Muçulmanos usam iPhone e tecnologia para encontrarem Meca durante a Copa

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

  • Marinho Saldanha/UOL

    Jornalistas da Argélia rezam durante atividades profissionais em Porto Alegre guiados pelo I-Phone

    Jornalistas da Argélia rezam durante atividades profissionais em Porto Alegre guiados pelo I-Phone

Precisamente às 20h (horário de Brasília), os argelinos Mohamed e Hammou interromperam o trabalho e começaram a rezar. Independentemente das reportagens que precisam produzir, dos poucos minutos que têm para entrar no ar, eles tiraram os calçados e recorreram ao iPhone para buscar a direção de Meca. Ajoelharam-se, curvaram-se encostando a testa no solo, e rezaram. A tradição muçulmana, com ajuda da tecnologia, foi cumprida, algo que é mais forte do que qualquer atribuição profissional.

Os muçulmanos fazem orações públicas cinco vezes ao dia, o chamado Salat. Quando o sol nasce, ao meio dia, quando o sol começa a se pôr, quando se põe completamente e ao menos uma hora depois do sol ter ido embora, explicou Mohamed à reportagem do UOL Esporte.
 
"Quando estamos em viagem podemos substituir as cinco orações por três, unimos pilares da religião", contou. 
 
O fervor com que seguem os preceitos da fé muçulmana não impede a compreensão do próximo. Mohamed é totalmente contra a intolerância e diz que as diferenças culturais engrandecem os povos.
 
"Não posso obrigar um judeu, um católico ou qualquer outro a ser muçulmano. Não posso me privar de conhecer outras culturas. Alá é muito bom, ele entende isso. Se ele não quisesse que outras pessoas existissem no mundo, não as teria criado. Eu, aqui no Brasil, falando com você brasileiro, ou com um coreano, fico mais rico culturalmente", contou. "O maior bem que se pode dar a outra pessoa é a felicidade. E se não posso dar a felicidade a todos, eu os respeito. Jamais tornarei alguém mais feliz sendo intolerante", contou. 
 
Mas ao mesmo tempo que esbanjou bondade, explicou que nem todos são assim na Argélia. Segundo ele, há muitos intolerantes que mancham a imagem dos muçulmanos. "Não somos todos extremistas. Eu penso que temos que mostrar este lado de fé, e de respeito", disse.
 
O uso da tecnologia substitui uma bússola, que acompanhava a maioria dos muçulmanos no passado. E quando o telefone não funciona, eles peguntam às pessoas onde nasce o sol, e a partir daí conseguem encontrar a direção de Meca.
 
"Se eu não rezo nas horas certas, não me sinto bem. É minha religião, parte do meu coração. Não consigo trabalhar. Já parei o trabalho no meio de um jogo e fiz minhas orações. Assim me sinto feliz", explicou. 
 
A seleção da Argélia segue o mesmo ritual. A equipe solicitou uma sala específica para orações no hotel onde está hospedada. Lá, setas nas paredes indicam a direção de Meca. Além disso, a gerência do hotel retirou todas as bebidas alcoólicas do andar onde estão os quartos dos argelinos. As refeições deles são produzidas em uma cozinha isolada e sob vistoria de um médico muçulmano. 
 
A Argélia enfrenta a Coreia do Sul no domingo às 16h, no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, pela segunda rodada do grupo H da Copa do Mundo.
 
Marinho Saldanha/UOL
Argelinos rezam no Centro de Mídia do estádio Beira-Rio
 

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