Itália joga decisão para provar que existe vida além do 'catenaccio'

Do UOL, em São Paulo

Quando a Itália pisar do gramado da Arena das Dunas, às 13h (de Brasília) desta terça-feira, muita coisa estará em jogo além da classificação para a próxima fase, disputada diretamente com o Uruguai.

Estará em provação a experiência do técnico Cesare Prandelli, que pode virar uma página e começar a escrever um novo capítulo na história do futebol italiano. O técnico vem mudando o estilo de jogo de um time acostumado tradicionalmente a apenas se defender e apostar no contra-ataque. Contrariando uma história quase centenária, a Itália de Prandelli é uma Itália que, pasme!, gosta também de jogar no ataque.

Isso é uma mudança e tanto para um país que presenteou a terminologia do futebol com o conceito de "catenaccio", que significa literalmente "porta trancada". Esse estilo de jogo que nasceu na Suíça e ganhou o mundo por pés italianos preconiza a defesa acima de tudo. A estratégia não vê problema em colocar, se necessário, onze jogadores dentro da área para evitar gols.

Com a bola, a única possibilidade ofensiva é o contra-ataque rápido. Sem a bola, o time se fecha em uma retranca. A criação do estilo é atribuída ao suíço Karl Rappan, técnico do Grasshopers e depois da seleção de seu país, na década de 1930. Mas ganhou fama com a Inter de Milão bicampeã europeia na época.

Foi com o "catenaccio", ou variações dele, que a seleção italiana conquistou suas maiores glórias, incluindo o último título mundial, na Alemanha (após uma final sem gols com a França).

Mas quando Prandelli assumiu a seleção em 2010, traumatizada pela eliminação na primeira fase da Copa da África do Sul, ele prometia uma revolução. O jogo italiano seria mais ofensivo e menos preocupado em montar retrancas.

"Não se deve parar em um só esquema tático, sempre há uma evolução, sempre há um movimento", disse o treinador no ano passado, três anos depois do início da experiência. "Devemos ser competentes para procurar os pontos frágeis dos adversários. Não se deve adaptar-se só para se defender, mas para contra-atacar", completou.

A nova estratégia, mais atualizada ao gosto do futebol moderno (velocidade, passes curtos, transição dinâmica entre os setores do campo e controle da posse de bola) foi testada e avalizada por bons resultados, como o vice-campeonato da Eurocopa em 2012.

"Não vemos mais times que não dão nenhuma chance ao adversário. A cada partida você deve oferecer quatro ou cinco chances de gol, mas deve criar seis ou sete. Esse é o futebol da atualidade", afirmou o treinador.

Seu trabalho no comando da seleção tentou incutir uma nova perspectiva na mente de seus jogadores, segundo a qual o time deve estar apto a mudar o esquema tático de acordo com as deficiências do adversário e, possivelmente, no decorrer de uma mesma partida.

Variação

Na estrada rumo ao Brasil, Prandelli sofreu um duro golpe ao perder lesionado o meio-campista Riccardo Montolivo, peça central em seu desenho tático. Montolivo atuava como um pivô entre as linhas de defesa e constantemente mudava de posição com o regente Andrea Pirlo, em uma tentativa de confundir a marcação adversária.

Sem Montolivo, Prandelli treinou De Rossi para fazer uma função parecida. Contra a Inglaterra, no jogo de estreia da Copa, ele dividiu essa responsabilidade com outros atletas, como Candreva e Verratti, todos auxiliando Pirlo na armação das jogadas. No final, vitória por 2 a 1.

A nova Itália sofreu um duro golpe ao ser derrotada pela surpreendente Costa Rica no jogo seguinte, mas o grande teste acontecerá nesta terça-feira.

Um simples empate com o Uruguai levará o time para as oitavas, embora uma derrota não seja um resultado totalmente inesperado. Com três pontos no grupo D, os dois times brigam pela única vaga ainda disponível, já que a Costa Rica já está classificada. O Placar UOL Esporte transmitirá a partida em Tempo Real.

Mas há uma dimensão quase filosófica por trás dela. Como Prandelli tem tentado explicar aos italianos, o jogo é, acima de tudo, ofensivo, e o gol, mais do que um mero detalhe. As portas trancadas do "catenaccio" rangem apenas no passado.

Na Arena das Dunas, será possível ver se a Itália aprendeu. Uma tragédia, uma nova eliminação precoce em Copa, pode colocar tudo a perder.

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