Últimos a viver pressão no 3º jogo, Dinamite e Leão exaltam mudança no time
Adriano Wilkson e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
O Brasil precisa de pelo menos um empate contra Camarões para avançar às oitavas de final. Chegar ao terceiro jogo da Copa precisando de resultado para classificar-se não é muito comum na história da seleção brasileira. A última vez que isso havia acontecido foi em 1978, no Mundial da Argentina, quando dois empates nos jogos iniciais transformaram a terceira partida, contra a Áustria, em decisão antecipada.
Naquela ocasião, o técnico Cláudio Coutinho precisou mexer na escalação da equipe que vinha jogando e trouxe do banco o vascaíno Roberto Dinamite. Situação semelhante vive atualmente Luiz Felipe Scolari, que pode mudar seus titulares, embora relute em fazê-lo.
Há 36 anos, Dinamite fez o gol da vitória sobre os austríacos. Ele seria titular ao lado de Jorge Mendonça, que também saíra do banco, pelo resto da campanha. E o Brasil só não chegou à final por causa da controversa goleada da Argentina sobre o Peru.
Hoje, Dinamite afirma que a mudança no time foi fundamental para reverter o início ruim.
"E pra mim em particular ter entrado naquele jogo e feito o gol foi inacreditável. O futebol apresenta esse tipo de situação. A partir daquele jogo o time teve a confiança de buscar o resultado, o que o time cresceu depois dessa partida... se fortaleceu, saiu em busca dos resultados, só não chegamos [na final] porque teve carta marcada", afirma o hoje presidente do Vasco, se referindo à controversa goleada da Argentina que levou o time da casa à final.
Emerson Leão, goleiro em 1978 e um dos líderes do elenco, também atesta a importância do terceiro jogo para a campanha. "Depois daquele jogo contra a Áustria, nós fizemos a nossa identidade de caminhar pra frente apesar dos adversários serem bons, passamos e nós tínhamos capacidade para isso."
Uma das explicações para a mexida que Coutinho fez na equipe está no gramado do estádio José Maria Minella, em Mar del Plata, onde o time havia feito os dois primeiros jogos e onde jogaria também o terceiro.
"O gramado não era bom", lembra Dinamite. "A grama não tinha fixado direito e isso prejudicava os jogadores mais leves, como o Zico. Então no terceiro entramos eu e o Mendonça, mais pesados, era mais fácil se manter em pé."
Em pé, Dinamite (então apenas Roberto) recebeu um cruzamento da direita e, dentro da área, entre três austríacos, chutou forte para fazer o único gol do jogo, aquele que eximiu o time de repetir um vexame que acontecera 12 anos antes.
O trauma na Inglaterra
Em 1966, a seleção brasileira, bicampeã mundial, chegou a Inglaterra para defender o título, mas foi eliminada após o terceiro jogo, engolida por Portugal de Eusébio.
Dinamite nega que essa tragédia tenha assombrado o time de 1978 nas vésperas do jogo decisivo contra a Áustria, embora admita que, bem no fundo, um jogador sente medo de ficar marcado pelo fracasso.
"Não dá pra ficar pensando no que aconteceu. Os jogadores que estavam ali [em 1978], o nosso foco era diferente. É claro que essa coisa deve passar na cabeça de todo jogador. Ele ali sozinho, no fundo do vestiário, pode passar. Mas na frente do grupo o foco é outro."
"Eu acho que hoje o Brasil está muito imbuído de buscar esse resultado contra Camarões. A vitória vai nos colocar numa situação de crescimento dentro da Copa, reaproximar o time da torcida e dar a confiança necessária para ir avançando até a final", diz Dinamite.