Ressurreição da Espanha já tem nome após o adeus da geração supercampeã
Guilherme Palenzuela
Do UOL, em Curitiba
Não poderia ter nome mais sugestivo o candidato favorito a reerguer uma seleção espanhola no novo ciclo após a eliminação precoce na Copa do Mundo de 2014: Jorge Resurrección. Ou Koke, meio-campista de 22 anos, caçula deste grupo espanhol que veio ao Brasil, titular na vitória de despedida contra a Austrália, por 3 a 0, em Curitiba. Sim, ele tem "ressurreição" no nome. E já é considerado o nome mais importante da nova safra, que terá de lidar com um dos mais intensos processos de reformulação da história depois de ver Xavi, Iker Casillas, David Villa e provavelmente Andrés Iniesta jogarem a Copa pela última vez.
A reformulação espanhola começa por Koke, jogador do Atlético de Madri, mas passa necessariamente por outros nomes. Jorge Resurrección, como não é conhecido, não pode ser chamado nem de meia, nem de volante. Um problema de nomenclatura enfrentado eternamente por Xavi – sem comparações –, mas por uma virtude: Koké pode jogar em todas as posições do meio de campo, do setor defensivo à armação do jogo, e até nas pontas direita e esquerda. É completo. Não é lá muito rápido, nem muito forte, mas passa a bola como um espanhol, tem ótima técnica, é criativo, marca e desarma, corre durante todo o jogo. A versatilidade se reflete nas atuações: segundo volante responsável pela marcação no jogo contra a Austrália, agora, e ponta esquerda do Atlético de Madri na final da Liga dos Campeões, há três semanas.
Apesar de permitir tantas possibilidades táticas, o lugar de Koke está bem definido no processo de ressurreição da seleção espanhola. Será o substituto de Xavi. A tarefa de cumprir o papel deixado pelo maior jogador da história de seu país é a mais cruel possível. Koke inicia um novo ciclo com o domínio espanhol contestado em campo, com um tiki-taka derrotado, sem um escudeiro como Andrés Iniesta e também desamparado de atletas decisivos como Iker Casillas e David Villa. Não irá reerguer o time sozinho.
O goleiro da seleção espanhola na Copa de 2018, na Rússia, só não será David De Gea, do Manchester United, caso surja um jovem espanhol espetacular até lá. Aos 23 anos, De Gea é titular do gigante inglês e foi o terceiro da posição em 2014. Iker Casillas (33) e Pepe Reina (31) já dão sinais de decadência. Se chegarem a 2018, estarão em nível inferior. A missão de De Gea, como para Koke, será uma das mais difíceis. Substituir aquele que virou santo para um país inteiro e permaneceu por 12 anos como titular.
A linha de defesa espanhola é a que menos sofrerá mudanças dentre os setores do time nos próximos anos. O técnico Vicente Del Bosque começou a Copa de 2014 com Cesar Azpilicueta (24), Sergio Ramos (28), Gerard Piqué (27) e Jordi Alba (25). Todos eles têm condições de chegar a 2018, e em bom nível. Para o setor, ainda poderão aparecer Dani Carvajal (22), do Real Madrid, Iñigo Martínez (23), do Real Sociedad, e Alberto Moreno (21), do Sevilla, que já competiram para viajar ao Brasil.
O meio campo, de Koke, perde Xavi e Iniesta, os dois craques dos últimos anos, mas tem peças importantes e já conhecidas para promover a reformulação. Cesc Fàbregas (27), de volta à Inglaterra para jogar no Chelsea, voltará a ser titular. O primeiro volante Sergio Busquets (25), do Barcelona, mantém o posto como um dos principais atletas da equipe. É regular no clube e na seleção, e poderá até atuar na linha de defesa caso o meio esteja superpopulado. Isso porque outro atleta, que só não jogou esta Copa porque se lesionou, tem tudo para ser titular: Thiago Alcântara, o filho do ex-meia Mazinho, hoje um dos principais atletas do Bayern de Munique de Pep Guardiola, na Alemanha. Aos 23 anos, ele também deverá conduzir o processo de renovação.
Outra peça promissora para o futuro meio da seleção espanhola é Isco (22), do Real Madrid. O jovem atua na equipe campeã da Europa, compete com Cristiano Ronaldo, Ángel Di Maria e Gareth Bale, e mesmo assim sempre encontra espaços no time. Atua centralizado, como Thiago, mas pode jogar pelas laterais do setor ofensivo. Para terefas um pouco mais defensivas – mas nem tanto – aparece um trio basco: Ander Iturraspe (25) e Ander Herrera (24), do Athletic Bilbao, são opções já consideradas para fazer o que Koke terá de fazer, e Asier Illarramendi (24), do Real Madrid, é a alternativa futura para desempanhar aquilo que Xabi Alonso fez durante anos.
No mesmo setor, ficam da atual geração Juan Mata (26), David Silva (28) e Pedro (26). O primeiro pode finalmente liderar a equipe espanhola caso reencontre os melhores momentos no Manchester United. O segundo, já realizado no rival Manchester City e na própria seleção, lutará contra a idade para jogar em 2018. Pedro, do Barcelona, deverá permanecer como opção. E novamente longe do protagonismo.
Os concorrentes jovens do trio, no entanto, serão fortes. Gerard Deulofeu, de 20 anos, encanta diretoria e torcedores do Barcelona pelo potencial que mostra. Jogou a última temporada emprestado ao Everton, da Inglaterra, e aumentou a expectativa. Tanto que já foi reintegrado ao Barça, para atuar ao lado de Lionel Messi, a partir do mês de julho para a temporada 2014-2015. É rápido e driblador, e atua nas pontas direita e esquerda.
Para as pontas, essenciais no jogo espanhol desde a Eurocopa de 2008, ainda surgem outras opções promissoras e que já tiveram o primeiro contato com a seleção principal. É o caso do basco Iker Muniaín, de 21 anos, do Athletic. É destro, joga pela esquerda e corta em direção ao gol. Passou por todas as seleções nacionais de base e chegou a ser convocado para a principal por Vicente Del Bosque.
O novo ciclo espanhol deverá ainda contar com um jogador nascido no Rio de Janeiro. É o brasileiro Rodrigo, naturalizado espanhol. O atacante de 23 anos jogou anos na base de clubes espanhóis e hoje defende o Benfica – negocia saída para o Valencia. Também passou por todas as seleções inferiores. Além dele, Jesé (21) do Real Madrid, e Cristian Tello (22), do Barcelona, são outros nomes que serão cogitados.
Os maiores problemas para o futuro espanhol estão no comando do ataque. O cenário é totalmente favorável para que o brasileiro Diego Costa (25) permaneça com a titularidade. Principalmente caso não cesse a própria evolução após ótima temporada pelo Atlético de Madri. Não haverá mais David Villa nem Fernando Torres. Fernando Llorente (29) e Álvaro Negredo (28), cogitados para a Copa, dificilmente farão parte do novo ciclo. A opção para o futuro é Álvaro Morata, de 21 anos, do Real Madrid. O centroavante lembra os primeiros passos de Fernando Morientes, já ganha minutos no ao lado de Cristiano Ronaldo há duas temporadas e tem mostrado evolução.