Anônimo no Brasil, ex-técnico vira celebridade para imprensa japonesa
Adriano Wilkson
Do UOL, em Sorocaba (SP)
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Adriano Wilkson/UOL
Ex-técnico Zé Carlos é entrevistado por japoneses após o treino da seleção japonesa em Sorocaba
Ninguém chamou mais atenção dos jornalistas no primeiro treino da seleção japonesa no Brasil do que José Carlos do Nascimento. Enrolado em uma bandeira do sol nascente e um álbum de figurinhas da Copa debaixo do braço, ele tinha ido ali apenas para pegar autógrafos e tietar os jogadores.
Mas, quando os holofotes do estádio municipal de Sorocaba se apagaram, Zé Carlos se viu cercado por mais ou menos 50 jornalistas orientais, ávidos por declarações.
Em japonês fluente após 17 anos vivendo lá, ele contava histórias sobre Yasuhito Endo, o homem que mais vestiu a camiseta da seleção japonesa na história. Adolescente, em 1997, Endo disse a Zé Carlos que queria mudar para o Brasil e aprender a jogar futebol com os melhores.
O brasileiro era o treinador do Kajitsu FC e de Endo. Os dois programaram uma viagem de intercâmbio na qual o volante passaria três meses no São Bento de Sorocaba para melhorar sua técnica atuando no "melhor futebol do mundo".
Zé Carlos ainda guarda o recorte de um jornal amarelado em cuja manchete se lê: "Japonês quer aprender no Azulão". O Azulão é o São Bento. Ao lado, a foto de um adolescente que anos depois se tornaria um dos principais jogadores do Japão.
Agora, duas Copas no currículo, Endo está de volta ao Brasil e a Sorocaba. Na zona mista atrás de uma das traves do estádio, ele conversa com jornalistas de seu país e chega devagar perto de onde Zé Carlos o espera com a bandeira japonesa.
Eles se abraçam. Endo ganha um tapinha no rosto. Conversam em japonês por alguns minutos. O volante sorri para fotos. Mais tarde, Zé Carlos dirá que ficou realmente emocionado ao reencontrar o jogador.
"Você não sabe como eu me sinto orgulhoso. Ele sempre teve muito talento, mas tinha essa coisa de não chegar junto na marcação. E eu dizia, 'Você tem que marcar forte, não dar espaço'. E ele aprendeu. Eu consigo sentir a importância que eu tive para a carreira dele. Fico muito emocionado de ver aonde ele chegou", disse o ex-técnico, hoje secretário de esporte de Pouso Alegre-MG.
"Esse cara é famoso no Japão", esclarece o jornalista Masato Suzuki do jornal Nikkei, de Tóquio. "Não apenas pelo Endo, mas também pelo trabalho que fez na descoberta de novos talentos". "Há alguns livros sobre o futebol japonês que contam a história dele", diz outro jornalista.
De fato, no comando do Kajitsu, Zé Carlos foi tricampeão nacional em sua categoria. Muitos de seus atletas chegaram à seleção nacional. Nenhum tão importante quanto Endo.
Sua passagem por Sorocaba foi rápida e o volante não aprendeu português, muito embora, dizem as pessoas da época, se comunicasse na "língua universal da bola". Ele não chegou a jogar oficialmente porque tinha apenas 17 anos.
No ano passado, Endo voltou a Sorocaba para a gravação de uma reportagem para a TV japonesa. Reiterou a importância desse intercâmbio para sua carreira, se declarou palmeirense no Brasil e disse que o São Bento estará para sempre em seu coração.
Durante a Copa, Endo, junto com a seleção estará concentrado em Itu, cidade vizinha a Sorocaba.