio. Lembrou que Neymar deu uma cotovelada em um jogador da Croácia na primeira partida e nada foi feito.
"A Fifa está querendo tirar o Uruguai. Por que não se discute a cotovelada do Neymar [contra a Croácia]? Por que não fizeram um ofício e enviaram para a Fifa? Todos os jogadores estão na mesma condição de suspensão, ou não é assim? Está em todas as redes sociais a cotovelada do Neymar, por que a Fifa não puniu? O Suárez errou, não estou dizendo que não. Só que têm que ser justo. Eu entendo que estão criando brecha para Brasil e Argentina ", falou.
"Pra mim foi injusto. Sem dúvida querem o Uruguai fora do Mundial, e para o que eles não querem ver, colocam uma venda. [Suárez] errou; agora escuta bem, eu não estou falando que o que ele fez contra o italiano foi certo, o que não está sendo certo é a Fifa não punir outros jogadores como o Neymar, o jogador da França que deu uma cotovelada em um equatoriano", esbravejou Fórlan.
Outro ex-ídolo uruguaio e também ex-jogador do São Paulo foi duro nas críticas da decisão do comitê disciplinar, mas não quis dizer algo sobre um plano para favorecer algum país ou que a Celeste esteja sendo vítima de alguma armação. Dario Pereyra disse que foi um absurdo a punição e que Suárez foi tratado quase que como um bandido.
"Foi um absurdo terem punido dessa forma. Ele errou, cometeu uma agressão, mas teve outros casos de cabeçadas e cotoveladas que foram iguais a essa. Foi tratado de uma forma diferente, criminosa, como se tivesse matado um cara. O zagueiro saiu andando. Foi uma agressão, mas já teve soco, cabeçada e ninguém foi punido. Isso é uma coisa absurda, trataram ele como criminoso", reclamou o zagueiro uruguaio da Copa do Mundo de 1986.
"É muito estranho. É muito estranho. O Pepe deu uma cabeçada no chão, e foi um jogo. Não tem sentido. Qual a diferença de cotovelada e de uma mordida? O italiano não saiu do jogo. Não entendi isso, mas no Uruguai estão todos revoltados. Poderiam ter dado só uns três jogos de punição pra ele. Mas não sei [sobre favorecimento ao Brasil ou outra seleção]. Não tem como falar alguma coisa, até porque o Uruguai tem que passar pela Colômbia. Não tem como analisar assim", prosseguiu.
Já o ex-goleiro Rodolfo Rodríguez destoou dos demais uruguaios e demonstrou mais indignação com a mordida de Suárez do que com a punição que ele levou. O ex-arqueiro de Santos, campeão da Copa América de 1983 com a Celeste, entende que Suárez precisa até de ajuda psicológica para parar com essas mordidas.
"Não foi brasileiro que mordeu um italiano, não estou vendo conspiração nenhuma para o Brasil. O pênalti [contra a Croácia] é um erro de jogo. Nós uruguaios sempre vamos nos sentir perseguidos, mas nenhum brasileiro dá uma mordida em campo. Não foi o Brasil quem fez conspiração nenhuma. O jogador pode errar, mas três vezes? Dar três mordidas em momentos diferentes da carreira? Que é isso", esbravejou o ex-goleiro.
"O que ele fez não está certo. Em 22 anos de carreira, nunca vi jogador ficar mordendo outro. O povo fala e opina com o coração, mas é difícil de defendê-lo nesse caso. Ele tem que ser punido sim, se foi muito ou pouco é com a Fifa. Ficar mordendo os outros é uma coisa preocupante, ele precisa de alguma assistência psicológica, um cara com uma carreira brilhante como essa não pode fazer isso", disparou.
A suspensão de Suárez será cumprida durante a Copa-2014 e nos jogos seguintes da seleção uruguaia, como partidas oficiais. Assim, além dos jogos de Copa que a equipe fizer, contarão neste gancho os duelos na Copa América e eliminatórias.
A Federação Uruguaia já havia informado que apelaria de qualquer decisão e terá 21 dias para isso. Mas, enquanto houver um processo, ele tem que cumprir a pena, ou seja, não poderá voltar a atuar no Mundial. Em clubes, o banimento não vale para transferências. Ele pode mudar de clube - o Barcelona está de olho no atacante -, mas também teria de ficar afastado das atividades.
"Luis Suárez foi considerado culpado por quebrar a regra estipulada no artigo 48 parágrafo 1 do código disciplinar da Fifa, e o artigo 57. Ele está suspenso por nove partidas. A primeira partida da suspensão será servida no próximo jogo da Copa do Mundo entre Uruguai e Colômbia", disse a Fifa, em comunicado, citando que este número serve para jogos de seleção.
O Uruguai enfrenta a Colômbia, nos sábado, às 17h, no Maracanã, pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 2014. O vencedor deste duelo encara nas quartas de final quem passar do jogo entre Brasil e Chile, que jogam no mesmo dia, às 13h, em Belo Horizonte.