Carência e números deixam Messi de 2014 mais perto de Maradona de 86

Jeremias Wernek

Do UOL, em Belo Horizonte

  • Ronald Martinez/Getty Images

    Má fase de outros atacantes redobra responsabilidade e analogia com título conquistado por Maradona

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A comparação entre Maradona e Messi não é nova. A expectativa de que o atual camisa 10 repita os passos do ídolo mais velho também não é pequena. E o gol salvador contra o Irã, nos acréscimos, aumentou tudo isso. A Argentina atual é, sem dúvida, a mais dependente de um só nome desde os tempos de Dieguito.

Em 2010 Tévez dividiu o fardo. Quatro anos antes, a equipe ainda tinha Riquelme e Aimar. Na Coreia e no Japão, em 2002, Marcelo Bielsa contava com Ortega, Batistuta, Claudio López e até Caniggia, já veterano. Uma geração que também atuou no Mundial da França. Agora, o fraco rendimento de Agüero, Di Maria e Higuain nos primeiros jogos da Copa transfere para Messi uma dose extra de responsabilidade.

Pois os números de momento e algumas coincidências ajudam os que acreditam na repetição do filme de 1986. Em ambas as estreias os craques foram personagens. Messi, neste quesito, foi além de Maradona. E na segunda partida também teve roteiro sendo repetido.

Foi Messi quem cobrou a falta que resultou no primeiro gol contra da Bósnia-Herzegovina, no Maracanã. Maradona, no México, também bateu uma falta da intermediária e serviu o que seria o segundo gol da Argentina em cima da Coreia do Sul, anotado por Ruggieri. Na estreia deste ano o camisa 10 ainda balançou a rede. Em 86, os hermanos marcaram mais dois e venceram por 3 a 1.

Na segunda rodada de cada Copa, nova coincidência. Messi garantiu o triunfo suado em cima do Irã, no Mineirão, com um chute preciso nos acréscimos. Vinte e oito anos atrás, Maradona balançou a rede perto do intervalo e empatou o jogo com a Itália, em Puebla.

"Messi tem 26 anos (completa 27 na próxima terça-feira), está na plenitude de sua carreira. O time tem boas peças ofensivas, setor onde estão os chamados 'quatro fantásticos'. E a analogia dele com o Maradona de 1986 pode se confirmar, sim", aposta Mariano Echegoyen, da ESPN Argentina.

O problema é que a pobreza do futebol apresentado pelo time de Alejandro Sabella tem deixado os argentinos bem céticos. Nem mesmo a figura de um salvador, de um gênio, satisfaz. A comparação entre Messi e Maradona também não serve de consolo.

"Maradona foi determinante no México, sem dúvida. Mas lá existia uma estrutura importante de time e não vejo isso agora", diz Feno Tartaglia, repórter da rádio América y Closs.

Há quase três décadas, Carlos Bilardo armou um time com três zagueiros. Definiu que o lado direito iria marcar e deixou o outro flanco do campo jogar. Deu liberdade para Maradona e ainda contou com Burruchaga e Valdano. Dois nomes importantes na campanha, mas ofuscados pelos gols e assistências do ícone máximo. E bem menos consagrados que os companheiros de Messi.

"Não dá para descartar este cenário. Aquela seleção contou com jogadores desconhecidos à época. Mas, sem dúvida, foi um grupo unido e que se constituiu assim, explorando muito bem o Maradona. É uma opção para esse time de agora", opina Juan Pablo Ferrari, do jornal Hoy, de La Plata.

Em 1986, Maradona finalizou a Copa com cinco assistências para gol. Além da atuação histórica contra a Inglaterra, nas quartas de final. Partida onde marcou o famoso gol com a 'mão de Deus' e ainda fez fila na defesa inglesa. Messi ainda está devendo isso.

"A situação da seleção é preocupante. Esperávamos outro rendimento, especialmente no jogo contra o Irã. O que nos preocupa é o nível individual de alguns jogadores. Se debateu o esquema de jogo, o 5-3-2 ou o 4-3-3, mas assim nenhum esquema tático vai render", teoriza Tartaglia.

A próxima oportunidade para Messi seguir os passos de Maradona, como guia até o título, será contra a Nigéria, na quarta-feira (25) em Porto Alegre. Mas ele já entrará com uma exigência de pelo menos dar uma assistência. Em 1986, no terceiro jogo da Argentina na Copa, o camisa 10 deu uma passe milimétrico para Burruchaga fechar o escore contra a Bulgária em 2 a 0.

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