Painel sobre impacto da Copa no Brasil constrange representante do governo

Mauricio Stycer

Do UOL, no Rio

Promovido pelo Centro Aberto de Mídia, uma estrutura de apoio a jornalistas montado pelo governo federal no Rio, o painel "Impacto dos grandes eventos na economia brasileira", realizado na manhã desta quinta-feira (19), acabou provocando constrangimento.

O painel contou com a participação do presidente da Embratur, Vicente Neto, e dos pesquisadores Lamartine da Costa, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), e Pedro Trengrouse, da FGV (Fundação Getulio Vargas).
 
Costa foi o mais enfático nas críticas à postura do governo brasileiro nas negociações com a Fifa para a realização da Copa do Mundo. Observou, inicialmente, que eventos como o Mundial de futebol e os Jogos Olímpicos "são insustentáveis da forma como são apresentados", justamente por conta das imposições feitas.
 
"Não é possível continuar no ritmo em que ele foi imposto", disse o pesquisador. "Mas está acontecendo uma mudança. Sete ou oito cidades já abandonaram a proposta de organizar Jogos Olimpicos de Inverno. Hanói acaba de desistir de fazer os Jogos Asiáticos de 2019", disse.
 
Costa também lamentou "a intervenção exagerada da Fifa nos assuntos nacionais". Lembrou que o Brasil tem uma tradição de 150 anos de diplomacia e criticou: "Essa discussão com a Fifa escapuliu da tradição brasileira. Fiquei chocado de ver uma pessoa ir à televisão cobrar resultados do governos brasileiros. É inaceitável", disse, referindo-se a Jerome Valcke, o secretário-geral da Fifa.
 
Trengrouse bateu na mesma tecla: "Não vemos evolução nenhuma com o Estado. Continua apenas obedecendo os requisitos da Fifa. Poderia propor ações do próprio interesse", observou. Na visão do pesquisador, um grande legado da Copa seria mudar a relação dos governos com estes eventos.
 
Ele deu dois exemplos. Na sua visão, o governo brasileiro deveria ter exigido que a Fifa discutisse problemas crônicos da estrutura do futebol brasileiro. Também deveria ter cobrado que a entidade destinasse mais recursos de seus programas para o desenvolvimento do futebol ao páis. "Pouquíssimo vem para o Brasil", disse.
 
As críticas dos pesquisadores provocaram respostas não apenas do presidente da Embratur, que estava na mesa, mas também de Fernando Thompson, secretário-adjunto de Imprensa da Presidência. "Não tem padrão Fifa de negociação com o governo brasileiro", disse Vicente Neto. "Não cabe a Embratur comentar pesquisas acadêmicas independentes", observou Thompson, que não fazia parte do painel.
 
O secretário-adjunto interferiu em diferentes momentos do encontro, acrescentando dados e respondendo diretamente a perguntas dos jornalistas. "Nos parece equivocado avaliar a evolução da sociedade brasileira em termos de Copa de Mundo. É importante deixar claro para os colegas estrangeiros: o investimento não está sendo feito para a Copa, mas para o povo brasileiro", disse.
 
Segundo Thompson, faz parte do seu trabalho fazer este tipo de interferência nos paineis do Centro Aberto de Mídia. "Não é um debate, é um briefing", explicou.

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