Veja 7 fatores que levaram a Espanha ao maior fiasco de um campeão do mundo
Fernando Duarte e Guilherme Palenzuela
Do UOL, no Rio de Janeiro e em Curitiba
Se não é qualquer geração que consegue dominar o mundo como a Espanha fez entre 2008 e 2012, também não são poucos os erros que fazem esse mesmo grupo de profissionais protagonizar o maior fiasco de um campeão mundial na história das Copas.
Erros que começam com a comissão técnica ignorando a passagem dos anos para alguns dos craques ou que outras fortíssimas seleções e seus técnicos já haviam encontrado maneiras de neutralizar o chato, repetitivo e arrogante mas também hipnotizante, estiloso e, claro, vitorioso toque de bola espanhol, o tiki-taka.
Veja 7 fatores que contribuíram para o fracasso da seleção espanhola no Brasil:
1. Tiki-taka ou Tico e Teco?
Houve divergência pública entre jogadores e comissão técnica após o massacre holandês. Dois dias após a estreia vexaminosa em Salvador, Xabi Alonso e Cesc Fàbregas pediram o fim do tiki-taka, estilo marcado pela posse de bola e troca de passes curtos. Não era qualquer coisa: tal sistema de jogo virou quase patrimônio cultural espanhol, e pedir o seu fim geraria discussão, como gerou. No dia seguinte, o meia Juan Mata discordou. Falou que a Espanha tinha que seguir jogando como de costume, sem alterações. O técnico Vicente Del Bosque reforçou: não mudaria a identidade do time por causa dos cinco gols sofridos.
2. Oito ou oitenta
A Espanha acabou influenciada sobre a recorrente discussão de concentração aberta ou fechada, tão conhecida pela seleção brasileira. Após dois episódios de festas e presença de mulheres nas concentrações em Fortaleza e Recife durante a Copa das Confederações, ano passado, neste ano a Espanha escolheu a sede mais isolada da Copa para ficar alojada e realizar os treinamentos durante a Copa do Mundo: o CT do Caju, do Atlético-PR, em Curitiba. Trocou abertura por reclusão. Perdeu do mesmo jeito.
3. Não sabia como reagir
Xabi Alonso explicou: depois do terceiro gol da Holanda na Arena Fonte Nova, os jogadores espanhóis enlouqueceram. A Fúria ganhou tudo desde 2008, tomou conta da bola e esqueceu o que era estar em desvantagem. O volante do Real Madrid, dos mais experientes atletas dessa seleção, confirmou que faltou preparo emocional e tático para prosseguir. "Respondemos mais com o coração do que com a cabeça. É um problema técnico, de concentração e de controlar situações que já havíamos antecipado", falou, antes mesmo do jogo contra o Chile.
4. Rivais tinham o antídoto
O tiki-taka que dominou o mundo encontrou no Brasil dois dos melhores técnicos do momento. E eles sabiam como derrubar o esquema espanhol. Entre vitórias e fiascos, o holandês Louis Van Gaal treinou o Barcelona entre 1997 e 2000 e 2002 e 2003 e conhecia o embrião do estilo que dominaria o mundo. Teve Pep Guardiola como jogador, titular absoluto de seu meio de campo. Neste Copa, Van Gaal desmontou qualquer tradição holandesa ao montar um time com cinco defensores, espaçoso, com pressão na zaga espanhola. Tirou Robben da ponta direita, seu lugar eterno, e o transformou num atacante versátil - tão influente quanto Cristiano Ronaldo e Lionel Messi para Real Madrid e Barcelona. Depois de Van Gaal, veio o argentino Jorge Sampaoli, técnico da seleção chilena que, há pouco tempo, deliciou a América do Sul com uma Universidad de Chile que jogava de forma extremamente parecida à Holanda de 2014. Discípulo da escola Marcelo Bielsa, Sampaoli também sabe exatamente o que fazer para desmontar seu próprio estilo.
5. Desdenhou da marcha inexorável do tempo
A Espanha chegou para o Mundial com um dos times mais velhos entre os favoritos ao título - a média de idade é de 27,8 anos, semelhante ao Brasil e inferior apenas à Argentina. Sete de seus jogadores tem 30 anos ou mais, incluindo Xavi Hernandez, que aos 35 sentiu os efeitos de uma temporada desgastante emocional e fisicamente com o Barcelona. O mais velho jogador do grupo acabou como bode expiatório e foi barrado pelo técnico Vicente Del Bosque da partida contra os chilenos. Mas o tempo também tirou o fôlego de Xabi Alonso, que depois de participar da campanha do Real Madrid para o título da Liga dos Campeões da Europa também não pareceu ter reservas de energia suficientes.
6. Morreu abraçada com Casillas
Jogador recordista em partidas pela seleção (155), o goleiro do Real Madrid não tem sido sombra do paredão que em 2010 foi fundamental na conquista do Mundial. Questionado até no Real Madrid, onde foi barrado diversas vezes, ele continuou absoluto na seleção, muito mais por uma questão de evitar problemas no grupo do que por méritos. O preço foi alto: na partida contra a Holanda, falhou clamorosamente no quarto gol dos holandeses e ajudou a colocar a Espanha num buraco de onde poucos times poderiam pensar em sair.
7. Diego Costa não era salvador da pátria
A Espanha enfrenta dificuldades para encontrar um camisa 9 não é de hoje. No Mundial de 2010, Fernando Torres, o escolhido de Del Bosque, não contribuiu com nenhum dos oito gols marcados pela Fúria rumo ao título mundial. Desiludidos com as opções nacionais, os espanhóis apelaram para a naturalização do brasileiro Diego Costa, que na última temporada europeia foi um dos destaques do Atlético de Madri campeão espanhol e vice-campeão da Liga dos Campeões. Costa, porém, pouco tinha a ver com o estilo de jogo espanhol. Mais marcado pelo uso da força que a pela categoria, ele se tornou um problema ainda maior para a seleção quando se lesionou no final da temporada e chegou fora de suas melhores condições.