Bósnios transformam posto na praia de Copacabana em "Little Sarajevo"

Fernando Duarte

Do UOL, no Rio de Janeiro

Ivan Nikic precisa apenas se expressar por alguns segundos em inglês para que se perceba algo não diretamente sugerido pela camisa azul da Bósnia que ele traja na noite de Copacabana. Nascido em Sarajevo, o administrador de empresas passou mais de 10 de seus 30 anos nos EUA, para onde sua família emigrou em fuga da horrenda guerra civil que nos 90 arruinou o país. Seu sotaque já é quase americano e Nickic também adotou o beisebol como esporte. Só não pensou duas vezes em planejar a viagem para o Brasil tão logo a Bósnia se classificou para a Copa do Mundo de 2014.

A correria não foi motivada apenas pelo futebol e pela chance de encher a cara de caipirinha numa Copacabana que sempre pareceu mais ensolarada que o normal nos invernos bósnios. Assim como muitos dos torcedores do país que na noite de sexta-feira berravam canções a plenos pulmões num bar do Posto 6, Nickic tomou rumo do Brasil para celebrar uma revalidação da Independência da Bósnia. Apesar de ter decretado sua separação da Federação Iugoslava em 1992, é com a primeira participação na festa organizada por uma Fifa com mais membros que a ONU que os bósnios vêm a liberdade concretizada.

"É inacreditável estarmos aqui apenas 20 anos depois de tanta morte e tanto horror. Tínhamos que celebrar essa vitória. Nosso país tem pouco mais de três milhões de pessoas e agora vamos jogar uma Copa do Mundo no Brasil e enfrentar a Argentina no Maracanã. Ainda me parece um sonho", afirma Nikic, contendo o choro com muito esforço.

Os bósnios se tornaram um xodó neste Mundial. Na noite de Copacabana, tiveram até a companhia de torcedores argentinos numa cantoria que atraiu curiosos e até brasileiros tentando imitar foneticamente os cantos de torcida. O volume aumentava em relação diretamente proporcional à quantidade de álcool consumida. A guerra fez mais do que matar um total estimado em 150 mil pessoas e ferir cerca de 180 mil. Ela forçou duas gerações de bósnios a emigrar ou se refugiar. Este é o típico perfil dos torcedores que se encontram no Rio, o que ajuda a explicar o quão emocional as celebrações têm sido.

"Bósnios" de carteirinha, porém, também estão no Rio. Dzana Bazdarevic, de 25 anos, vive em Sarajevo e veio para o Rio liderando informalmente um grupo de torcedores por ser a única capaz de se expressar com fluência em inglês. Embrulhada na bandeira azul e amarela de seu país, Dzana castigava ainda mais a voz tentando "puxar" cantos de torcida como "Aquele que não está saltando odeia a Bósnia", que por conta do entusiasmo e do tamanho de alguns torcedores usando camisas de uma organizada da Bósnia, davam a impressão de que o chão tremia no Posto 6.

"Estivemos muito perto do Mundial de 2010, mas perdemos na repescagem para Portugal. Agora estamos aqui como vencedores do nosso grupo e temos um time que impõe respeito. Podemos e queremos jogar mais do que as três partida da primeira fase aqui no Brasil. Mesmo que isso vá doer no bolso", brinca Dzana. 

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